O adulto é visto como alguém que chegou à maturidade, conhecedor de seus direitos e deveres, atuante, com responsabilidade, como se isso fosse natural a partir da idade adulta. Mas, a maturidade é uma situação dinâmica de contínua evolução, pois a vida inteira é um processo de crescimento.
Nesse sentido é através das experiências da vida, de uma contínua aprendizagem, que o adulto desenvolverá sua criatividade, sua autonomia pessoal, e poderá assumir os compromissos e participar responsavelmente na construção da comunidade e da sociedade.
Do ponto de vista religioso, ao se referir ao aspecto da fé, as mudanças podem causar crises de fé e de identidade cristã. O adulto torna-se inseguro. Não sabe responder satisfatoriamente a perguntas fundamentais da sua fé. Sente o abismo entre as gerações, dificuldade de dialogar com os filhos, de orientá-los neste mundo em constantes mudanças e transformações.
O Papa Francisco, em suas catequeses, muitas vezes nos convida a recordar que, na base da nossa vida, há uma certeza consoladora que não podemos esquecer: Deus nos ama e em Jesus, deu a vida por nós. Ele nos convida a recordar a “fé simples e robusta” das mães e avós, que “dava a elas força e perseverança para seguir em frente e não deixar cair os braços”, “uma fé caseira, que passa despercebida, mas que constrói pouco a pouco o reino de Deus”. Uma fé que não se deixa confundir, porque se baseia nos fundamentos do Evangelho.
Nesse sentido, quando se abre à mensagem de Jesus, transmitida a partir de um processo iniciático, ou seja, uma catequese evangelizadora que leva as pessoas a um grau mais profundo de experiência com Deus e com o Ser Divino em si mesma, as pessoas sentem-se inseridas em uma nova realidade a qual significa percorrer o caminho da vida, paixão, morte, ressurreição, ascensão, envio do Espírito Santo e retorno glorioso. Percorrer esse caminho é deixar-se ser introduzidos no mistério Pascal, pois os desdobramentos desse processo iniciático oferece formas bastantes significativas que proporcionam mudanças fundamentais na vida da pessoa.
Itinerário da Iniciação à vida Cristã
O Itinerário da Iniciação à vida Cristã nos conduz para a vivência do Mistério da vida do Cristo. Esse itinerário, além de ser oferecido às pessoas adultas, ainda não batizadas, que necessitam caminhar, atravessar pontes, subir degraus, percorrer etapas, essa catequese de Iniciação à vida cristã pode ser oferecida também àqueles que já foram batizados e necessitam receber os demais sacramentos da Crisma e Eucaristia. Também aos que já receberam os sacramentos, mas necessitam de um aprofundamento da fé, ou seja, amadurecer na fé.
A prática da catequese mistagógica, que quer dizer ‘deixar-se conduzir para dentro do Mistério Pascal’, procede da visibilidade dos símbolos e sinais visíveis para a vivência do invisível, do significante àquilo que é significado, dos “sacramentos” aos mistérios.
É uma catequese que tem como centralidade o encontro pessoal com Jesus Cristo. Nesse sentido, ela ajudará a descobrir, por detrás da humanidade de Jesus, a sua condição de Filho de Deus; por detrás da história da Igreja, o seu mistério como “sacramento de salvação”; por detrás dos sinais dos tempos, as pegadas da presença de Deus e os sinais do seu plano. Uma catequese que leva ao amadurecimento da fé.
A fé é dom de Deus
A fé é dom. Crer que Jesus Cristo seja Deus, o Filho de Deus, esta fé transforma nossa vida. Possibilita que nosso coração se abra ao amor, ao perdão, ao acolhimento do outro. A fé não é um merecimento, é dom doado por Deus e que chega até nós pela abertura de coração, pelas nossas orações e conversão. A fé é uma questão de encontro com Jesus Cristo, acolher seus ensinamentos e se colocar em seu seguimento.
O Papa Francisco, para nos ajudar a pensar bem a fé, ele nos oferece uma boa reflexão sobre a passagem evangélica do cego Bartimeu. Conhecem essa passagem bíblica do Evangelho de Marcos? (Mc 10, 46-52). O Papa se utiliza dessa passagem para nos dizer de três passos fundamentais para percorrer o caminho da fé.
Primeiro passo – “Bartimeu está sozinho no caminho, longe de casa e sem pai: não é alguém amado, mas abandonado. Ele é cego e não tem ninguém para ouvi-lo. Jesus ouve seu grito. E quando o encontra, deixa-o falar”. Dá tempo à escuta. Este é o primeiro passo para facilitar o caminho da fé: ouvir. Como é importante para nós ouvirmos a vida! Ouvir com amor, com paciência, assim como Deus faz conosco: nos ouve.
Segundo passo – fazer-se “próximo”. Jesus se encontra pessoalmente com Bartimeu. E lhe diz: ‘O que quer que faça por você?’ Da maneira como age, transmite sua mensagem, cura-o, e assim a fé brota na vida dele e passa a segui-lo.
A fé passa pela vida. Ela nos leva a viver o amor de Deus que mudou a nossa existência. Assim, fazer-se ‘próximo’ é levar a novidade de Deus à vida do irmão.
Terceiro passo – dar testemunho – Testemunhar.
E assim, o Papa Francisco conclui: “Escutar, tornar-se próximo, testemunhar é o caminho da fé que termina no Evangelho de maneira bela e surpreendente, com Jesus dizendo: ‘Vai, tua fé te salvou’.
Olhando para nossa realidade, muitos filhos, muitos jovens, como o Bartimeu, buscam uma luz na vida. Buscam um amor verdadeiro. Nós, cristãos batizados, somos enviados para ir aonde eles estão, não levando a nós mesmos, mas a mensagem de Jesus. Ele nos envia para dizer a todos: “Deus pede para se deixar amar por Ele”.
A partir do testemunho daqueles que nos precederam na fé, somos chamados a descobrir, reconhecer e receber o Deus de Jesus Cristo hoje, que se dá a partir do nosso encontro pessoal com ele. Nele chegou a plenitude do amor de Deus. E tudo o que quiser saber dele, passa pelo testemunho que dele deixaram os apóstolos. Mas sabemos que os apóstolos não explicitaram toda a riqueza do acontecimento de Cristo. É tarefa da Igreja explicitá-la ao longo da história até a consumação final dela (Parusia).
Quem abre a história da Revelação é o Espírito Santo, levando a Igreja a descobrir gradualmente a verdade de fé. O Espírito Santo age na Igreja como verdadeiro corpo profético, ela que é Sacramento do Cristo. O povo de Deus, ou seja, as comunidades, é que irá atualizando o acontecimento Cristo: crianças, jovens, adultos, os homens, as mulheres, os pobres… A história humana é a história da salvação.
Assim nos diz o documento 107 da CNBB: ao ser batizado, o iniciando começa a caminhada para Deus, que irrompe em sua vida, dialoga e caminha com ele. Essa vida nova, essa participação na natureza divina, constitui o núcleo e coração da Iniciação à vida Cristã. Somos iniciados e incorporados ao Mistério Pascal de Cristo quando da recepção dos três sacramentos da Iniciação: Batismo, Crisma e Eucaristia.
Neuza Silveira de Souza. Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.