A formação dos catequistas é algo precioso que não se pode deixar perder de vista. A catequese de Iniciação à Vida Cristã pode dar grandes passos quando o catequista recebe a formação de catequese iniciática, catecumenal. Faz-se necessário passar pela experiência catecumenal e mistagógica.
A Iniciação Cristã apresenta características que ajuda no processo iniciático da transmissão da fé, um dos maiores desafios de hoje nas pastorais, sobretudo se entende a fé como experiência fundante que gera entrega, conversão, sentido existencial, projeto de vida. A Igreja de hoje vê o catecumenato como um caminho a percorrer, com as devidas adaptações, para responder aos atuais desafios da transmissão da fé.
A mistagogia, tema central da Iniciação cristã, traz consigo característica maior do paradigma da iniciação cristã catecumenal. É ela que inicia a pessoa catequizanda e catequizadora no entendimento do mistério da fé que o transformou a partir das catequeses iniciáticas, pois o entendimento se dá junto à prática, ou seja, nas vivências experiências. E aqui há um fato curioso a ser observado, porque muitas vezes alguém participa de um encontro e passa pelas experiências, mas não se permite transformar e levar as novidades da Boa-Notícia para o cotidiano da vida.
Pode-se ver nas orientações da Igreja que se encontram apresentadas no documento 107 que a vivência da mistagogia se dá numa progressiva introdução no mistério Pascal de Cristo, deixando-se envolver num processo itinerante de imersão nas celebrações litúrgicas e no aprofundamento bíblico-teológico dos sacramentos da Iniciação. Um itinerário que para caminhar por ele tem-se que ir experimentando todo o sabor e beleza dos símbolos, ritos, celebrações de modo pessoal, comunitário e social.
Ao fazer a experiência de vida envolvida no mistério de Cristo e descobrir novos valores dados pelo anúncio da fé, e se deixar interiorizar por esses valores, fazê-los seus, sendo capaz de deixar que eles resignifiquem sua vida, então essa pessoa se torna o protagonista da história.
Vamos pensar um pouco sobre a história do encontro de Jesus com a Samaritana. O documento 107 da CNBB apresenta esse ícone bíblico “Jesus e a Samaritana” com o objetivo de ajudar nas reflexões e dar passos no caminho da ação evangelizadora.
Nesse caminho percorrido por Jesus e a Samaritana desde o encontro pessoal no poço de Jacó até a saída de Jesus da Samaria, depois de ter passado um tempo com eles, muitas coisas aconteceram. Simbolicamente podemos dizer que também nossos encontros de catequeses mistagógicas podem fazer esse mesmo itinerário e pelos caminhos muitas coisas tais como: entendimento da fé, anuncio da Boa-Nova, entusiasmo, conversão, mudança de vida, novo agir, novo jeito de pensar e viver, novas relações comunitárias e sociais, etc.
Para nos ajudar ainda mais, temos na Bíblia outros encontros realizados por Jesus que favorecem a compreensão na construção de nossos próprios itinerários: o documento 107 cita o encontro de Jesus com os discípulos de Emaús (Lc 2413-35); o encontro com Zaqueu (Lu 19,1-10); o caminhar juntos e gastar um tempo com aqueles do primeiro chamado (Mc 1,16-20), encontros esses que foram se dando no caminho iniciático da fé.
Dentre tantas experiências de encontros apresentados na Bíblia, gostaria de partilhar com vocês um encontro muito fecundo para nós catequistas, que é o encontro de Jonas com Deus.
Em que esse encontro pode ajudar em nossas catequeses e formação?
O Encontro de Jonas ajuda-nos a repensar a saída de nós mesmo para irmos ao encontro do outro e fazer a experiência de estar juntos, vivenciando juntos e se colocando na escuta da mensagem que o Senhor quer que seja transmitida. Isto quer dizer que não falamos em nosso, nem de acordo com nossas crenças, mas a partir da Igreja, em nome da Igreja, fazendo bom uso do discernimento.
