A revelação é fruto do querer de Deus. Querer fundamentado naquilo que Ele é: Amor. Cristo é a plenificação da revelação de Deus. Quem o vê, vê o Pai (Jo 14,9). O homem criado à imagem de Deus, chamado a conhecê-lo e amá-lo, e que o procura, descobre as várias vias de acesso para aceder ao conhecimento sobre Deus.

Etimologia da Palavra “Revelação”

A palavra revelação etimologicamente significa remoção de um véu, ou seja, descobrir. No Concílio Vaticano I (1869-1870), em sua Constituição sobre a fé católica, a Revelação é descrita como a manifestação sobrenatural de Deus “de si mesmo e dos decretos eternos de sua vontade”; No Concílio Vaticano II (1962-1965), na Constituição Dei Verbum, Revelação é descrita como a ação pela qual Deus livremente torna conhecido o propósito escondido da vontade divina e, amorosamente, fala aos seres humanos como amigos, convidando-os “à comunhão consigo”. Na Dei Verbum, Cristo é apresentado como mediador e plenitude da Revelação. Ele nos revela: quem é Deus, quem somos nós e qual é a nossa vocação.

Deus se comunica com o homem por meio da revelação

A Palavra de Deus, como princípio dinâmico, é comunicada ao homem pelo processo da Revelação, que é um ato criador, já que é o principio de uma nova sociedade espiritual que transcende à ordem temporal da cultura e coloca o homem em contato com uma ordem superior de realidade. Não há local em que essa ideia de revelação divina tenha sido expressa de maneira tão forte e identificada com a tradição da cultura como no caso de Israel. Esse povo, que tinha um modo de vida incorporado numa lei moral e em uma história sagrada que os separava de todos os outros povos do mundo antigo, foi escolhido entre as nações para ser testemunha de Deus e portador da Revelação divina. O chamado foi feito num período remoto da história, quando Deus chamou Abraão para deixar seu lar em Harã, junto do rio Eufrates, e se tornar o fundador de um novo povo, numa nova terra.

Mais tarde, os descendentes de Abraão, depois de terem se misturado aos povos do Egito e passado pela experiência da escravidão, eles se tornaram um povo reconhecido como nação a partir do êxodo e da aliança no Monte Sinai, tornando-se um povo consagrado assim como Abraão. Moisés, um profeta individual, foi apresentado como o salvador do povo para retirá-lo do Egito, como o canal da revelação divina e o doador da lei divina.

A lei divina, revelada a Moisés e elaborada conforme os ensinamentos dos sacerdotes e profetas, torna-se essência dos ensinamentos ao povo de Israel: Primeiro, a história sagrada da vocação e libertação de Israel; segundo, a aliança de Iahweh com Israel como a forma constitutiva de existência e, em terceiro, os encargos e obrigações morais impostas a Israel, pela lei, condição da aliança.

“Pois tu és um povo consagrado a Iahweh teu Deus; foi a ti que Iahweh teu Deus escolheu para que pertenças a ele como seu próprio povo, dentre todos os povos que existem, sobre a face da terra. Se Iahweh se afeiçoou a vós e vos escolheu, não é por seres o mais numeroso de todos os povos, pelo contrário: sois o menor dentre os povos, e sim por amor a vós e para manter a promessa que ele jurou a vossos pais; por isso Iahweh vos fez sair com mão forte e te resgatou da casa da escravidão… Observa, pois, os mandamentos, os estatutos e as normas que eu hoje te ordeno cumprir” (Dt 7, 6-8; 11).

A revelação Judaica foi uma revelação criadora. A aliança com Israel era uma comunhão viva ou, como os profetas a descrevem, um casamento sagrado. Esse é o tema que perpassa toda a Escritura, não só nas leis, mas nos livros dos profetas e nos salmos e é repetido de forma sumária no início da pregação apostólica. Esse ensinamento continua valendo para os cristãos modernos, pois ainda vemos neles não só o próprio “mistério de Israel”, mas a preparação indispensável para a Revelação cristã e a vida da Igreja.

Neuza Silveira de Souza
Comissão para Animação bíblico-catequética do Regional Leste 2