Entrevista com Neuza Silveira de Souza, coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte. 


1. Há quanto tempo é catequista?
Sou catequista desde 1985.

2. Como foi o despertar de sua vocação?
Desde muito cedo, na minha cidade natal, eu gostava de ir à missa e ficava olhando as catequistas cuidando das crianças, na Igreja. Tínhamos um padre que na hora da homilia ele gostava de conversar com as crianças, fazer perguntas e eu me encantava com a cena e dizia para mim mesma: um dia vou ser catequista. Passado um tempo e já em outra cidade, uma oportunidade surgiu na minha vida quando a paróquia ofereceu uma formação de catequese. E quem era a assessora? A Inês Broshuis. Na época, ela era assessora da CNBB e estava fazendo a divulgação do documento “Catequese Renovada”. Com a formação recebida, me apaixonei pela catequese e tive a certeza do que realmente queria - ser catequista.

3. Quais são os desafios enfrentados por uma pessoa que é catequista?

Grandes são os desafios. O catequista tem a missão de ajudar outras pessoas a fazer uma experiência de se colocar no seguimento de Jesus. Para que isto aconteça, ela mesma tem de estar no seguimento, tem de conhecer a Palavra, tem de ter disponibilidade, compromisso, tem de primeiro ter feito a experiência do encontro com Jesus. A ação catequética é um processo de crescimento na fé, e o catequista precisa descobrir e compreender a pedagogia de Deus, a pedagogia de Jesus e pedagogia da Igreja para bem fazer ecoar a Palavra de Deus e ajudar as pessoas a crescer na fé. Necessário também conhecer a realidade do catequizando: o ambiente, a família, como vivem, etc. O catequista é um educador da fé. Precisa se preocupar com a sua própria formação. Tem que adequar a linguagem de acordo com a idade dos catequizandos para conseguir passar a mensagem. Qual a melhor forma de realizar dinâmicas que ajudam no processo de transmissão do conteúdo, a criar relações..

4. Qual a maior alegria que a função de Catequista trás para a vida da Senhora
A alegria de estar servindo. De se colocar ao serviço da Palavra e sentir que ela faz eco na vida das pessoas, ela produz brilho no olhar e pode levar ao apaixonamento por Jesus. Isto porque nós catequistas, pela própria essência de nossa vocação, somos chamados a olhar para Jesus e inspirar-se na sua prática. Ele é o modelo que nos confere identidade e molda nosso coração. E, assim com seu agir nos encanta, somos movidos para também encantar nossos catequizandos. Diz o Papa Francisco que nós catequistas, além de mestres e mistagogos, somos especialistas na arte do acompanhamento (EG,n. 169-173, tem competências educacionais, sabe ouvir e entrar na dinâmica do amadurecimento
Humano. Essas considerações envolvem todo nosso ser e produz muita alegria em nós, fazendo-nos sentir impulsionados para ir ao encontro do outro, mostrar nosso amor e nos dispor a doar, a fim de nutrir o crescimento espiritual das pessoas e de nós mesmo para juntos caminhar e trabalhar para a edificação do Corpo de Cristo no nosso meio.

5. O que o Catequista pode representar na vida de uma pessoa que está se iniciando na vida cristã?

O Catequista é sempre modelo para seus catequizandos. Assim, ele precisa estar atento, dar testemunho de fé e de vida, ser comprometido com suas atividades. Ele é um cristão que, respondendo ao chamado particular de Deus, ele se torna responsável para se ao serviço de transmissão da fé e missão de iniciar as pessoas à vida cristã, constituindo, assim, o corpo eclesial da Igreja, da qual Cristo é a cabeça. Diz o Diretório para a catequese que o Catequista custodia (abriga, acolhe), alimenta e testemunha a vida nova que dele vem e se torna sinal para os outros (DpC n. 113). Mas não esqueçamos que o protagonista é sempre o Espírito Santo. Sem ele, nada somos). Ao catequista sempre foi dado o ministério da Palavra, por confiança da Igreja. Hoje, o catequista é um ministro instituído pela Igreja, representando-a, dentre outros, na formação de discípulos missionários de Cristo.

6. Qual o conselho que a senhora dá para uma pessoa que sente o chamado para ser catequista?

Seja sempre confiante, perseverante. O trabalho do catequista é uma dádiva de Deus. É uma missão e exige compromisso. Somos chamados a ser semeadores da Palavra, cuidadores da criação, e exercemos nosso ministério pela graça que provém de Deus. Semeamos partilhando nossas experiências no campo da existência humana. Elas florescem como flor do campo, que ao bater-lhe um vento, desaparece, mas deixa lugar para ao amor de Deus penetrar e florescer, fazendo habitação do coração do irmão. O Catequista é o mensageiro da voz de Deus. Ele empresta sua voz para Deus falar. Assim, nunca desista, seja sempre catequista corajoso, forte, mas também humilde e perseverante, na certeza de que Deus caminha junto.

7. Quais os passos para se tornar um bom catequista?
Primeiro descobrir sua vocação. A nossa vida de fé cristã é comunitária. Da comunidade brota vocações. O catequista se torna uma pessoa de referência dentro da comunidade evangelizadora.
Precisa gostar e se dispõe a dialogar com crianças, jovens e adultos.
Participar das atividades propostas e necessárias na vida da comunidade.
Desenvolver sua espiritualidade de Catequista. O/A Catequista não nasce catequista, mas se torna catequista e tem de trabalhar sua pessoa, ter forte espiritualidade para ser capaz de mostrar e iluminar os caminhos da fé, buscar conhecimentos sobre a Palavra de Deus e, principalmente, fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus, pois a Catequese tem como centralidade, a pessoa de Jesus Cristo (sua vida, paixão, morte e ressurreição.
Precisa ser uma pessoa de oração.
Buscar formação permanente
Estar atento à realidade olhando para os fatos da vida com o olhar da fé.
Ter consciência crítica diante de fatos e acontecimentos.
Nesse tempo de pandemia, o catequista precisa se reinventar constantemente, viver intensamente o amor de Deus e levar amor para seus catequizandos.

8. Princípios para que uma pessoa seja um bom catequista
- Confiança. Acreditar no que fazemos e ensinamos
- Mistagogia - Mergulhar no mistério – o Cristo
- Interação fé e vida Na catequese aprendemos sobre Jesus. Na liturgia encontramos a fonte e o cume da vida cristã. Na catequese, o catequista representa Jesus. Na liturgia, o catequista é o próprio Cristo e nós experimentamos Jesus.
- Princípio da missionaridade: missão social e comunitária. O catequista é um missionário.
- Comunicação e linguagem – O Catequista é um comunicador
- O catequista precisa ter também certas qualidades "humanas":
- Ser uma pessoa psicologicamente equilibrada;
- Ser uma pessoa responsável e perseverante. Responsabilidade e pontualidade são necessárias;
- Saber trabalhar em equipe, ter uma certa liderança e ser criativo;
- Ter amor aos catequizandos e ter noções de psicologia, didática e técnica de grupo;
- Sentir dentro de si a vocação de catequista.

Equipe do Catequese Hoje

29.08.2021