Na contínua reflexão sobre o processo de Iniciação à vida cristã, somos chamados à vivência e à observância da unidade dos três sacramentos que nos introduzem no mistério de Cristo e da Igreja, bem como os demais sacramentos, pois todos eles rememoram o Cristo presente e atuante na práxis dos membros da comunidade.

Os sacramentos são vistos como atos do próprio Cristo na ação da Igreja e, nesse sentido, são integrados no mesmo caminho de fé, como experiência vital e de crescimento no meio de uma comunidade eclesial. Assim sendo, somos chamados a repensar a nossa identidade cristã e a nossa missão. Uma prática renovadora dos sacramentos será o reflexo de uma Igreja transformada, feliz e convertida, mais conforme à mensagem e à prática de Jesus que nos convida à vida misericordiosa, fraterna e livre.

Diz o documento 107 em seu número 129: “A origem da relação entre os três sacramentos da Iniciação à Vida Cristã tem seu fundamento nas diversas manifestações de Cristo e do Espírito que nos leva à unidade do mistério pascal cumprida pela missão do Filho e consumada pela efusão do Espírito Santo”. Se hoje entendemos assim os sacramento: manifestação visível de algo invisível, podemos dizer que Jesus Cristo é o Proto-sacramento: o primeiro e grande sacramento do amor de Deus-Trindade.

Podemos também afirmar que todos os outros sacramentos só têm sentido porque eles tem uma referência à humanidade de Jesus. Quando Deus quis nos dizer definitivamente que nos ama mandou o Filho. No momento em que Maria disse “Sim” ao projeto de Deus o Verbo pode assumir a carne e, então, aparece visivelmente diante dos nossos olhos o amor infinito do Pai. Jesus Cristo, por sua vida, sua obediência e seus gestos de bondade é o Sacramento do Pai por excelência, pois nele culmina toda a história da salvação. Ele encarnou e trouxe para dentro de nossa história o plano salvífico de Deus. Ele é o Sacramento Fontal de Deus. É o Sacramento Vivo de Deus. “Ele é a forma visível do Deus invisível” (Cf. Cl 1, 15).

Cristo, origem dos sacramentos

Quando celebramos um sacramento estamos fazendo memória de Jesus Cristo. Sacramentos são a celebração da prática histórica de Jesus Cristo. Assim, o fato que celebramos encontra a sua fundamentação em Cristo e através dele o gesto que o significa e festeja. Nos sacramentos tem continuidade o agir salvífico simbólico-corporal de Jesus. Todos os sacramentos celebrados na vida cristã encontram o seu fundamento na vida e práxis de Jesus Cristo:

• Conversão: pregação e presentificação do Reino (cf. Lc 11,29-32, o sinal de Jonas);

• Reconciliação: acolhida de publicanos e pecadores e o perdão dos pecados;

• Vitória sobre a enfermidade; as inúmeras curas de enfermos e possessos;

• Constituição de funções na comunidade: a vocação dos discípulos, a instituição dos Doze e seu envio em missão;

• Compromisso matrimonial: presentificação do Reino de Deus, sinal visível da Aliança entre Deus e a humanidade (parábolas do Reino, banquete nupcial)

• Partilha: a vida inteira de Jesus, especialmente sua morte “em favor da multidão”, resultado de toda a sua vida como “ser-para-o-outro”.

A Igreja, corpo místico de Cristo, sinal visível do seu Senhor, continuando a celebrar os seus gestos salvíficos, perpetua e renova a sua presença na comunidade cristã.
Igreja como sacramento de Cristo

A Igreja tem Cristo como cabeça (cf. Cl 1,18) e os Sacramentos edificam a Igreja como “corpo de Cristo”, neste mundo, na força do Espírito. A Igreja, como sacramento de Cristo, celebra sacramentalmente, a salvação em todo tempo e lugar; os sacramentos da Igreja comunicam o que significam em relação a Cristo; cada um dos sete sacramentos são momentos do único sacramento que é Cristo, realizando em cada pessoa que crê a salvação de Cristo. Segundo Paulo, Cristo é o “mistério-sacramento” de Deus, pois nele está a manifestação plena e histórica do desígnio de Deus (cf. Ef. 3,9; Cl 1,27).

A casa ano a Igreja celebra os sacramentos pascais e se alegra com todos aqueles que buscam os sacramentos da Iniciação e com aqueles que, já iniciados na fé, celebram os sacramentos da sua iniciação em Cristo, retoma a consciência de ser, ela mesma, renascida pela água e pelo Espírito e de fazer parte de sua mesa, anunciando a morte e ressurreição de Jesus. Renascer da água e do Espírito! Eis a graça que recebemos do Pai, por Jesus Cristo e pelo seu Espírito. Vivenciar esse mistério é adentrar no Mistério Pascal.

A Palavra de Deus é fonte para nossa vida cristã.

Na Bíblia está o mundo novo, o mundo de Deus. Nela encontramos palavras orientadoras de Deus que foram ditas para todas as épocas e assim, continuam atuais para todos os tempos. A fé cristã cresce quando fazemos memória das Palavra de Deus. A fé cristã tem suas raízes no Antigo Testamento onde, através de vários sinais, podemos perceber o amor de Deus revelado. O Novo Testamento interpreta as histórias do povo de Deus fazendo uma leitura da história da vida de Jesus através de suas atitudes, mensagens e gestos. Toda sua vida é colocada em evidência e concretiza o sonho de Deus para o ser humano. Uma vida de bondade, de solidariedade e amor.

A páscoa de Jesus traz novo sentido para o nosso tempo. Nós também somos chamados a viver a páscoa de Cristo tornando visível o mistério pascal.

Essas histórias precisam ser contadas e vivenciadas em nossas catequeses e em todo o modo de evangelização da comunidade cristã. Sua vida é expressão de fé, da graça e bênção de Deus que nos ajudam a crescer na “unidade”, no “servir” e no “transformar”.

Para contar bem essas histórias necessário se faz conhecer bem Jesus. Quem é Jesus para mim, para você, para todos nós? Podemos encontrá-lo nas histórias bíblicas, nas histórias e nos fatos da vida, no caminhar da Igreja. Jesus se faz presente nesses lugares e é a centralidade da nossa vida. A vida nos sacramentos é oportunidade para reconhecermos a presença de Jesus em nós e no meio de nós.

Neuza Silveira de Souza

Secretariado bíblico-catequético arquidiocesano de BH

In: Opinião e notícias 17.11.2017