O Catecumenato – Segunda etapa da Iniciação Cristã

O caminho do amadurecimento da fé, percorrido nos primórdios da Igreja era exemplar. Dispunha de uma metodologia com progressiva interação entre catequese, celebração e vivencia da fé. Hoje não se pode falar em repetir os ritos do catecumenato antigo. Eles são como modelo inspirador. Mas conhecer e aplicar sua pedagogia própria em itinerários de educação da fé ajuda a caminhada da catequese que precisa ir além da preparação dos sacramentos e penetrar no conhecimento do mistério de Cristo, na vida evangélica, na oração e celebração da fé e no compromisso missionário, provocando uma profunda transformação interior nas pessoas.

A partir da segunda metade do século XX, a catequese, orientada para uma inspiração catecumenal, faz redescobrir a importância fundamental da Iniciação Cristã e o lugar primordial que nela cabe a comunidade.

À catequese de Iniciação Cristã corresponde estruturar a conversão a Cristo, proporcionando as bases para essa primeira adesão. Os convertidos, mediante “um ensinamento de toda a vida cristã e uma aprendizagem devidamente prolongada no tempo” (AG 14) são iniciados no estilo de vida evangélico e nos mistérios da salvação.

Tem como objetivo iniciar na plenitude da vida cristã. Torna-se fundamental para a Igreja no seu conjunto e para cada uma das Igrejas particulares, e dela faz parte integrante o catecumenato em várias etapas, proposto pelo Ritual da Iniciação Cristã dos Adultos (RICA). Como processo de conversão, é essencialmente gradual e cristocêntrico. Prioritariamente, tem como interlocutores os adultos, pois são eles que assumem mais diretamente, na sociedade e na Igreja, as decisões que favorecem ou dificultam a vida comunitária, a justiça e a fraternidade.

O Catecumenato é dedicado à Catequese (formação) e aos ritos (celebração) terminando no dia da eleição, ou seja, no dia em que os catecúmenos serão admitidos para participarem dos sacramentos. Sua duração pode ser de vários anos. Este tempo não é determinado pelo Ritual de Iniciação Cristã (RICA). Compete às Dioceses, em suas Diretrizes, dar orientações a respeito. O rito de “instituição dos catecúmenos”, é importante porque os candidatos, reunindo-se publicamente pela primeira vez, manifestam suas intenções à Igreja, e esta, acolhe os que pretendem tornarem-se seus membros.

Para esse primeiro passo, requer-se que os candidatos já possuam os conhecimentos básicos da vida espiritual e os fundamentos da doutrina cristã, a saber: a fé inicial adquirida no tempo do “pré-catecumenato”, o princípio de conversão e o desejo de mudar de vida e entrar em relação pessoal com Deus em Cristo.

Desde o momento da admissão, os catecúmenos, cercados pelo amor e a proteção da Mãe Igreja como pertencendo aos seus e unidos a ela, já fazem parte da família de Cristo: São alimentados pela Igreja com a palavra de Deus e incentivados por atos litúrgicos.

O RICA lembra que não basta às pessoas conhecerem os dogmas e preceitos. É preciso vivenciar o mistério da salvação do qual desejam participar plenamente. Assim, o catecumenato é um espaço de tempo em que os candidatos recebem formação e se exercitam praticamente na vida cristã. Desse modo adquirem madureza às disposições que manifestaram pelo ingresso. Chega-se a esse resultado por quatro meios:

  1. a) – A catequese, ministrada por catequistas e outros leigos, distribuída por etapas integralmente transmitidas, relacionadas com o ano litúrgico e apoiada nas celebrações da palavra, leva os catecúmenos, não só ao conhecimento dos dogmas e preceitos, como à íntima percepção do mistério da salvação de que desejam participar.
  2. b) – Um segundo meio do catecumenato é a própria prática da vida cristã. Familiarizados com esta prática, ajudados pelo exemplo e as contribuições dos introdutores e dos padrinhos e mesmo de toda a comunidade dos fiéis, acostumam a orar mais facilmente, a dar testemunho da fé, guardar em tudo a esperança no Cristo, seguir na vida as inspirações de Deus e praticar a caridade para com o próximo. No processo de formação, conhecendo a Palavra e se pondo no seguimento do Cristo “os recém-convertidos” são estimulados a fazerem sua passagem de um mundo velho para um mundo novo. Uma passagem, que acarreta uma progressiva mudança de mentalidade e costumes, com suas consequências sociais que vai se manifestando e desenvolvendo pouco a pouco durante o tempo do catecumenato.
  3. c) – Um terceiro meio de formação na fé privilegiado pelo catecumenato é a própria participação litúrgica dos catecúmenos. Através dos ritos litúrgicos apropriados, já são por eles gradativamente purificados e protegidos pela benção divina. Promovem-se para eles celebrações da palavra e lhes é mesmo proporcionado o acesso à liturgia da palavra junto com os fiéis, devem ser delicadamente despedidos antes do início da celebração eucarística se isso não acarretar grandes dificuldades, pois precisam esperar o Batismo pelo qual serão agregados ao povo sacerdotal e delegados para o novo culto de Cristo. O tempo deste período depende de diversas circunstâncias. Convém que as Dioceses, considerando as condições dos povos e regiões, estabeleçam a esse respeito normas mais precisas.
  4. d) – Os catecúmenos, ainda não possuindo a graça dos sacramentos, recebam da Igreja coragem, alegria e paz para continuarem o trabalho e a caminhada; aprendam, pelo testemunho de vida e a profissão de fé, a cooperar ativamente para a evangelização e edificação da Igreja.

O catecumenato visa a “vida cristã integral”. A formação nesse tempo leva os catecúmenos à iniciação “no mistério da salvação e na prática dos costumes evangélicos” e introdução “na vida de fé, da liturgia e da caridade.

Continuaremos nossa reflexão.

Neuza Silveira de Souza

Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte

 07.11.2020