VIAGEM NO TEMPO
Percorro a casa. Os claros
espaços dos antepassados.
As vigas. Os caibros. As telhas.
As vértebras das teias
de aranha. Por aqui
as serpentes dos pântanos
deixaram fragmentos
de astúcia e morfina.
Vestígios de borboletas
mortas vivem nas gavetas.
Dos ponteiros do relógio
pingam as gotas das horas.
Por todos os cantos
da casa a memória sangra.
Francisco Carvalho
in Memórias do Espantalho - Poemas Escolhidos
Imprensa Universitária da UFC, Fortaleza, 2004