Filme: A Cura (“The Cure”)

Diretor: Peter Horton

Ano: 1995

Duração: 99 minutos

Classificação: Livre

Categoria: Drama

 

  

1 - “A Cura” é uma maravilhosa película dirigida por Peter Horton e escrita por Robert Kuhn. Ficamos emocionados diante da beleza de sua trama. Nela experimentamos e saboreamos o nascimento de uma verdadeira e profunda amizade. O desabrochar da ternura, da sensibilidade e da amizade entre os dois garotos protagonistas, Erik e Dexter, nos remete a uma séria avaliação de nossas relações humanas.

 

2 - Erik, garoto triste e solitário, criado apenas pela mãe (que tem grande dificuldade de compreensão e comunicação com o filho; apresenta-se sempre estressada e mal humorada pelo excesso de trabalho). Além de viver sem a presença próxima do pai, Erik é estigmatizado e evitado na escola, tratado como “bicha” (homossexual), por ter se tornado vizinho de um garoto soro-positivo, chamado Dexter. Toda a sua angústia e raiva se expressam em brincadeiras violentas e destruidoras ou por uma agressividade, às vezes sem controle.

 

3 - Dexter, também um garoto triste e portador de uma doença incurável (AIDS). Apesar do grande carinho e dedicação de sua amável e compreensiva mãe, sente-se solitário. Sem amigos e vítima do preconceito social, Dexter é taxado de “aidético” e “bicha” em seus apenas 11 anos de idade. Garoto de uma sensibilidade profunda o que torna uma pessoa simpática e encantadora. Era realmente alguém puro e especial.

 

4 - Com sua simpatia e fragilidade contagiantes, Dexter toca o coração de Erik. Este embora alertado, pelo preconceito e ignorância de sua mãe, não se detém no medo. Ao contrário, sente-se desafiado. É capaz de pular o muro da separação e da exclusão. Toma a iniciativa e vai ao encontro de Dexter. Estabelece relação. A princípio temeroso, mas depois como companheiro inseparável e amigo de todas as horas.

 

5 - Ao tomar conhecimento da doença de Dexter, os dois amigos iniciam uma incansável busca pela “cura”. Primeiramente através da ingestão de inumeráveis chocolates, em seguida, após assistirem ao filme “O curandeiro da floresta”, com inúmeros e perigosos chás de plantas que mal conhece. E nessa frenética busca da cura, Dexter é quase envenenado por um desses chás e vai parar no hospital. A mãe de Erik o espanca e decide enviá-lo para um acampamento de férias.

 

6 - Os dois amigos encontram, num jornal sensacionalista, esperançosa notícia. Um médico dizia ter encontrado a cura da AIDS, através de milagroso e misterioso chá, no Estado de Nova Orleans. Erik convence Dexter a viajarem em busca de sua cura. Nessa longa viagem cresce a cumplicidade entre os dois. Dexter partilha com Erik seus sentimentos mais íntimos de medo. Medo da escuridão, medo da solidão, medo da proximidade da morte, de que a morte seja o fim. Erik, com enorme sensibilidade, o compreende e se faz próximo. Dexter encontra a paz da presença de um verdadeiro amigo. Depois de grandes aventuras, Dexter fica muito fraco e Erik decide levá-lo de volta para casa. Dexter é internado no hospital, e aí viverá, com alegria e fantasia, seus últimos dias.

 

7 - O que nos impressiona nesse filme é a profundidade da amizade entre os dois garotos. Conseguiram viver aventuras e alegrias até nos últimos momentos de vida de Dexter. Foram inseparáveis antes e até depois da morte. Numa cena de rara beleza e profundidade, a cena do velório, Erik coloca seu tênis nas mãos de Dexter (como na cena da barraca). Erik leva também um dos sapatos de Dexter. Ele busca vencer o medo do vazio, da solidão e da morte A delicadeza do gesto expressa a criatividade humana de vivenciar a indubitável experiência da morte. É por essa e por outras que fomos capazes de criar as religiões. O filme expressa sua mensagem central: o amor é a cura de nossos males, o amor é mais forte do que a morte! A grande utopia humana de que a amizade, o carinho e o amor familiar, os nobres sentimentos, enfim, ultrapassem as barreiras da morte.

 

8 - Para terminar podemos dizer que uma vida, ainda que curta (afinal Dexter tinha apenas 11 anos), somente encontra sentido se experimentar verdadeiramente o amor. E Dexter foi amado e amou verdadeiramente... Assim olhando as doenças de todos nós e de nosso mundo, com tantas pessoas desumanizadas, com a natureza sendo destruída, entendemos o título do filme: “A Cura”. Podemos afirmar, juntos com a mãe de Dexter a Erik: “Dexter morreu curado de suas doenças, de sua solidão e de sua tristeza”. E para nós fica o imenso desejo de que também nós encontremos “a cura” de nossas desumanizações.

 

“Só adquire sentido, verdadeiramente humano, a vida que experimentou, com sabor, as profundezas do amor. O sentido da vida é fruto de boas vivências na família, nas amizades e na fé.”

 

Obs: É possível assistir(baixar) o filme pela internet. Mas, encontra-se também em locadoras.

 

 

Edward Neves M. de B. Guimarães

Educador, teólogo e professor do IRPAC

01.12.2012