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Nesse mundo onde reina o imediato, o provisório e o descartável, esperar pode se tornar um fardo, por vez insuportável. Aquilo que se aponta como virtude para os cristãos é tido por incômodo para a cultura atual. Nesse caso, esperar gera cansaço, decepção, frustração. O tempo, que parece não findar entre o desejo que nasce no peito e a sua realização, se estica indefinidamente em algumas situações da vida. E tal como o elástico quando afrouxado, o tempo volta ao começo, pronto para se esticar novamente em sucessivos eventos que nos impõem a paciência. A espera se repete, se prolonga e mais uma vez se impõe.

Para o mundo pós-moderno em que se vive, aguardar não só é insuportável, mas também inevitável. A própria contingência e vulnerabilidade da condição humana o coloca nessa situação. Como seres do desejo e seres incompletos, os seres humanos são igualmente seres de espera. As palavras plenitude, perfeição e totalidade que tanto povoam as mentes, as artes, os discursos, são atributos que só caem bem ao homem no nicho do desejo. A Deus sim devem servir tais noções.

No caso cristão, esperar é virtude que se exercita. Deve ser assumida e cultivada, fortalecida como uma convicção, um modo de viver. Mas o que não é inato ao ser humano, em Deus se encontra transbordante. Deus espera, mas de um jeito diferenciado. Dele se diz que é longânime e paciente. Ele mesmo é a fonte da vida e de tudo o que existe. É a fonte de tudo o que se espera. E Ele dá ao ser humano esperar de um jeito seu, que se lhe assemelha: ele dá a esperança. Ter esperança é esperar do jeito de Deus.

Como virtude teologal, a esperança se nutre e se fortifica não dependendo apenas do ser humano, mas acima de tudo de Deus que é fonte. Ela é uma centelha que se acende a partir de uma certeza que só Deus dá e da espera que só o homem deve exercitar, pois é virtude. Não há outro caminho para a esperança senão o da oração. Esperar do jeito de Deus acontece como fruto da sua graça e rezar é já um ato de esperança.

Ter esperança tem a ver com superar a angústia das humanas esperas. Significa ver transparente, para além do caráter imediato das coisas, dos eventos e das situações. É descobrir os fatos, deixando-os nus diante do olhar, para ver aquilo que a impaciência, a arrogância e a embriaguez não deixam ver. Significa ver além, pensar que vale a pena, que as coisas têm jeito, que Deus mesmo, na sua longanimidade, faz assim quando pacientemente aguarda, porque vê no todo criado algo de si. Já a espera que ninguém quer é cega. Não alça voo com a visão de Deus. Embrulha tudo no pessimismo e desiste rápido daquilo que humanamente parece não ter jeito. O olhar opaco da espera humana carece de Deus.

Tempo do Advento é tempo de esperar como Deus, tempo de esperança. É tempo de olhar para o não evidente e não imediato e que, de alguma forma, já se insinua e se apresenta, até mesmo nas chagas da vida. Não é um olhar ingênuo, nem tão pouco fantasioso. É um olhar de sentido para a vida, capaz de firmar os passos, superar os medos e iluminar a estrada. O fiel olha para a manjedoura e vê o menino. No meio das palhas e dos trapinhos reconhece o filho de Deus. Algo se acende no seu peito e a vida que lhe parecia obtusa e fechada se mostra agora possível. Maria é a figura da Igreja que tem esperança. Como mulher judia ela sabia o significado de uma gravidez antes de casar-se com José. Mas não hesitou dar um passo à frente. Disse sim a algo maior do que ela mesma e abriu-se ao surpreendente Dom que Deus preparou para a humanidade. Contra tudo e contra todos, viu além e com sua esperança trouxe para o mundo o que lhe propunha Deus. Sua esperança venceu!

Pe. Danilo César Lima

In: Jornal Opinião e Notícias 10.12.2018