Estamos diante de desafios provocados pelas mudanças de época, que influenciam  o homem no seu jeito de ser, pensar e de agir, de amar e de trabalhar. Ao mesmo tempo, olhamos para a Igreja que, segundo as suas diretrizes gerais da ação evangelizadora, a situa em um contexto cultural cada dia mais marcado pelo ceticismo. E diante do conhecimento da verdade em si e impregnada, sentimos a necessidade de que a evangelização venha assumir o desafio de aproximar fé e razão, por meio do diálogo atento, atualizado e corajoso.

Como evangelizar promovendo a aproximação da fé e da razão? Quais elementos essenciais da fé podem levar as pessoas à percepção da Revelação como ato de comunicação que se traduz na revelação de Deus em nossa realidade, por meios de fatos e palavras intrinsecamente unidos e vai mostrando sua vontade. Os que vão se abrindo a essa experiência e percebendo Deus na vida, apontam-na para os outros e, assim, a palavra revelada vai iluminando aos outros e ajudando-os a descobrir as verdades da fé?

São Tomás de Aquino nos ajuda a compreender essa integração de fé e razão quando diz: “a fé consolida, integra e ilumina o patrimônio de verdade adquirido pela razão humana.  A fé aceita uma verdade sobre a base da Palavra de Deus revelada, enquanto a razão aceita uma verdade em virtude de sua evidência intrínseca, ou imediata. Mas tanto a fé quanto a razão provêm de uma única fonte de toda verdade, o Logos Divino, que opera tanto no âmbito da criação como no da redenção”.

Não se tem por objetivo discutir aqui os elementos essenciais à nossa fé. Temos uma expressão privilegiada da fé da Igreja, professada desde os Apóstolos que é “o Credo” ou “Símbolo Apostólico”. Mas queremos, aqui, recordar um dos princípios a que devemos estar atentos e que nos ajudam nessa aproximação:  Deus, como nossa fé professa, está no meio de nós e sempre se manifesta dentro de nossa história e de nossas vidas. Revela-se, procurando nos libertar para formas mais humanas de vida. A plenitude dessa vida é a total comunhão com ele. (CR 174).

A Ação Evangelizadora da nossa Igreja

Voltando o nosso olhar para as diretrizes da ação evangelizadora da Igreja, ela nos convida a voltar às fontes e recomeçar a partir de Jesus Cristo, pois a volta às fontes faz a Igreja superar a tentação de ser autorreferencial  e a coloca no caminho do amor-serviço aos sofredores desta terra, caminho este que leva à vivência e a transmissão da fé. Sair da autorreferencialidade e ir para a prática da multirreferencialidade, que é um indicador do tempo pós-moderno responsável pelo conjunto de transformações por que passam as pessoas, faz com que a Igreja se empenhe em ser uma Igreja em estado permanente de missão, casa da Iniciação à Vida Cristã, fonte da Animação Bíblica da Vida e da Pastoral, Comunidade de Comunidades, a serviço da vida em todas as suas instâncias. Nesse sentido, ela nos coloca frente a situações novas e desconhecidas, desperta e dá sentido para a vida do homem pós-moderno, hoje transformado  no seu jeito de pensar, agir e viver dentro da sociedade multirreferencial  na qual encontra-se inserido.

A Igreja, assumindo os aspectos das urgências que contribuem para a vivência e transmissão da fé, ela faz com que o anúncio da Boa-Nova se propague nos mais diversos   contextos culturais e suscita a todos o desejo de fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo.  Esse encontro se dá através do mergulho gradativo no mistério da vida do Cristo. Por isso a importância do Primeiro Anúncio e da Iniciação à Vida Cristã, a qual não acontece plenamente se não se tem o contato com  a Sagrada Escritura. A Palavra de Deus se faz luz para o caminho e ajuda os discípulos missionários na caminhada fraterna e solidária que, trabalhando pela vida em todas as suas instâncias, tornam-se sinais de que o Reino de Deus vai se manifestando no meio de nós.

A fé sobre a base da Palavra revelada

Essa revelação pode ocorrer:

Em uma relação pessoal e dialogal em que Deus toma a iniciativa. Ele se auto-revela e manifesta seu amor. Fala como que a amigos. Jesus oferece sua amizade para que todos tenham vida e vida plena (Jo 10,10) e a salvação a toda a humanidade. Nessa relação pessoal com Jesus somos convidados a assumir atitudes que promovam vida, como continuadores de sua missão.

Esta é também a razão de ser da Igreja, uma atitude missionária que define sua identidade.  Quando Jesus se comunica com pessoas particulares, revelando-lhes sua vontade é para que a transmitem aos demais. Assim como fez com os Apóstolos que, depois de instruídos, foram enviados a todos para que anunciassem as maravilhas do Deus de Jesus Cristo numa ação comunitária. É Deus se revelando a um povo.

A revelação de Deus reproduz na vida social das pessoas e dos povos. Ilumina a vida, propõe mudanças, promove a vida e denuncia o que escraviza e oprime. A pregação e as ações de Jesus têm consequências claramente sociais. O amor de misericórdia para com todos os que veem sua vida vulnerada,em qualquer de suas dimensões, requer que socorramos as necessidades urgentes, mas, ao mesmo tempo, contribuamos para a formação de organismos ou instituições com estruturas mais justas de forma a consolidar uma ordem social, econômica e política na qual não haja iniquidade e onde haja possibilidades para todos.  Esta é a missão da Igreja: Animada por uma Pastoral Social estruturada, orgânica e integral, que se faça presente nas novas realidades de exclusão e marginalização, lugares onde a vida está mais ameaçada.

Em uma revelação DINÂMICA, o acontecimento único – Jesus Cristo – pela ação do Espírito, vai-se fazendo presente na vida de cada pessoa, de cada grupo humano, de toda a sociedade que se abre a ação da graça. A experiência cristã vai clareando, aprofundando e expressando melhor a verdade revelada. Nesse processo contínuo de crescimento e de desenvolvimento de nossas relações interpessoais com Deus vamos exercendo nossa missão de discípulos missionários no testemunho da Boa-Nova.

Neuza Silveira de Souza

Secretariado bíblico-catequético arquidiocesano de BH