O resgate feito pelo Concílio Vaticano II na Liturgia
O documento conciliar Sacrossanto Concílio (SC) trata da liturgia e foi a primeira Constituição a ser aprovada. Foi uma verdadeira retomada do essencial na liturgia, ou seja, de toda a riqueza dos primeiros séculos da liturgia cristã. O ponto de partida está no resgate da centralidade do Mistério Pascal na ação litúrgica. Jesus Cristo é recolocado como o centro de toda a vida cristã – e, por isso mesmo, da liturgia – e como eixo da ação da Igreja, povo de Deus. Assim sendo, o que fundamenta toda e qualquer celebração litúrgica é o Mistério Pascal de Jesus Cristo e a sua atualização na vida do cristão.
Sacramentos e Mistério Pascal
Os sacramentos não podiam mais ser vistos simplesmente como remédios para situações emergenciais da vida do cristão, ou como mera conveniência social, mas como verdadeira participação da pessoa no Mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo, no qual ela também “morre e ressuscita” para uma vida nova. Infelizmente, muitos, ainda hoje, têm uma visão mágica dos sacramentos, o que denota uma deficiência na catequese de nosso povo. Quantos são aqueles que recorrem aos Sacramentos completamente alheios ao seu real significado e ao que a Igreja oferece através deles! Há, aqui, uma completa falta de sintonia entre a demanda dessas pessoas e a oferta da Igreja!
E o povo participa da liturgia?
Outra grande conquista da SC foi a participação plena, consciente e ativa de todo o povo nas celebrações litúrgicas (cf. SC 14). Foi dado por encerrado o tempo em que o povo “assistia” à missa, rezava o terço ou lia o livrinho devocional de “seu” santo favorito durante a celebração. Incentivou-se uma valorização dos ministérios diversos na liturgia e se permitiu que cada povo pudesse celebrar usando a sua própria língua e costumes, e não mais o latim. Também há, nesse aspecto, muito por fazer, e a formação da assembleia celebrante, seja na catequese ou na própria liturgia, ainda não foi suficiente para alcançar aquela consciência desejada pelo Concílio, embora tenhamos avançado bastante.
Palavra de Deus e Liturgia
A Palavra proclamada e explicada na liturgia foi outro elemento que muito favoreceu esse resgate da tradição litúrgica. Não somente na celebração da missa, mas em todos os demais sacramentos, a Palavra constitui momento forte de aprofundamento da fé e de catequese do povo. Inclusive as celebrações da Palavra, permitidas e incentivadas pelo Concílio, vieram fortalecer a vida de tantas comunidades, muitas das quais não têm a oportunidade da presença do padre ou da Eucaristia. Vivem da Palavra de Deus!
Valorizar o mistério celebrado
A Igreja voltou seu olhar para a liturgia, apontando-a como ponto de partida e ponto de chegada de toda a vida cristã (cf. SC 10). Desse modo, ela recuperou o seu posto de fonte da espiritualidade da Igreja e de “catecismo permanente”. A valorização do que se celebra encontrou ênfase sobre o aparato externo dos ritos, já saturados pelo formalismo, preocupação com rubricas, alfaias e objetos litúrgicos luxuosos... A experiência do Mistério Pascal, feita ao longo do ano litúrgico, insere o cristão num itinerário de fé e lhe possibilita adentrar no sentido da própria existência, a partir da contemplação da vida de Cristo e da sua relevância na sua história pessoal e comunitária.
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
(Esse texto foi originalmente publicado na Revista Brasileira de Catequese no. 129)