Que é o homem?
“No deserto o homem não é. Ele deve ser, vir a ser sem cessar.
Não há parada possível.
De hoje em diante, ele deve inventar-se a cada passo.
Seu desejo o salva.
Se parar, torna-se areia ou se petrifica. O homem não é um ser, e sim,
um pode ser”.
(Jean - Yves Leloup)
Compreender o ser humano em sua cultura é sempre tarefa muito agradável e edificante. Quanto mais se pensa sobre o ser humano, sobre o se fazer humano, sobre o se relacionar consigo e com os outros, mais se vai decantando e apurando sua própria humanidade.
Mas, o que é o ser humano? No belíssimo salmo 8 encontramos esta mesma indagação: “Que coisa é o homem, para dele te lembrares, que é o ser humano, para o visitares?”
Esta é uma pergunta que nos persegue por toda a nossa vida, é pergunta que devemos fomentar na vida dos nossos catequizandos.
Nossa fé compreende o ser humano como uma unidade indivisível: corpo e mente, alma e espírito. Como ser histórico, relacional, pluridimensional e livre (se se abre ao reconhecimento da autonomia e alteridade do outro), encarnado e ao mesmo tempo espiritual, aberto ao amor de Deus que se concretiza na pessoa de Jesus Cristo, que nos faz ser inteiros em nossa humanidade para nos aproximarmos de Deus e de sua divindade. Somos assim, à imagem de Deus, por tudo que aprendemos por sua revelação, em Jesus Cristo, o Deus genuinamente humano.
Deus nos cria à sua imagem. À sua semelhança ele nos criou (Gn 1, 26-31). Mas, o que significa ser “à semelhança” de Deus? Poderia Deus criar-nos para outra coisa se não para o AMOR? Ao criar-nos para sermos à semelhança dele, ele nos chama à perfeição, à doação, ao cuidado, à beleza, ao AMOR.
Homem e mulher ele os criou: Deus nos cria na diversidade e na unicidade... Como nós podemos ser cuidadores? Deus acredita na humanidade. Podendo viver só, nos criou. Preferiu sair de si mesmo e se relacionar. E nossa formação humana está alicerçada neste fundamento: O de sair de nós mesmos, estabelecer relações e amar! Este é o pressuposto da existência cristã.
Para existir, precisamos de diálogo, relação, memória, de um passado, e de um futuro, com esperança e horizontes que nos façam acreditar e continuar. Neste pêndulo, entre o que nos fez chegar até aqui e ser o que somos, e os desejos e motivações que nos movem para sermos melhores é que vamos construindo nossa identidade.
Na seguinte dinâmica: EU existo com minhas particularidades e fui sonhado por Deus, mas não me basto e, por isso me abro ao outro que é o TU, também com suas particularidades e desejos, mas sedento de não ser sozinho. Este encontro de duas individualidades que se completam forma o NÓS - o lugar de sentido de nossa vida – pois, isolados, não somos nada! A felicidade e a realização só acontecem quando estabeleço relações em verdade e respeito com aquele que é diferente de mim, e por isso me completa.
Construir a nossa identidade significa encontrar-se com o outro de mim, porque somos seres de relação, e comigo mesmo. Para isso, Deus nos criou em liberdade, para escolher quem realmente somos. E, para nós cristãos, não há possibilidade de ser fora d’Ele, de sua Graça, do seu Amor.
E só amamos, depois que nos percebemos amados (Jr 1, 5), e nos humanizamos para deixar Deus nos divinizar. Isso acontece quando somos compaixão de Deus acontecendo na vida do outro, concreta e historicamente.
“Embora às vezes nos esqueçamos, é essa a opção primeira de um cristão: seguir Jesus. Esta decisão muda tudo. É como começar a viver de maneira diferente a fé, a vida e a realidade de cada dia. Encontrar por fim o eixo, a verdade, a razão de viver o que ele viveu; dar importância àquilo a que ele dava importância; interessar-se por aquilo pelo qual ele se interessou; tratar as pessoas como ele as tratou; olhar a vida como ele a olhava; orar como ele orou; transmitir a esperança como ele transmitiu". (PAGOLA, 2011.p 568).
Mais livres seremos quanto mais amarmos o outro, identificarmo-nos com o outro. Ser empático e saber partilhar é o que definirá nossa liberdade, nossa fiel relação com Jesus. Nossa busca diária, como catequistas, deve ser nossa realização humana. E ela se dá através de nossos pensamentos e atitudes. Aqui cabe bem aquela máxima: “Deus age, fazendo-nos agir”. Ou seja, nós nos humanizamos no encontro com o outro, com o próximo.
Carla Regina de Miranda
Equipe "Catequese Hoje"
15.05.2012