Desde que o mundo é mundo, pessoas de idades e culturas diferentes têm dificuldade para se entenderem e dialogarem. Só que agora, na era digital, o choque cultural é tamanho que se fala até em uma nova humanidade. No texto anterior se introduziu a reflexão sobre a Geração Net. Mas o que significa gerações?
As ciências sociais denominaram geração o estudo que traça o perfil da juventude de uma época, pois é nesse período que ocorrem as grandes decisões de impacto pessoal e social. Inseridas no mesmo contexto, as gerações são formadas por pessoas que sofrem a influência dos mesmos fatores sócio-políticos, econômicos e culturais. Portanto, uma nova geração surge no momento em que algo marcante acontece, produzindo o antes e o depois deste evento.
Não existe um padrão de tempo entre uma geração e outra, podem levar séculos ou uma única década. Embora, nos últimos anos, esse espaço de tempo esteja se tornando cada vez menor. Mesmo entre nações as datas de início de uma geração podem variar, pois as novidades costumam surgir antes em países mais desenvolvidos.
Para entender isso, vamos analisar as nossas famílias. Antes, bisavôs e bisnetos compartilhavam gostos, hábitos, ofícios, ideias, assuntos em comum, ou seja, tinham um modo de ser, de viver e de ver o mundo semelhantes. Hoje, pais e filhos não sabem mais como começar um diálogo, não acham mais seus pontos em comum, pois suas experiências e perspectivas são completamente diferentes.
O desafio que enfrentamos não é apenas entre pais e filhos. Observando a realidade brasileira, existem cinco gerações com representatividade na sociedade convivendo, se influenciando e, em muitos casos, se desentendendo. Isso ocorre, de acordo com o Sidney Oliveira (OLIVEIRA, Sidney. Geração Y: O Nascimento de uma nova geração de líderes. São Paulo: Ed. Integrare. 2010), porque existem diferenças fundamentais entre elas que afetam os seus relacionamentos causando omissão e apatia nas gerações mais experientes e profunda lacuna na formação das novas.
Então, como superar esses conflitos e abismos entre as gerações? Tem coisas que passam e tem coisas que não passam. O amor é uma dessas coisas que “jamais passará” (I Cor 13,8). Copio uma citação que está na obra do Oliveira que expressa com perfeição atitudes que não podemos esquecer:
“Frequentemente subestimamos o poder de um toque, um sorriso, uma palavra gentil, um ouvido à disposição, um elogio sincero, ou o menor ato de atenção, tudo aquilo que tem o potencial para mudar a vida ao nosso redor” (Leo Buscaglia).
Veja a importância dessa reflexão não só para você catequista, mas para as famílias e todos os núcleos da sociedade. Esse livro do Sidney Oliveira, por exemplo, é direcionado ao setor empresarial, pois a forma como a juventude digital trabalha e produz é muito diferente das anteriores. Aí você imagina o choque cultural. Fica mais uma dica de livro para aprofundar o tema.
Palavras do Papa Francisco como “não basta o diálogo, é necessário a empatia” e também “não deixem que nos roubem a ternura”, nos dão pistas para encontrar o caminho. Veja este trecho da mensagem papal para o Dia Mundial das Comunicações 2016:
“O encontro entre a comunicação e a misericórdia é fecundo na medida em que gerar uma proximidade que cuida, conforta, cura, acompanha e faz festa. Num mundo dividido, fragmentado, polarizado, comunicar com misericórdia significa contribuir para a boa, livre e solidária proximidade entre os filhos de Deus e irmãos em humanidade”.
Não podemos nos afastar porque somos diferentes. É preciso se colocar no lugar do outro e deixar-se tocar por outras realidades, buscando essa empatia que Francisco recorda e dá exemplo. É na proximidade e na construção de um relacionamento fecundo entre as gerações que está a chave para o equilíbrio nesta mudança de época e época de mudanças.
Aline Amaro da Silva
Jornalista, pesquisa o tema ciberteologia, cibergraça. Assessora catequistas com o tema da catequese na era digital