O que te peço, Senhor, é a graça de ser.

Não te peço sapatos, peço-te caminhos.

O gosto dos caminhos recomeçados, com suas surpresas e suas mudanças. 

Não te peço coisas para segurar,

mas que as minhas mãos vazias se entusiasmem na construção da vida.

Não te peço que pares o tempo na minha imagem predileta,

mas que ensines meus olhos a encarar cada tempo como uma nova oportunidade.

Afasta de mim as palavras que servem apenas para evocar cansaços, desânimos, distâncias.

Que eu não pense saber já tudo acerca de mim e dos outros.

Mesmo quando eu não posso ou quando não tenho,

sei que posso ser simplesmente.

É isso que te peço, Senhor:

a graça de ser de novo.

 

José Tolentino Mendonça

padre e poeta português

In: Um Deus que dança.