A iniciação à vida cristã significa imersão em uma nova realidade, assim diz o documento 107 da CNBB. Isso quer dizer que a iniciação nos transforma, nos tira da situação em que nos encontrávamos e nos leva para outra dimensão, o lugar do mistério de Cristo, uma realidade permeada pela vida do Cristo.

Na iniciação à vida cristã também nos deparamos com o mistério da Igreja, uma comunidade que, pela ação do Espírito, vive e revela a presença do Ressuscitado no mundo. Lembramos que Jesus Cristo, pós-ressurreição, enviou seu Espírito para a Igreja e fez dela seu sacramento, ou seja, lugar de viver e partilhar as experiências do mistério da sua vida. A graça que aqui realiza é um acontecimento transbordante da Páscoa do seu Senhor.

Diz, ainda, o documento: “A Iniciação à Vida Cristã deve acolher e iluminar as questões existenciais da vida de cada pessoa. Ela é graça benevolente e transformadora que nos precede e nos acumula com dons divinos do Pai, em Cristo, pelo Espírito Santo. A Graça que enraíza em nossa vida e expressa a unidade da obra trinitária, por meio dos sacramentos que nos iniciam. Começando pelo Batismo, sacramento que nos leva a participar da vida do Cristo, e que nos introduz na família cristã, podemos observar um elemento importante para nós que é a questão do papel atribuído à água. Do ponto de vista teológico, temos a pia batismal, ou a piscina de água que engendra nosso corpo visível pelo ministério dos sacerdotes. Isso quer dizer que recebemos através da água uma nova existência, somos recriados, ganhamos uma nova forma no sentido de sermos formados em Cristo. No sentido do invisível, o Espírito de Deus regenera, por sua vez, nosso corpo e nossa alma. Assim, na água somos purificados sob a missão de um anjo, e somos preparados para receber o Espírito Santo. O anjo do batismo aparece como o precursor do Espírito Santo. A efusão do Espírito está ligada à unção: “Não é na água que recebemos o Espírito Santo, mas purificados na água sob a missão de um anjo, nós somos preparados para receber o Espírito Santo”.

Podemos aqui nos reportar a João Batista que foi o precursor do Senhor, preparando seus caminhos: da mesma forma que o anjo que preside o batismo prepara os caminhos para o espírito que deve vir para a purificação do pecado que a fé obtém com a assinalação em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. “Ao estar lendo esse artigo poderíamos buscar na Bíblia a leitura que faz referência ao Batismo de Jesus. Na narrativa do Evangelista Mateus”, capítulo 3, 13-17.

A vivência desse rito batismal nos transporta para o passado e nos coloca no momento da passagem bíblica (Jo 5,1-15) que nos conta como o anjo de Betesda comunica ás águas a força de curar os corpos, dando-lhes nova formas; assim é também esse momento vivencial presente que nos faz sentir o anjo que dá ás águas o poder de curar as almas dos batizados, livrando-os do pecado e oferecendo a graça de Deus e a salvação.

Temos uma leitura muito bonita dos padres da Igreja, os conhecidos como mistagogos. Um deles, ao fazer a interpretação batismal, desenvolve a comparação entre a piscina de Betesda e o batismo no mesmo sentido que nos outros textos, mas diz: Lá (na piscina) um só foi curado; aqui, mesmo que sejas lançado o universo inteiro dentro da piscina, a força da graça não é diminuída, mas cura a todos. Lá a cura acontecia uma só vez, aqui todos os dias; Lá era curado somente os corpos, aqui as almas.

Igualmente a essa passagem bíblica fazendo referência ao Batismo, podemos nos reportar ao memorial do relato da criação, quando a Palavra de Deus nos fala do Espírito que pairava sobre as águas primitivas e lhes comunicava uma força santificante. Todas essas imagens que construímos e as tornamos visíveis aos nosso olhos, são imagens para o tempo, mas nos coloca em uma realidade eficaz que é eterna. Podemos assim entender que esta realidade do nosso Batismo não muda: somos recriados em Cristo, nele permanecemos e ele em nós.

Neuza Silveira de Souza

Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de BH

In: Jornal Opinião e Notícias 11.10.2017