1. As primeiras comunidades cristãs
As primeiras comunidades cristãs nasceram com uma grande certeza que as sustentava e as impelia ao anúncio do Mistério de Cristo e ao cumprimento do que Ele próprio havia ordenado: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15). Essa certeza, que constituiu o conteúdo central do seu anúncio, o chamado kerigma, consiste na ressurreição de Jesus (cf. At 2,22-24). Portanto, o Mistério Pascal -com ênfase na Ressurreição do Crucificado- e suas consequências para a vida prática são o cerne, o foco mais importante da catequese, da liturgia e de toda a vida cristã.
2. Crer o que se reza, rezar o que se crê
O cristianismo nascente pouco a pouco foi se separando dos costumes judaicos, ainda que tenha conservado muitos dos seus elementos preciosos. A participação na sinagoga, o shabáth (sábado) e os rituais litúrgicos foram sendo substituídos por novas práticas. Os irmãos se encontravam nas casas e às escondidas, pois a “nova religião” não era aceita. Nesses encontros, aos domingos, faziam a memória da morte e ressurreição de Cristo, celebravam um rito muito simplificado que lembrava a última ceia, ouviam os ensinamentos dos apóstolos e de outros líderes, e procuravam tirar consequências práticas, éticas, para a vida cotidiana(cf. At 2,42-47). Não havia separação entre o que celebravam e o que acreditavam. Era na fonte pura da liturgia que se “bebia” o essencial a ser crido e professado. Durante muito tempo, os conteúdos da fé, que mais tarde foram compendiados nos catecismos, eram aprendidos e aprofundados nas celebrações litúrgicas. O catecumenato, processo de preparação de adultos para a vida cristã, congregava muito bem catequese, liturgia, inserção na comunidade, missão e testemunho da fé.
3. A triste história de um divórcio
O século IV d.C. trouxe consigo a obrigatoriedade do cristianismo em todo o império romano. O catecumenato foi se diluindo lentamente e, cada vez mais, foi se tornando comum o batismo de crianças. As grandes conquistas feitas pelo império romano traziam massas de homens e mulheres que deviam ser batizados e as comunidades cristãs não tinham estrutura para preparar bem tanta gente. A chamada “cristandade” começa a se impor.
Tudo, nesse período, “cheirava a sacristia”. Isto é, o grande crivo pelo qual passavam as expressões culturais, econômicas e sociais era o Cristianismo. Pinturas, construções, arte, literatura, música, festas...tudo refletia os ensinamentos dados pela religião cristã. Bastava olhar para um quadro, por exemplo, e já se via ali estampado algum motivo religioso. O que fugia disso caía na chamada “heresia”.
Quanto aos conteúdos da fé cristã, esses estavam diluídos nos elementos que compunham a cristandade, nas definições dogmáticas dos grandes concílios e, a partir do século X, nas obras que tinham por finalidade sistematizar a teologia. Os grandes estudiosos até podiam compreender esses assuntos, mas o povo foi ficando na ignorância.
Nascia-se cristão, como peixe nasce nadando, e não se julgava necessária uma catequese mais aprofundada; afinal a religião estava em tudo e era tudo. A liturgia foi ficando cada vez mais complexa e distante do povo, em muitos casos reduzida a um ritualismo bonito de se ver.
Pe. Vanildo de Paiva
Professor do Instituto Regional de Pastoral Catequética -IRPAC
01.06.2012