Pode-se perguntar: quem é Jonas? Ele é um evangelizador missionário convocado por Deus para ir evangelizar Nínive, uma grande cidade, capital do Império Assírio, grande para Deus que amava seus habitantes. Jonas foi levar a mensagem de Deus: dizer àquele povo que Nínive seria destruída por causa das tamanhas maldades ali praticadas
Jonas seria o instrumento para a salvação do povo no projeto de Deus. Tinha que levar ao povo a mensagem que Deus lhe dizia. Acontece que Jonas faz a opção de fugir da ordem de Deus, se esconder na cidade de Társis, desejando ir para longe da face do Senhor. Sentia que o que Deus lhe pedia não era ajusto para aquele povo que foi terrível para com o próprio Deus. Vimos aqui que Deus tem compaixão de Nínive, mas Jonas não que quer entender. Faz seu próprio julgamento. Jonas se preocupa mais com ele mesmo do que com a grande cidade e todos os seus habitantes. Jonas conhece Deus sem entendê-lo. Pensa ser possível fugir de Deus.
A história vai se desenvolvendo e na ação de Deus sobre a tempestade no Mar, a ação dos marinheiros ao tentar proteger a todos, jogando seus pertences ao mar, remando fortemente contra a maré na tentativa de chegar a terra e, ainda, rogando ao Deus de Jonas, mesmo sem nele crer, nada foi possível fazer. Isto porque a iniciativa é sempre de Deus e Jonas, afinal, acabou sendo jogado ao mar e engolido pela Baleia.
Na experiência de se sentir naufragando no fundo do mar, chegar até o xeol, ele se arrepende de sua decisão, clama por Deus e este o possibilita chegar até à grande nação a ser evangelizada. O seu arrependimento provoca a ação de Deus, mas não o livra de sua missão de evangelizar Nínive. Essa história, muitas vezes, remete o leitor à sua própria realidade e mostra que o arrependimento não é uma escapatória, pois a ação dos homens tem consequências e todos são chamados a ter o olhar atento a elas, pois as ações afetam tanto as pessoas que as praticam quanto as que recebem. No caso de Jonas, ele se arrependeu, foi até Nínive e profetizou anunciando a mensagem que Deus lhe disse. Os homens de Nínive creram em Deus, convocaram um Jejum e vestiram-se de panos de sacos. Deus gostou das ações do povo de Nínive e também se arrependeu de sua ira. Vendo que todos tinham se convertido Deus não realizou a ameaça proposta.
Esta ação de Deus não agradou a Jonas, pois em seu julgamento pessoal e, não sendo capaz de perceber a extensão do arrependimento dos homens de Nínive, percepção essa somente possível por Deus, Jonas se revolta contra Deus.
Foi preciso mais um agir de Deus. Levar Jonas a mais uma experiência pessoal para que ele pudesse compreender o amor misericordioso de Deus. A ele foi dado uma mamoneira para lhe fazer sombra, e logo em seguida, depois de um tempo que ele saboreou o bem-estar da sombra, Deus a tirou dele. Jonas não entendeu e foi reclamar a Deus porque destruir a mamoneira. Ele estava até gostando dela porque lhe fazia sombra.
Nessa experiência de receber de graça a mamoneira para lhe fazer o bem, sem nada lhe custar, Deus leva Jonas a entender como os Ninivitas o agradaram se arrependendo do mal que causavam a ele.
Com essa história pode-se traçar um itinerário iniciático de formação mistagógica que nos faz perceber que é no caminho, na vivência das experiências uns com os outros, nas dificuldades encontradas pelas estradas da vida que o catequista cresce e se percebe instrumento de Deus para levar ao outro a mensagem que ele pediu, ajudando aos outros a compreenderem o mistério da nossa fé e se transformar no seu agir. Isso acontece ao mesmo tempo em que também quem evangeliza se transforma aprendendo com as ações transformadoras dos outros. E todos fazem o caminho mistagógico de se adentrar mistério de Deus e se deixar conduzir por ele.
Neuza Silveira de Souza
Comissão bíblico-catequética do Regional Leste 2 da CNBB