Mais uma vez o tempo me assusta.

Passa afobado pelo meu dia,

atropela minha hora,

despreza minha agenda.

Corre prepotente

a disputar lugar com a ventania.

O tempo envelhece e não se emenda.

 

Deveria haver algum decreto

que obrigasse o tempo a desacelerar

e a respeitar meu projeto.

Só assim, eu daria conta

dos livros que vão se empilhando,

das melodias que estão me aguardando,

das saudades que venho sentindo,

das verdades que eu ando mentindo,

das promessas que venho esquecendo,

dos impulsos que sigo contendo,

dos prazeres que chegam partindo,

dos receios que partem, voltando.

 

Agora, que redijo a página final,

percebo o tanto de caminho percorrido

ao impulso da hora que vai me acelerando.

Apesar do tempo e sua pressa desleal,

agradeço a Deus por ter vivido,

amanhecer e continuar teimando.

 

Flora Figueiredo