A ideia da ressurreição aparece duas vezes no Símbolo Apostólico, que estamos comentando. Primeiro, refere-se a Jesus Cristo, o qual “ressuscitou ao terceiro dia”. Depois, trata-se de toda a humanidade, cuja “carne” (“corpo” ou “matéria”) é incluída na ação criadora, libertadora e santificadora de Deus. Uma depende da outra. A fé na ressurreição da carne baseia-se na fé na ressurreição de Jesus.


Precisamos corrigir o conceito espontâneo que temos de “ressurreição”, como se fosse a reconstituição física do corpo que, tendo morrido, retornaria a esta mesma vida terrestre. Os casos de Lázaro, ou da filha de Jairo, ou do filho da viúva de Naim, não seriam propriamente exemplos de ressurreição, mas de “revivificação”.


Ressuscitar, falando com propriedade, é passar desta vida terrestre à vida eterna. Foi o caso de Jesus. A ressurreição de Cristo foi um fato tão extraordinário que deu um novo sentido à história humana. Com razão, a história se divide em antes e depois de Cristo, porque a vida, a morte e a ressurreição de Jesus são o acontecimento decisivo da história da humanidade.


A ressurreição rompe a história e inaugura uma nova dimensão, a dimensão escatológica. No segundo volume de sua obra sobre Jesus de Nazaré (“Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição”), o nosso saudoso “papa emérito”, Joseph Ratzinger/Bento XVI, diz que a ressurreição é um acontecimento dentro da história que, todavia, rompe o âmbito da história e a ultrapassa. A ressurreição é uma mudança radical, um salto de qualidade na existência humana.


Nós não possuímos qualquer experiência desta nova forma de vida. Não podemos nem imaginar como será o nosso corpo ressuscitado, nem a transformação de toda a criação. Porque “o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu” (1 Cor 2,9).


A ressurreição de Cristo é o fundamento de nossa esperança na nossa própria ressurreição. Se Cristo não tivesse ressuscitado, nossa fé seria sem fundamento. Mas nós acreditamos, com toda a tradição cristã, que Cristo ressuscitou dos mortos e, por isso, nós esperamos ressuscitar também (1 Cor 15,12-20).


Acreditar na ressurreição da carne deveria fazer com que vivêssemos de maneira diferente aos que não têm esperança; deveria ajudar-nos a superar o medo à morte e a nos consolar, diante da morte daqueles que amamos, com a certeza de que os reencontraremos na vida eterna.


Pe. Luis González-Quevedo, SJ
Teólogo, escritor e pregador de retiros inacianos

01.06.2013