Muito do que conhecemos através do Novo Testamento tem sua origem no Antigo Testamento. A primeira leitura e o Evangelho lidos nas celebrações eucarísticas, nos domingos, têm, geralmente, ligação entre si, o que, nem sempre percebemos. Quando isto ocorre, a mensagem do Novo Testamento adquire um sentido mais profundo.
No Concílio Vaticano II, “Reino de Deus” foi uma dimensão que recebeu enfoque especial, na Constituição Lumen Gentium (LG cap.I, nº 5). E qual foi o primeiro objetivo da pregação de João Batista e de Jesus? João Batista proclamou no deserto da Judeia: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3,1). Igualmente, Jesus começou seu anúncio: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 4,17).
(Mateus usa a expressão “Reino dos Céus” para evitar pronunciar o nome de Deus, mas o sentido é o mesmo).
O Reino de Deus no Antigo (Primeiro) Testamento
O Reino de Deus é universal. Muitos salmos o expressam (Cf. 47,3; 93,1-2; 103,19). Mas, o reinado de Deus se manifestava, especialmente,em Israel. Deusreinava através dos reis da dinastia de Davi – a Casa de Davi. O Reino de Deus tinha como suporte temporal um reino humano. Os reis israelitas não exerciam uma realeza ordinária: detinham a realeza de Deus a quem deviam servir.
O Rei Javé residiaem Jerusalém. Daliele abençoava seu povo e o protegia. Ele queria que seu reinado fosse reconhecido de modo efetivo pela observância da sua Lei. Esta exigência dava ao Reinado um caráter moral, e não político. Entretanto, a causa do Reino de Deus não coincidia com as ambições terrenas dos reis. A queda da dinastia davídica teve como causa profunda a ruptura dos reis com o Rei do qual recebiam o poder (cf. Jr 10,21).
Com a destruição do Templo, em586 aC, e o início do exílio de Babilônia, encerrou-se a história do Reino. No momento em que a realeza israelita desmorona, os guias religiosos volvem o olhar para um Reino que há de vir. É um Reino escatológico, que se manifestará no fim dos tempos. O Reino terá a extensão do mundo inteiro. De toda parte, os homens virão a Jerusalém para adorar o Rei Javé (Zc 14,9; Is 24,23). Durante séculos, o povo judeu viverá na expectativa desse Reinado escatológico. Muitas vezes, essa espera se concretiza numa forma política: Espera-se a restauração do reino davídico pela vinda do Messias. Mas, os profetas sabem ver no Reino uma realidade essencialmente interior: é obedecendo à Lei que “o justo toma sobre si o jugo do Reino de Deus”.
Isaías, em bela linguagem simbólica, descreve a realização do Reino de Deus, no fim dos tempos: Reino de paz e harmonia, felicidade total. É um festim messiânico. (cf. Is 25,6-8)
O Reino de Deus no Novo Testamento
Jesus inicia sua vida pública proclamando: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo!” (Mt 4,17). Junto com o anúncio vêm os milagres - sinais da presença desse Reino que mostram seu significado. Com ele chega ao fim o domínio de Satanás, do pecado. Mas há decisões indispensáveis: converter-se, abraçar suas exigências e se tornar discípulo de Jesus.
Os apóstolos recebem a missão de proclamar essa Boa Nova (Mt 10,7). Depois de Pentecostes, o Reino fica sendo a perspectiva final da pregação evangélica.
Que é, exatamente, o Reino (ou reinado) de Deus que Jesus prega
A expressão “Reino de Deus” aparece 120 vezes nos evangelhos (em contraste com a palavra “Igreja” que aparece somente três vezes). O Reino de Deus é uma realidade misteriosa que só Jesus pode dar a conhecer. Ele, no entanto, a revela apenas aos humildes e pequenos, não aos sábios deste mundo (Mt 11,25).
É interessante observar que Jesus não define o Reino, mas conta muitas parábolas para mostrar o que o Reino exige para poder entrar nele.
O Reino deve crescer para dar abrigo a todos
Os judeus esperavam a vinda do Reino como retumbante e imediata. Jesus entende diferente. É como uma semente atirada à terra e que tem que crescer até se tornar uma árvore grande em que vão abrigar-se as aves do céu. O Reino acolherá em seu seio todas as nações, pois não está vinculado a nenhuma delas, nem mesmo ao povo judeu.
(Leia na Bíblia as três parábolas que estão em Mt 13,24-33 e observar o aspecto “crescimento” do Reino)
As fases sucessivas do Reino
Que o Reino seja chamado a crescer, supõe que ele precisa contar com o tempo. Faz entrever uma demora entre a inauguração histórica do Reino e sua realização perfeita. Jesus diz que, com ele, o Reino chegou. Quando os fariseus lhe perguntaram sobre o momento em que chegaria o Reino, ele respondeu: “O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer ‘está aqui’, ou ‘está ali’, pois o Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17,20-21). Quando Jesus foi acusado de expulsar demônios pelo poder de Beelzebu, ele se defendeu, dizendo “Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, é porque o Reino de Deus já chegou até vós. (Lc 11,14-20).
Jesus veio inaugurar o Reino. Na ressurreição ele toma lugar no próprio trono do seu Pai (Ap 3,21) e é exaltado à destra de Deus (At 2,30-35). Ao longo de todo o tempo da Igreja, a realeza de Deus se exerce por meio da realeza de Cristo, Senhor Universal.
No fim dos tempos, Cristo entregará a realeza a Deus Pai (1Cor 15,24) e os fiéis receberão a herança no Reino de Cristo e de Deus (Ef 5,5).
Mas, até lá, é missão da Igreja trabalhar para que o Reino cresça e se fortifique.
O Reino de Deus no tempo da Igreja
O Concílio Vaticano II diz que a Igreja é sinal e instrumento do Reino de Deus.
Enquanto sinal, ela mesma deve viver aquelas exigências pregadas por Jesus, dando vivo testemunho dessa realidade. Ela deve, constantemente, converter-se e procurar viver os valores do Evangelho nos próprios membros e na sua própria estrutura.
Enquanto instrumento, ela deve estar a serviço do crescimento desse Reino. A Bíblia mostra que o Reino de Deus é o horizonte da História. É o advento da humanidade unida, onde não haverá mais pobres e ricos, nem fracos e poderosos, e sim, partilha e fraternidade. É um Reino de paz, de partilha, de amor. É o grande SONHO DE DEUS que somos chamados a tornar realidade, já aqui nesta caminhada histórica. Deus nos fez parceiros para concretizar aquilo que ele não quer realizar sem a nossa cooperação.
Saborear, interiorizar, rezar
A grande oração do Reino é o “Pai-Nosso” que Jesus ensinou aos seus discípulos. Esta oração tem sete pedidos. O principal é “Venha a nós o vosso Reino”. Vamos interiorizar o sentido de cada pedido e ver a exigência que nos coloca. Depois, rezemos a oração toda, terminando com insistência: Pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém.
Inês Broshuis
Comissão para Animação Bíblico-Catequética do Regional Leste II
15.07.2012