No mês de outubro de 2015, nós comemoramos o cinquentenário da conclusão do Concílio Vaticano II; concílio que enfatizou o diálogo entre a Igreja e a sociedade e reafirmou sua missão de servir. A Igreja nasceu do projeto salvífico de Jesus que, ressuscitado, enviou os discípulos, a anunciarem a todos, tudo o que dEle aprenderam. Esse é o serviço primeiro que a Igreja deve prestar ao mundo: anunciar a Palavra e a salvação realizada por Cristo. Sua missão primordial é, portanto, de cunho religioso evangelizador; um serviço à vida humana até que esta atinja sua plenitude, na comunhão com Deus. Decorrente desse evangelho, que permeia todos os aspectos da existência humana, emergem os inúmeros serviços que a Igreja presta ao mundo, em vista da promoção do bem, da justiça, da verdade, da paz, da defesa da vida; em uma palavra, todos os compromissos decorrentes do amor a Deus e ao próximo.

A Campanha da Fraternidade deste ano, vem situada nesse horizonte, como oportunidade de aprofundar esse compromisso cristão, de despertar cada pessoa para o serviço e, frente aos desafios de nosso tempo, aperfeiçoar o próprio modo que toda Igreja tem de servir.  

Estar a serviço é uma atitude decorrente do amor. Esse nos faz “sair” de nós mesmos e ir ao encontro do outro; coloca nosso centro de atenção não em nós, mas no outro e no conjunto da sociedade, visando o bem de todos. 

Ao colocar-se nessa atitude de serviço em relação ao mundo, a Igreja espelha-se em seu Senhor, que não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida por todos (cf. Mt 20,28). Estar a serviço é uma atitude decorrente do amor. Esse nos faz “sair” de nós mesmos e ir ao encontro do outro; coloca nosso centro de atenção não em nós, mas no outro e no conjunto da sociedade, visando o bem de todos. A atitude do serviço é o oposto do egoísmo auto referencial, que leva o indivíduo a viver somente para si, tendo em vista os próprios interesses. O cristianismo descontrói essa lógica rasteira do egoísmo interesseiro e descortina perspectivas novas que, pela doação de si no serviço generoso, abrem os horizontes da pessoa para o verdadeiro sentido da vida e da realização humana. 

Tal amor e espírito de serviço concretizaram-se na generosa doação de cristãos que, ao longo dos séculos, doaram-se e continuam oferecendo a vida a serviço dos outros em hospitais, creches, orfanatos, asilos, escolas, universidades, e numa infinidade de projetos e pastorais que atendem, sobretudo aos mais necessitados. Assim, a Igreja presta serviço formando gerações, influenciando culturas, salvando vidas, infundindo e consolidando valores em meio a sociedade onde se situa. 

A Campanha da Fraternidade não pretende exaltar o que a Igreja faz; porém, é justo e oportuno que tais ações sejam conhecidas a fim de que sirvam de estímulo às pessoas e suscitem inúmeras outras generosas atitudes de serviço. Situada no tempo da Quaresma, a Campanha da Fraternidade provoca o questionamento sobre o que cada cristão tem feito pelos seus semelhantes e o que poderia ainda por eles fazer. 

Dom Wilson Angotti

Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte

In: Opinião e notícias (online)