O mundo em uma grão de areia
Havia um grão de menino no meio da praia
E dentro do menino havia a praia
E na praia, o vazio do mundo
E no mundo, a miudeza de um menino.
Havia na mudez do mundo o grito de todos os meninos
E no silêncio daquele menino, o ruído do mundo
E, na praia, só um menino
E, no mundo, o excesso de todos os homens.
Havia sal naquele corpo do menino
Tanto sal que destemperou o mundo
E insosso o mundo ficou sem menino
E, sem aquele menino, que o valor de todos os homens do mundo?
O que houve com aquele menino?
Teria chorado antes de naufragar?
Teria sentido fome ou vontade de brincar?
Teria sentido a dor que deveras morre o mundo?
O que haverá no mundo sem aquele menino?
Se amar não fosse tão vazio
Se o mar não estivesse tão cheio ...
Ó mundo ! Tuas sobras ir à praia
Mas se suas praias naufragaram-se naquele menino.
Ó pobre garoto!
Em seus ombros há nossa pobreza
E dos nós que amarram o mundo, o teu corpo pequeno desatou-se na natureza mar
Sem visto, sem dono, sem ninguém, aquém de todos caíste em nossos braços.
De olhos cerrados, com medo do mundo, este corpo salgado não teve chão para pisar.
Havia um grão de menino jogado nas margens do mundo
E do olho da solidão do menino sem nome, a solidez do mundo numa ilha.
A seus náufragos ouvidos, resta-nos cantar: Dorme em paz, ó menino
Do sal de tantas lágrimas e de tantos outros meninos, choramos o mar de teu sono.
Pe. Gilvair Messias
Roma – 07.09.2015