A V Conferência de Aparecida tem como uma grande preocupação em relação a formação dos leigos. Sem uma adequada formação, diz o documento, não é possível a ninguém assumir um compromisso na comunidade eclesial, bem como, não se pode assumir uma missão no mundo ou na Igreja. A formação dos fiéis leigos para que sejam discípulos missionários é de vital importância, e afirma ser urgente uma formação integral dos cristãos leigos para atingir essa finalidade que é anunciar a chegada do Reino de Deus. Essa mesma preocupação vigora ainda hoje quando se pensa a Catequese com inspiração catecumenal e chama atenção para os adultos que, embora batizados, ou seja, já iniciados pelos sacramentos, mas insuficientemente evangelizados.

Nos Evangelhos encontramos textos com os ensinamentos de Jesus sobre o trabalho missionário e deixa claro que a missão não é tarefa só de alguns, mas é um trabalho de comunhão e de todos os cristãos. A formação não pode perder de vista o caminho a percorrer sempre com a centralidade no encontro em profundidade com Jesus Cristo. Nesse encontro se percebe o ‘lugar teológico da origem da Iniciação Cristã. Nesse caminho o discípulo vai, cada vez mais, se assemelhando com o Mestre e o serviço ao Reino de Deus.

Em meio à vida comunitária, cada cristão se faz missionário à medida que deixa fluir de si mesmo o amor de Deus que transparece ao outro pelo seu testemunho de vida. Ser “missionário” é uma propriedade fundamental do “ser cristão” e o núcleo central da missão cristã é dar testemunho. O Papa Francisco em uma de suas mensagens sobre a missionariedade: o cristão é missionário “na medida em que testemunha o amor de Deus”. Mais do que testemunhar a fé ou as convicções religiosas, mais do que ensinar verdades, o missionário evangeliza pelo testemunho do amor misericordioso de Deus.

Nesse sentido, a Iniciação à Vida Cristã, tema central da realidade atual, é considerada importante para a caminhada da Igreja no cumprimento do mandato missionário deixado por Jesus. Esse mandato de Jesus é um chamado de vocação cristã. Todo cristão é convocado para a missão de anunciar Jesus Cristo, de proclamar sua Palavra, de proporcionar o encontro do irmão na fé com Jesus Cristo, pois toda vida humana é “um estar com o Senhor”.

O ‘ser cristão’ carrega consigo o estilo de vida de Jesus, pois a raiz missionária é a nova experiência de Deus que Jesus nos trouxe: Deus é Abba, Pai. Essa é a Boa Notícia que ele anuncia. Sendo Deus Pai, somos todos irmãos. Mas o que se percebia no estilo de vida das pessoas, no tempo de Jesus, bem como a realidade atual, era todo um estilo de vida contrário à vida fraterna que Deus sonhava para seu povo. Tanto a situação social e política como a situação religiosa era a negação do ideal do Reino de Deus.

Diante da situação irregular vislumbrada por Jesus, ele toma a iniciativa de ir proclamar o amor ao Reino, conforme sua experiência de Deus. No Evangelho de Lucas 4, 18-19 pode-se ter em mãos o programa de ação de Jesus:

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a Boa Notícia aos pobres, enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos, e para proclamar um ano de graça por parte do Senhor”.

Segundo o teólogo, Frei Carlos Mesters, pode-se tirar desse enunciado de Jesus cinco propostas bem concretas:

1. Ser uma boa nova para os muitos pobres e empobrecidos;
2. Trazer a libertação para as pessoas aprisionadas na injusta prisão dos romanos e na falsa prisão da letra que mata (cf. 2Cor 3,6);
3. Eliminar a cegueira tanto dos olhos do corpo provocada pela doença, como dos olhos do espírito provocada pelo “fermento dos fariseus e dos herodianos” (Mc 8,15);
4. Conseguir a liberdade para os que viviam oprimidos pela dureza tanto da lei religiosa como da lei tirânica de Herodes e dos Romanos;
5. Recomeçar a história por meio da proclamação de um novo ano Jubileu.

Essa missão, que Jesus recebeu do Pai, é a mesma que ele comunica aos discípulos e discípulas e a todos nós: “Como o Pai me enviou assim eu envio vocês” (Jo 20,21). No seu tempo, Jesus viveu e ensinou o povo a viver. O seu programa missionário foi o seu modo de vida que ele colocou em prática. Sabedor de que a plataforma de onde se parte para a Missão é a comunidade, e que esta precisa se encontrar em vida nova, vida de fraternidade, Jesus veio ajudar a comunidade ser como o rosto de Deus, transformado em Boa Nova para o povo.

Essa experiência de vida de comunidade como rosto de Deus quem vai nos ajudar a descobrir é a comunidade do Evangelista Marcos que, partindo da experiência de vida de Jesus, ajuda sua comunidade a concretizar a experiência missionária oferecendo a elas sete pontos básicos importantes que orientou a caminhada de sua comunidade e que também pode ser modelo de orientação para os nossos dias.
Seguindo os passos de Jesus, primeiro passo a criar/formar a comunidade. Segundo passo, despertar consciência crítica para em seguida, combater o mal e restaurar a vida para o serviço. Nos passos seguintes somos chamados a permanecer unidos ao Pai pela oração e manter a consciência da missão e reintegrar os marginalizados na convivência humana.

Assim, somos chamados a anunciar o amor, a mergulhar nas profundezas da existência humana, a abrir nossos corações em louvor, por todas as criaturas. Somos chamados a nos deixar angustiar diante de todas as formas de vida ameaçada, encontrando, assim, o sentido mais profundo da busca e propiciando o encontro com Cristo. Encontro que deve renovar-se constantemente pelo testemunho pessoal, pelo anúncio do querigma e pela ação missionária da comunidade.

A fé que recebemos precisa ser transmitida com o anúncio e com o nosso testemunho concreto. Ela é a resposta da revelação de Deus. Por isso, não se trata de estar simplesmente fazendo uma escolha, mas realizando a adesão da experiência de Jesus em nossas vidas. Uma experiência que nos coloca em situação de missionários de Cristo.

Neuza Silveira de Souza

Comissão bíblico-catequética do Regional Leste 2 da CNBB