Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Antes de ser objeto de nossa fé, a morte de Jesus na cruz foi um fato histórico brutal, testemunhado por historiadores romanos e judeus. Mas por que teve que sofrer tanto o “Bom Jesus”?
A resposta de nossa fé é conhecida: Cristo morreu para nos salvar. Lembro-me de um motorista de praça que, sabendo que eu era padre, perguntou-me “qual é o maior santo?” Eu respondi: “O maior santo é Jesus”. Ele comentou: “Sim, porque morreu por nós!”
O comentário do motorista conserva o essencial da fé da Igreja apostólica: o kerigma, isto é, a “mensagem” cristã primitiva. Por volta do ano 56 da era cristã, São Paulo escreve aos coríntios: “Eu vos transmiti o que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados” (1 Cor 15,3).
O homem e a mulher de nossos dias, imersos em uma cultura secularizada têm dificuldade em aceitar que Jesus Cristo morreu por causa deles. No início deste ano, o Papa disse que "em grandes regiões do mundo a fé corre o risco de se apagar como uma chama que já não encontra alimento. Estamos enfrentando uma profunda crise de fé, uma perda do sentido religioso, que é o maior desafio para a Igreja hoje”.
A preparação do Ano da Fé é um momento propício para aproximar a fé cristã dos homens e mulheres de hoje. Como? De que maneira? Sem dúvida pela experiência do amor de Deus, que nos foi revelado por Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado. Com efeito, Deus se encarnou e veio à terra para que todo ser humano se saiba amado. As pessoas, hoje, não menos do que ontem, têm necessidade de saber que alguém as ama. A mensagem cristã vem ao encontro desta necessidade humana.
“Tanto amou Deus o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não morra, mas tenha vida eterna” (Jo 3,16). Jesus, “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1), até o extremo de entregar a própria vida. Ele morreu, para que nós vivamos uma vida nova, eterna, sem fim.
A palavra “paixão” tem dois sentidos: a) sofrimento, padecimento; b) amor apaixonado. Na Paixão de Cristo convergem os dois sentidos: Cristo padeceu a mais cruel das mortes, por amor à humanidade. Eu faço parte desta humanidade pecadora. Logo Cristo morreu por mim, pelos meus pecados.
Um padre da Igreja antiga disse que, em Jesus Crucificado, “Deus sofre uma paixão de amor” (Orígenes).
Padre Luis González-Quevedo, sj
Teólogo, pregador de retiros inacianos, director do Centro Loyola de Goiânia-GO
01.02.2013