Não é ficção nem simbologia. 

São homens sem abrigo, 
excluídos da luz, à espera 
de um mês propício para morrer. 
Em seus sonhos não há sol 
e possuem nos pés sem pátria 
todos os vestígios de fuga. 
A pele magoada de ardis 
tem o mesmo cheiro do rio na maré-vaza. 
Sobre os seus ombros apenas a noite: 
sempre tão húmida, sempre tão humilhante. 
 
Graça Pires 
De A solidão é como o vento, 2020, p. 52
imagem: Adriano Miranda