Advento é tempo de espera pela vinda do Senhor, mas como tempo de preparação, deve mirar-se na celebração do Natal, para a qual se orienta. Quem se prepara, o faz ao modo daquilo que almeja: um maratonista se prepara para a sua prova, correndo. Um poliglota, para o uso de uma língua estranha, se prepara falando, lendo e escrevendo tal língua. O preparar-se é já antecipação de uma realidade futura. No Advento, antecipam-se os dois aspectos celebrados no Natal: a vinda do Senhor na carne e sua vinda na glória. Nesse sentido, entramos em um dado “novo”: o Natal celebra não somente a vinda histórica do Senhor, a sua encarnação? Alguns elementos escatológicos muito interessantes e não se pode ignorar.

Carta de São Paulo a Tito (Tt 2,11-14) diz que a graça de Deus nos ensina a viver conforme a fé, “aguardando a feliz esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”. A oração do dia propõe que a contemplação do mistério do Natal nos leve a gozar no céu da sua plenitude. A oração após a comunhão suplica a Deus que os fiéis alcancem o eterno convívio. Em definitivo, o Natal não celebra apenas a vinda do Senhor na carne, mas também sua manifestação na glória. O Advento nos prepara para isso: nas suas duas semanas iniciais, celebramos o Advento escatológico (relativo ao fim dos tempos). Nas duas semanas que precedem imediatamente o Natal, celebramos o Advento histórico, relativo ao nascimento de Jesus em Belém.

Se, pois, esse é o escopo do Advento, por causa do Natal para o qual se prepara, uma atitude espiritual se impõe: a vigilância que nos torna capazes de reconhecer a vinda do Senhor. Para essa atitude espiritual, alguns textos bíblicos nos oferecem interessantes símbolos, como é o caso das dez moças, com suas lâmpadas (cf. Mt 25,1-13). Detenhamo-nos no simbolismo das lâmpadas. Constituídas de barro e azeite, produzem a chama que ilumina o caminho em meio à noite, rumo ao noivo. O recipiente de barro é necessário para conter o azeite. Se a lâmpada cai e se rompe, o azeite se derrama. Por sua vez, o azeite impregna o barro, embebe o pavio e sustenta a chama acesa.

O símbolo, na sua eloquência, faz recordar o homem, criado do barro (Adão). Recorda o Cristo, que no seu Natal assumiu a condição humana, mas igualmente o cristão, que em vasos de barro traz o tesouro da fé (cf. 2Cor 4,7-15). O azeite recorda o Espírito, o mesmo que foi insuflado no boneco Adão, de barro, dando-lhe o princípio vital. Barro do humus, terra, do humano ser… O azeite recorda a unção espiritual (cf. Lc 4,14-22), que escorre pela barba de Abraão (cf. Sl 133) e que dá nome a Jesus e seus discípulos, o Ungido (Cristo), os ungidos (cristãos). É o princípio de vida, de missão, que tudo recria (cf. Sl 104) e que nos orienta para o alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus (cf. Col 3,1-3).

Na manjedoura de Belém, no barro e óleo de Jesus menino brilhou o clarão da glória de Deus. Na encarnação, delicadamente, se insinuou o futuro da humanidade, seu fim (telos, finalidade, vocação, destino último). Na glória do glorioso Senhor (Kyrios), lateja a humana existência transformada, o frescor do barro menino, completamente embebido do Espírito que, ressuscitando Jesus, ressuscitou com ele a nossa carne para a vida plena, iniciando a parusia e trazendo para nós o Reino esperado. A multiplicidade do Mistério se toca e se concentra no Natal. A enormidade desse acontecimento pede-nos o mínimo: a preparação do Advento. Vem, Senhor Jesus!

Padre Danilo Lima