Quando a Igreja Católica reformou a sua Liturgia, a primeira instrução que aparecia no Missal dizia: “quando o povo estiver reunido...”. Esta observação é muito importante. Antes, quando a Missa ainda era em latim, no Missal de 400 anos atrás, se lia: “Quando o padre estiver pronto...”. Houve uma mudança de mentalidade e de atitude. As celebrações da Igreja não são acontecimentos privados. Também não são meramente públicos. São eventos comunitários, de um corpo em oração, o Corpo de Cristo: nós, reunidos em assembleia, isto é, como Igreja.

A gente pode se perguntar: “mas não seria a mesma coisa rezar em casa sozinho, desde que seja com boa intenção? Por que eu tenho que me reunir com outras pessoas para isso? E ainda mais fazê-lo todo Domingo?” E você pode até argumentar com a Bíblia na mão: “no evangelho de Mateus não diz para rezarmos a Deus em nosso quarto, a portas fechadas?”

Bom, para começar, vamos deixar o texto de Mateus  para outra ocasião. Nossa questão agora é compreender o por quê da necessidade e importância de nos reunirmos para rezar. Um texto bíblico que nos ajudará a mergulhar no significado da reunião litúrgica diz assim: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo. Nele, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo...” (Ef 1,3-5).

Neste trecho da Carta que são Paulo escreveu para os cristãos da cidade de Éfeso, na Ásia, encontramos o motivo de Deus ter enviado ao mundo seu Filho amado, Jesus: nos tornar a todos seus filhos e filhas. A santidade à qual o Apóstolo se refere é esta, vivermos como membros da família de Deus.

Esta é a razão principal pela qual a oração mais importante para o cristão, que é a prece litúrgica, seja realizada na companhia daqueles aos quais chama “irmãos e irmãs” pela fé em Cristo. A celebração mostra-se, então, primeiramente, como um exercício claro e concreto de vida familiar. Sobretudo a Eucaristia que é, nas palavras do grande São Tomás de Aquino, sacrum convivium. Essa expressão que figura até hoje numa Antífona da oração da tarde (Vésperas) do Ofício Divino (oração dos Salmos) significa não apenas banquete ou refeição sagrada, mas sobretudo convivência.   Ninguém é família sozinho. Sobretudo em se tratando da Igreja que é uma maneira querida por Jesus de participar do relacionamento amoroso que Ele tem com o Pai, pelos laços do Espírito Santo.


Pe. Márcio Pimentel
Liturgista

In: Opinião e Notícias 03.02.2017