Há dez anos atrás era roça. A molecada ia lá caçar passarinho e comer jabuticaba. Hoje é um bairro de quarenta mil habitantes. Muitos vindos do interior.
No começo surgia um barraco aqui, outro acolá. Os lotes iam sendo ocupados. Nascia um novo bairro, na periferia, com todas as suas dificuldades. Para pegar transporte tinha que andar uma hora. No tempo das águas não tinha carro que pudesse entrar ou sair. E quando alguém adoecia, era aquele desespero. Precisava dar um jeito de melhorar a situação.
A saudade do interior apertava. Saudade das festas da padroeira, das barraquinhas, da amizade e, principalmente, de sentir-se unido, em comunidade. Tio João, que era um vicentino, havia formado uma conferência. Levantaram até uma capelinha e aos domingos ele animava a celebração. Mas faltava alguém para puxar os cantos, para fazer as leituras da Bíblia... Na verdade faltava muita coisa. As crianças cresciam sem catequese. Porém, faltava, sobretudo, alguém que animasse os catequistas a fazer a catequese e os cantores para alegrar a celebração. Alguém que motivasse os jovens a viver a sua fé na realidade da cidade, e as famílias a se reunirem em grupos e rezar a sua vida a partir do Evangelho. Precisava mesmo alguém que pregasse a Palavra de Deus e assim animasse as pessoas para formar uma comunidade unida. Que fosse capaz de coordenar os diferentes serviços da comunidade e se dedicasse de corpo e alma a este trabalho. Numa palavra: faltava um padre que animasse as pessoas para o serviço e a união da comunidade.
O modelo do padre é o próprio Cristo, o bom pastor. Aquele que dá a sua vida pelas ovelhas (Cf. Jo 10, l- 18) e vai atrás das que estão perdidas e procura trazê-las de volta (Cf. Lc 15,4-7). O pastor conhece as ovelhas e as ovelhas conhecem o pastor. Ele as conduz, une-as em torno do Cristo, exorta-as e as acolhe novamente quando algumas se separam.
Além do padre, tem também O bispo e o diácono. Os três ministérios são serviços essenciais para a Igreja. Por isso não são as pessoas que inventam de exercer esses ministérios. Eles se tornam ministros pela ação de Deus. Essa função ministerial é graça de Deus, presente de Deus à Igreja. Por isso, é pelo sacramento da ordem que uma pessoa se torna bispo, padre ou diácono.
O motivo da festa ou celebração do sacramento da ordem é que Deus continua sustentando sua Igreja pela instituição de ministros que ajudem a comunidadea ser unida e unida seguir a Jesus.
Um serviço em função dos demais serviços da comunidade. É o que devem ser o bispo, o padre e o diácono. Não se trata de alguém que faz tudo sozinho, mas que anima, dá força e uneos laços para construir a comunidade. É como o maestro na banda de música. Ele não toca nenhum instrumento, mas é responsável pela harmonia da música. Ele precisa dos músicos e os músicos precisam dele para tocar no momento certo. Ele não precisa saber tocar todos os instrumentos, mas saber coordená-los. Valorizar os talentos de cada um, despertá-los e assim enriquecer a melodia com sempre mais instrumentos. Ele é a força da banda. Nem ele nem os músicos podem fazer o que der na cabeça deles. Todos têm que obedecer à melodia da música. Assim também o bispo, o padre e o diácono não são simples “chefes” na Igreja. Eles como todos os cristãos, têm que obedecer à Palavra de Deus.
O gesto simbólico usado para a ordenação é a imposição das mãos. O bispo impõe as mãos sobre a cabeça da pessoa que vai tornar-se bispo, padre ou diácono e pede que o Espírito Santo venha e lhe dê esse ministério específico na Igreja. A imposição das mãos significa transmissão de força e de autoridade para o serviço. É o mesmo gesto que Moisés fez sobre Josué, diante de todo o povo, para indicar a transmissão de liderança (Cf. Nm 27,15-23). Josué recebeu assim a autoridade, o espírito de sabedoria para servir o povo e guiar os seus passos.
De forma semelhante os apóstolos ordenaram os primeiros diáconos. A comunidade escolheu sete homens de boa reputação e cheios do Espírito Santo e os apresentou aos Apóstolos. Estes lhes impuseram as mãos, enquanto todos rezavam (Cf. At 6,1-6). A transmissão do ministério se deu sucessivamente até hoje. A comunidade toda reza, invocando o Espírito, e os ministros ordenados presentes impõem as mãos ao novo ministro escolhido para o serviço da unidade.
Há três maneiras de exercer esse serviço à unidade da Igreja: bispo, presbítero e diácono.
O bispo é colocado à frente de uma comunidade regional (a diocese) para construir e incentivar a união da comunidade, no serviço aos outros, na fé e nas celebrações. Ele é também o responsável por esta Igreja.
Os presbíteros (conhecidos como padres) têm a missão de unir a Igreja num âmbito mais restrito (em geral numa paróquia). Aí ele está a serviço da unidade dessa comunidade, unidade que se realiza no amor mútuo, iluminado pela mesma fé comum que é celebrada na eucaristia e nos outros sacramentos.
Os diáconos, nos primeiros séculos da Igreja, tinham uma função muito importante e bonita: unir a comunidade no amor dos mais pobres, representar a comunidade e o bispo no apoio aos necessitados materialmente, e recordar sempre de novo, diante de todos, os desvalidos da comunidade. Hoje em algumas dioceses esse serviço está sendo revalorizado.
Cada um a seu modo, esses três estão a serviço da unidade da Igreja, como Cristo, o bom pastor, que quer reunir as ovelhas em torno a si para levá-las a Deus pai.