A caminhada de fé com a catequese que acolhe e orienta o Ser cristão.
Nos artigos anteriores fizemos uma caminhada sobre a catequese permanente como os adultos percorrendo um itinerário que vai desde a sua busca pela catequese no desejo de receber os sacramentos da Iniciação Cristã até á celebração dos mesmos e a continuidade com a catequese mistagógica que inicia os novos cristãos no Mistério da Páscoa de Cristo.
Aprendemos nesse percurso que a redescoberta da Catequese com adultos e o seu potencial evangelizador é vista como uma possível resposta para o contexto de Igreja em que se vive hoje. Mas uma catequese na qual possam ser destacados os valores próprios e fundamentais do cristianismo que estão presentes na catequese: a Bíblia e a liturgia e a vida. Assim, convidados a pensar a catequese de iniciação cristã, com inspiração catecumenal para os nossos interlocutores adultos não batizados e para aqueles só batizados e que ainda não fizeram as catequeses para os demais sacramentos a proposta é iniciar com o querigma.
Muito já falamos sobre o querigma, mas o que é uma catequese querigmática?
Anunciar o querigma é partilhar o dom do encontro com Cristo. O anúncio de Jesus Cristo possibilitará aos que não o conhecem ouvir a Boa-Nova da salvação, ou seja, quem é Jesus Cristo e quais são os seus ensinamentos. Esse anúncio torna-se importante para despertar todos aqueles que desejam percorrer os caminhos da vida com Jesus, caminhar com ele, segui-lo e reconhecer nele o Messias, o Filho de Deus, fazendo-se discípulo dele.
Olhando para as Escrituras, podemos ler uma passagem do profeta Isaías que nos fala sobre o anúncio da salvação: “como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, do que proclama boas novas e anuncia a salvação, do que diz a Sião: ‘o teu Deus reina’” (Is 52,7).
Observando a passagem bíblica, no livro de Atos dos Apóstolos (At 2,14-41) podemos ver o Primeiro anúncio de Pedro depois de Pentecostes. Pedro está a anunciar aos homens da Judéia e a todos os outros habitantes de Jerusalém o envio do Espírito Santo prometido por Jesus, após sua ressurreição. Com esse anúncio Pedro desperta o coração de quem o ouvia provocando nele o desejo de conversão, momento este que Pedro faz a sua catequese orientando-os para o arrependimento e a necessidade de serem batizados em nome de Jesus Cristo para a remissão dos pecados e receberem o dom do Espírito Santo.
Também podemos fazer a leitura de 1Cor 15,3-5), carta de São Paulo aos Coríntios, onde encontramos o primeiro anúncio realizado por Pedro e Paulo dirigido a seus ouvintes: “Transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Pedro e depois aos doze. Paulo, para explicar a ressurreição, ele parte da afirmação fundamental do querígma que é o Mistério Pascal de Cristo morto e ressuscitado, sua pregação evangélica. Jesus ressuscitou. Essa é a maior Boa-Nova.
Com as pregações dos Apóstolos, a certeza da ressurreição de Jesus levou grande número de Judeus e também de pagãos a compreender o significado salvífico de sua morte e a reconhecer nele o único salvador da humanidade. Com o tempo e com muitas orações e reflexões catequéticas a morte e ressurreição de Jesus passou a ser compreendida como sua glorificação e exaltação.
Vejamos os Discípulos de Emaús – Lc 24, 13-35
Se você não se lembra dessa história, pegue a sua bíblia e faça essa leitura. É uma bela passagem bíblica que não pode deixar de ler e refletir nas catequeses. além de muitas outras, é claro. Hoje, também, nos é oferecido uma bela reflexão sobre a Samaritana, ícone da catequese querigmática.
Os discípulos de Emaús, ao caminharem com o ressuscitado, e ouvir dele as explicações das escrituras, ficaram encantados com ele e convidou para chegar até a casa deles. E na experiência da partilha do pão, em seus gestos, o reconheceram. Assim, as nossas catequeses, ao falar do querigma, ou seja, o anúncio da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus, propiciando aos nossos interlocutores/catequizandos, o encontro pessoal com o ressuscitado, elas estão oferecendo o fundamento da fé daqueles que desejam se tornar discípulos e discípulas de Jesus Cristo.
Nesse sentido, a catequese com os adultos não batizados ajuda-os a percorrer o caminho de Jesus recordando as maravilhas de Deus operadas no passado, mas à luz da Revelação, interpretando os sinais dos tempos e a vida presente dos homens e das mulheres, uma vez que é neles que se realizam os designos de Deus para a salvação do Mundo. Os sinais dos tempos ajudam o homem de hoje a entender, e situar-se na sua própria história, a vida de Jesus narrada nos Evangelhos, uma história de vida capaz de transformar a mente e os corações das pessoas. Essa história revelada está nas Sagradas Escrituras e também na memória da Igreja e nos é transmitida através da catequese.
A nossa fé cristã tem por base a Ressurreição de Jesus Cristo, ou seja, só falamos de fé cristã, a partir da Ressurreição. Mas, ao falarmos da centralidade de Jesus Cristo na catequese, conhecer e seguir Jesus de Nazaré, além de aceitarmos e reconhecê-lo como o Cristo da fé, ou seja, aceitação da sua divindade, também hoje necessitamos estar atentos para a aceitação de sua humanidade. Isto porque, nós nos tornamos mais divinos, conforme vamos nos fazemos humanos, assim como Jesus o foi. Utilizando-se das Palavras do Mestre José M. Castilho, ele nos fala que: “só é possível alcançar a plenitude do ‘divino’ à medida que nos empenhamos para conseguir a plenitude ‘do humano’”. Isto porque, nós humanos possuímos uma capacidade simbólica e somos capazes de, por meio dela, expressar nossas experiências simbólicas. O simbólico precede a linguagem, a ideia, o conhecimento. Os símbolos determinam o que são nossas vidas, enquanto vidas humanas.
O RICA – Ritual de Iniciação à vida Cristã nos orienta para o conhecimento dos rituais litúrgicos dos sacramentos de Iniciação cristã, oferecendo-nos, como prioridade, a dimensão litúrgica da catequese, quando fala e propõe ações de Iniciação Cristã ou Iniciação à Vida Cristã. E, evidentemente, falta complementá-lo com tudo o que se refere diretamente: ao embasamento antropológico da Iniciação, à Evangelização ou querigma e à Catequese ou Catecumenato. O importante é chegar à opção pessoal por Jesus, ser seu discípulo missionário, membro da sua Igreja Peregrina, sempre em saída.
Uma catequese querigmática coloca em relevo o acento de primeiro anúncio, uma catequese que procura voltar s fontes da pregação apostólica para recuperar sua força missionária, sua capacidade de adaptação a culturas diversas e sua concentração no essencial.
Mas como conhecer Jesus, o Cristo da fé? Quem é Jesus? O que ele ensinava? Vamos continuar caminhando com essa reflexão?
Neuza Silveira de Souza.
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-catequético de Belo Horizonte.
imagem: pexels.com
13.11.2020