O filme em questão tem um nome sugestivo: “A Corrente do Bem”. Podemos dizer que ele apresenta uma espécie de parábola moderna do otimismo na bondade do ser humano. Trata-se de uma versão americana da crença de que todo ser humano traz dentro de si uma atração pela força do bem. A aposta dessa idéia utópica estaria numa espécie de corrente de ações generosas, acreditando que esta levaria as pessoas, por ela alcançada, a uma nova consciência humano-social. A experiência de gratuidade vivenciada nestes pequenos gestos de delicadeza e bondade teria uma força contagiante que levaria a uma mudança nas relações entre as pessoas. Em linguagem religiosa chamamos essa mudança de conversão. Assim envolvidas essas pessoas descobririam que nem tudo está perdido. E que poderiam, portanto, acreditar que é possível a construção de um mundo melhor a partir de novas atitudes.
No primeiro dia de aula, os alunos da 7ª série são desafiados pelo novo professor de Estudos Sociais, o Sr. Simonet. Este demonstra a seus alunos que a disciplina Estudos Sociais trata de uma relação que eles não podem ignorar, a relação de cada um deles com o mundo. E através de provocantes e instigantes perguntas desperta neles o espanto, a admiração e a atenção: “É possível uma ideia mudar o mundo?, O que o mundo significa para vocês?, O que o mundo espera de vocês?, Vocês estão preparados para estabelecer com o mundo uma relação de liberdade? Mas e se o mundo for, para vocês, uma grande decepção?”.
Já nesta primeira aula, o Prof. Simonet propõe a eles um curioso e utópico trabalho escolar, que duraria o ano inteiro e que deveria começar com uma maior observação da realidade do mundo e da realidade através dos noticiários, jornais, etc:
“Ter uma ideia para mudar o mundo
- e colocá-la em prática.
Impossível ou possível? Deixar esta idéia atrofiar ou se surpreender com ela? Qual a melhor forma de se posicionar? E o novo professor dizia a seus alunos, distribuindo a eles um dicionário: “em nossas aulas vamos aprender a amar as palavras e seus significados”, pois é através delas que expressamos aos outros quem somos. Neste momento surge o maravilhoso, puro e cativante estudante Trevor, com sua exigência de coerência, devolve a pergunta ao professor, diante da desafiante proposta: “Sr Simonet, o que o senhor faz para mudar o mundo?”. E este o responde: “Eu faço a minha parte, preparando bem minhas aulas, chego aqui na sala e passo a bola para vocês”.
Trevor resolve conhecer a periferia de sua cidade e tem uma idéia brilhante para seu trabalho: “A corrente do bem”, ou, como mais tarde explicou o prof. Simonet, meu trabalho é “um ato de fé extremo na bondade humana”. Em sua busca de colocar sua idéia em prática, Trevor conhece Jerry, um mendigo viciado em drogas, cuja vida perdeu o sentido e o horizonte. Convida-o, com coragem e audácia, para jantar em sua casa. Trevor explica para este o seu trabalho escolar e diz que ele tem que “passar para frente”, para, pelo menos, mais três pessoas. Trevor é filho único, criado apenas pela mãe, Arlene. Esta, como sua mãe, Grace (que vive pelas ruas, num carro) e seu ex-marido, Ricke (que a abandonou), é alcoólatra, e trabalha como garçonete noturna. Uma batalhadora mulher e dedicada mãe. Trevor faz sua mãe prometer-lhe que largaria a bebida. Sua mãe leva um susto com o fato de seu filho colocar um mendigo dentro de casa. Este tenta explicar que se tratava de um trabalho escolar. Arlene vai até a escola tirar satisfações com o professor que deu um trabalho arriscado como esse para seu filho. E desse encontro entre Arlene e o Sr Simonet acabará brotando uma bonita e desafiante relação, cujo mérito maior será, para além do romance, curar-lhes a solidão. Esta relação mudará suas vidas para sempre.
Chris Chandler, um curioso repórter, tem seu carro destruído durante um assalto. Este recebe, de um modo “estranho” e gratuito, um lindo jaguar de presente de um desconhecido, no meio da noite e da chuva. Descobre tratar-se de Thorsen, um influente e bem sucedido advogado. Busca compreender esta estranha generosidade e descobre que ele apenas estava “passando para frente”, o gesto de bondade recebido num ponto socorro, feito por um desconhecido assaltante, chamado Sydney, que salvou a vida de sua filha. E começa uma investigação sobre a origem desse estranho “passe para frente”. Chandler ajuda Sydney na prisão e consegue a informação de que este fora ajudado por uma mendiga em Nova York. E continua sua investigação até descobri que esta mendiga era Grace, a avó alcoólica de Trevor. Toma conhecimento que esta havia sido perdoada por sua filha, Arlene. E que esta aprendeu a perdoar, sendo perdoada por Trevor, quando voltou a beber, traindo-lhe a confiança.
A “corrente do bem” se espalha... Jerry, apesar de suas recaídas nas drogas, consegue “passar para frente” ao impedir que uma mulher suicide. Disse a ela: “Salve a minha vida, você é a minha última chance”. Chandler descobre a origem da contagiante “Corrente de generosidade” e pede a Trevor que lhe conceda uma entrevista explicitando o significado de todo esse movimento. Nesta entrevista ele nos diz:
“As pessoas tem muito medo de pensar que as coisas podem mudar. Mas o mundo não é feito somente de ‘merda’. Eu sei que é difícil para quem se acostumou com as coisas como elas estão. E por ser difícil mudar, as pessoas desistem... Quando isso acontece, todo mundo sai perdendo... A minha idéia é essa: não dá para planejar, você precisa observar mais as pessoas ao seu redor e buscar protegê-las. Mas nem sempre a gente sabe do que elas precisam... Esta é a grande chance de consertar uma coisa que não seja apenas a sua bicicleta ou seu carro... Dá para ‘consertar’ uma pessoa!?”.
Após a entrevista, Trevor, um menino que nos lembra a pureza e a sensibilidade contagiante do “Pequeno Príncipe”, ao tentar salvar um amigo de uma surra covarde, torna-se vítima da violência. Dá a sua vida, na crença de que se dependesse dele o mundo seria melhor. A fragilidade da vida de Trevor torna-se símbolo da fragilidade dos sonhos de um mundo de paz. A vida é frágil, mas é exatamente aí que se encontra a sua força. Pois nos lembra que devemos todos aprender a “saber cuidar”. O cuidado, a sensibilidade afetiva com o outro, a educação para a paz e para a solidariedade tornam-se uma urgência de primeira grandeza. É tarefa de todos nós. Depende de cada um e de todos nós.
No final do filme, numa cena emocionante, de todos os lugares, as pessoas caminham até a casa de Trevor, e aí acendem uma vela, talvez “a frágil chama da esperança e do compromisso” com o “passar para frente” os gestos concretos em busca de uma cultura da paz e da solidariedade. Para terminar podemos dizer que esta “corrente” depende do compromisso e da fidelidade de cada um de nós, no empenho de fazer a nossa parte. É preciso acreditar na força dos pequenos gestos. Lembre-se o futuro melhor para todos depende de mim e de você.
Edward Neves M.B. Guimarães
Comissão Regional Bíblico-Catequética do Leste 2