Ciberteologia: desbravando o conceito

 

Falar de catequese na era digital sem falar de ciberteologia é como querer refletir sobre a internet sem estudar a cibercultura. A ciberteologia é o campo teológico que dá base à reflexão sobre os impactos da rede no nosso modo de viver, ensinar e comunicar a fé, isto é, nos dá os fundamentos para pensarmos uma catequese que dialogue, inculture e construa relações com a geração net. Nesse artigo, vamos tentar reconstruir os passos que levaram à concepção da ciberteologia.

Antes de se constituir o conceito de ciberteologia que eu adotei nas minhas pesquisas, que é a definição formulada por Pe. Antonio Spadaro em seu livro Ciberteologia de 2012, o termo já havia sido utilizado para outros fins. Por exemplo, designava qualquer conteúdo teológico publicado na rede, ou ainda denominava uma teologia da comunicação digital. Entretanto, acredito que a ciberteologia é muito mais ampla e tem muito mais a contribuir com nossa vida pessoal e comunitária.

Em primeiro lugar, devemos reconhecer que a tecnologia digital, em especial, a internet móvel, transformou todo o ambiente ao nosso redor (casa, ônibus, faculdade, empresa), bem como nossas relações em todos os níveis (família, amigos, colegas de estudo e de trabalho). Sinais dos tempos são os eventos que caracterizam uma época e servem de chave para interpretarmos a ação de Deus na história. Percebe-se aqui como a rede se encaixa na definição criada no Concílio Vaticano II de sinais dos tempos, pois o período em que vivemos foi intitulado de era digital.

A partir disso, podemos entender a rede não mais como mero instrumento, mas como um ambiente social de onde podemos vislumbrar nossa realidade de um ângulo privilegiado. Mais ainda, como um lugar teológico do qual possamos partir para uma profunda reflexão sobre a vivência cristã na era digital. Portanto, a ciberteologia encontra na internet o seu lugar teológico do qual produz seu saber teológico.

O Concílio Vaticano II já afirmava que a tecnologia muda nossa maneira de pensar (IGREJA CATÓLICA, 1965, n. 5) e podemos facilmente constatar isso, observando o comportamento dos jovens e crianças da geração net. Se a tecnologia digital modificou nossa forma de comunicar, viver e até mesmo pensar, será que não afetou também nosso modo de pensar e viver a fé? Se a teologia é definida classicamente como o pensamento, a reflexão, a inteligência da fé, será que a cultura digital não mudou o modo de fazer teologia? Dessas questões fundamentais, Pe. Antonio Spadaro elabora a ciberteologia: pensar a fé cristã nos tempos da rede.

Não existe ciberteologia sem percorrer duas estradas: a experiência da fé e a experiência da rede. Os passos metodológicos da ciberteologia são semelhantes ao ver, julgar e agir: experiência, reflexão, ação e avaliação. É muito importante este último item. Em nossa pastoral e na catequese às vezes esquecemos de avaliar a trajetória percorrida, perpetuando os mesmos erros e nos perguntando: Por que nossa evangelização não atinge as pessoas? Já perguntou a elas o que está errado?

A comunicação hoje é tão presente no nosso dia-a-dia através da tecnologia digital que se tornou elemento essencial na nossa vida. Dessa forma, a ciberteologia não deve ser considerada uma teologia da comunicação, pois não reflete sobre a comunicação em si, mas aborda a vida hipercomunicativa que experimentamos cotidianamente. A missão da ciberteologia é pensar a fé nos tempos de internet para vivermos de forma sadia e santa nossas relações num mundo que incorporou a tecnologia digital em todas as suas esferas.

Se você quiser saber mais sobre ciberteologia, acesse outro artigo que fiz sobre o assunto: https://alineamarodasilva.wordpress.com/2016/10/04/o-que-e-ciberteologia/

Aline Amaro da Silva

Jornalista, pesquisa o tema ciberteologia, cibergraça. Assessora catequistas com o tema da catequese na era digital