O simbólico como expressão da fé
Nossa experiência religiosa é marcada por inúmeros símbolos que a compõem e a possibilitam. Toda religião precisa sempre de ritos, livros e objetos sagrados, sons e outros elementos que funcionem como pontes que levam a pessoa ao encontro do Transcendente ou lhe expressem essa relação espiritual.
O Cristianismo é uma religião na qual os símbolos têm fundamental importância. É muito difícil, senão impossível, imaginar o Catolicismo sem a cruz, as velas, o incenso, o pão, o vinho, a água abençoada, o óleo, as imagens...Eles deixam transparecer o convite generoso de Deus à comunhão com Ele e seu desejo de que tenhamos uma vida feliz. Chamam-nos à profundidade do Mistério e despertam em nós a vontade de irmos ao seu encontro.
O símbolo sagrado tem o poder de representar, no seu aspecto sensível, realidades invisíveis. Deus, que não vemos e não tocamos, pode ser evocado e tornar-se presente na vida de quem crê, pela mediação simbólica. Comemos o Pão consagrado e experimentamos a presença do Ressuscitado em nós. Assimilamos seu corpo e sua missão. Tornamo-nos hóstias para o mundo, gerando comunhão e espalhando as sementes da vida.
O corpo como lugar teológico
É comum nós ouvirmos dizer que “o corpo fala”. Sem o corpo, a pessoa não pode estar presente no mundo e trazer o mundo para dentro de si, dar significado aos sinais sensíveis, comunicar-se com os outros, no dom de si e na acolhida do próximo como dom, revelar a riqueza de seu espírito.
Fazer com que o corpo seja experimentado como lugar teológico é missão e desafio para a catequese e para a Liturgia. "Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?" (1Cor 3,16), já dizia São Paulo. É necessário relembrar também hoje: o nosso corpo é lugar da presença de Deus. Respeitar o corpo próprio e o alheio, tratá-lo com dignidade, valorizar o irmão empobrecido para que seu corpo não padeça as conseqüências da miséria, são verdadeiras experiências do Deus da vida e do amor.
Sendo o corpo a “estampa da alma”, a expressão do homem e da mulher interiores, também ele é um meio importantíssimo para a oração, a celebração da fé, o louvor de Deus. Infelizmente, ainda não sabemos celebrar com todo o nosso ser, incluindo as manifestações corporais. Estamos caminhando para isso, mas esbarramos em inúmeras dificuldades. Fomos acostumados a rezar com palavras e idéias. Muitas vezes o corpo até se torna um incômodo, apresenta dificuldades. Nossas liturgias tradicionais privilegiaram o discurso racional e teorizaram a experiência de Deus. Os poucos gestos sugeridos pela liturgia foram enquadrados nas rubricas e normas a serem estritamente observadas, funcionando como uma camisa de força. A visão moral de que o corpo era ocasião de pecado levou a uma exclusão quase total da expressão corporal espontânea dos ritos litúrgicos, sem falar de outras conseqüências dessa concepção.
Os símbolos, que ocupam dimensão importante da experiência ritual, poderão ser melhor compreendidos, se fizerem parte do dia-a-dia dos catequizandos e da assembléia celebrante. Para isso, a catequese pode e deve trabalhar com os sinais sagrados, introduzindo os catequizandos ao seu sentido, sem a pretensão de esgotá-lo. Há muitas maneiras de se acender uma vela, por exemplo. Pode-se simplesmente riscar um fósforo, sem nenhuma “cerimônia’”, como também se pode explorar seu significado mais profundo pelo tato, pela visão da luz, pelo calor... sobretudo, pela fé, é possível que ela deixe de ser um amontoado de cera para significar a presença iluminadora de Deus, que guia, orienta, aquece a nossa vida. Isso vale também para a cruz, o pão, o vinho, as flores, a água, as cores, etc. O mesmo vale para os gestos e expressões corporais.
Pe. Vanildo Paiva
Mestre em Psicologia e especialista em Liturgia e Catequese