Ninguém se cura sozinho. Ninguém ultrapassa as tempestades, os barcos revirados, a água que se engole ou o vento cortante sem a ajuda de ninguém. O processo de cura de cada um, ainda que profundamente individual e altamente solitário, é (ainda) um processo de comunidade. De partilha profundíssima capaz de revolver crenças, raízes e, até, a própria alma. É sobre estas pessoas que vale a pena falar. Sobre os que nos mudam a vida para melhor, sem contrapartidas e, tantas vezes, com prejuízo pessoal.

 

Este texto é para quem não se assusta com a nossa escuridão.

Para quem entra no barco, segura nos remos e diz: “vamos por aqui”.

Para quem nos acende a luz de dentro com a sua.

Para quem vem para ficar.

Para quem nos diz o que precisamos de ouvir.

Para quem nos mostra o que precisamos de ver.

Para quem nos revela as fotografias da alma, que nem sabíamos que existiam, algures por ali.

Para quem é genuinamente bom.

Para quem luta do lado do Bem.

 

Para quem se atreve a ficar connosco quando somos pouco, fazemos pouco e sabemos ainda menos.

Para quem nos segura o leme quando a nossa vida é um navio prestes a embater no maior iceberg.

Para quem não desiste de nós e não se perturba pelas nossas fragilidades.

 

Para quem nos encontra a meio caminho.

Para quem reza por nós.

Para quem se preocupa.

Para quem cuida de nós com o carinho que nem sempre merecemos ou sabemos retribuir.

 

Que saibamos cuidar das nossas pessoas-leme. Das nossas pessoas-resgate. Que vêm para nos mostrar que o Bem há de ganhar sempre. Seja qual for o mal que nos apareça.

Marta Arrais

In: imissio.net 20.09.23

Imagem: pexels.com