O encontro de Jesus com a Samaritana inspirou a reflexão do primeiro capítulo do documento da CNBB n. 107, sobre a Iniciação à vida cristã, que tem como exemplo inspirador o encontro de Jesus com a Samaritana, capítulo 4 do Evangelho de Jesus segundo João. Com este sinal João quer nos transmitir o ensinamento de Jesus a exemplo de sua prática através do diálogo com a mulher samaritana. Acontece ali a inclusão e valorização da mulher. A samaritana foi a primeira pessoa a colher da boca de Jesus a declaração messiânica “Eu sou” que depois se torna a ‘apóstola’ dos samaritanos.

Caminhando com o Evangelho de João, percebe-se a construção de um itinerário que Jesus vai realizando, apresentando os candidatos à fé sem maiores conflitos. Em sua atuação pública Jesus vai propiciando àqueles com quem vai se encontrando o contato com temas catequéticos importantes tais como: o batismo, o novo nascimento, a água viva, a palavra vivificadora, etc. São temas querigmáticos que representam a primeira Iniciação no mistério de Cristo.

Na citação do versículo 4,4, a expressão “era preciso”, quando empregada pelo evangelista João, indica que Jesus ao tomar a iniciativa de passar pela Samaria, era para realizar a sua missão, a vontade do Pai, e não por necessidade do trajeto. Chegando ao poço de Jacó, poço não de água parada, mas uma mina de água corrente no fundo, Jesus pára para descansar. Nesse momento chega ao poço uma mulher da cidade vizinha, Sicar, para tirar água e Jesus lhe pede de beber. Ela estranha  que um homem judeu peça de beber a uma mulher samaritana, pois judeus e samaritanos evitavam  se relacionar. Com esse seu gesto Jesus rompe duas barreiras: a religiosa e a social. Isto nos lembra o apóstolo Paulo, em Gl 3,28: “Não há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher”: a discriminação dessas categorias desaparecem na hora do Messias.

Desenvolve-se um diálogo entre eles e a uma observação da mulher ao pedido de Jesus, ele responde: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que  te diz: Dá-me de beber”, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva”. A Samaritana, ainda não iniciada na fé, não entendeu o que Jesus queria dizer. Se fosse iniciada ela saberia que Jesus é maior do que Jacó, e que também, ‘água viva’ é a água do batismo e tudo o que ele significa. No At. Testamento a água viva significa a sabedoria e a Lei. Mas o símbolo da água também pode significar o Espírito de Deus. Jesus é mais que Jacó, mais que a Sabedoria dos livros bíblicos, é uma fonte de vida que não estanca e que nos comunica o Espírito (Jo, 7, 37-39). A Samaritana, por não ser uma iniciada na fé, vai desejar a água que Jesus oferece por razões materialista, ou seja, não precisar mais ir ao poço. O mesmo acontece conosco quando não somos iniciados na fé: desejamos receber os sacramentos, mas não entendemos o seu significado em nossa vida.

Continuando a reflexão, percebemos que Jesus, entendendo a miséria espiritual  de sua catecúmena, quer ajudá-la. Toda a conversa dos dois passa a girar em torno da verdadeira adoração. “É bastante significante a importância dada ao lugar de culto.

No decorrer do diálogo muitos subtemas são abordados, tais como: o lugar da adoração, o tempo da adoração, a busca dos adoradores, o verdadeiro adorador, a quem se deve adorar, o modo correto de se adorar, etc. Jesus vai responder como e onde  será a adoração quando o Messias chegar. e lhe diz : “Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus” (v22). O verdadeiramente Deus só pode ser adorado, desde que seja verdadeiramente conhecido. Jesus então diz: “Vem a hora e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade”, isto é, movidos pelo sopro de Deus que é o Espírito e fiéis à manifestação de Deus em Cristo, que é a verdade.

O resultado do encontro de Jesus com a mulher samaritana não poderia ter sido melhor. A Samaritana, tendo ouvido Jesus, e desejosa de participar do culto verdadeiro, tornou-se missionária! Deixou seu cântaro e correu para anunciar na cidade sua grande descoberta: o Messias chegou! A mulher despertou o interesse dos seus concidadãos de tal modo que conseguiu levá-los a Jesus (vv29-30). Os Samaritanos convida Jesus a passar alguns dias na Samaria e Ele aproveita para evangelizar.

Também nós somos convocados, pelo Batismo, a ouvir e anunciar os ensinamentos de Jesus. João nos transmite alguns princípios básicos da evangelização. Jesus conduzia a conversa, primeiro falando de uma necessidade física, para Deus falar da necessidade espiritual. Não é preciso ter pressa quando se evangeliza. o processo de evangelização é progresso, gradual e permanente. Observando a aprendizagem da Samaritana,  ela foi num passo a passo: Primeiro viu Jesus como um simples forasteiro judeu; depois um profeta que revelou coisas de sua vida particular e, por último, o Messias.

Esse encontro de Jesus com a Samaritana é exemplo da maneira como Ele se faz  conhecer àqueles que o procuram. Ele se faz conhecer, gradativamente, como se dá na Iniciação à Vida Cristã. Primeiramente na experiência do encontro individual e pessoal com Jesus. Depois transforma em vivência na comunidade. Também nós, hoje, no processo da Iniciação à Vida Cristã, precisamos promover o encontro que leva a uma experiência pessoal com Jesus, vivência na comunidade e testemunho de vida em Cristo.

O processo de Iniciação à Vida Cristã para nós hoje, torna-se imprescindível para a realização da missão do anúncio de Cristo no  processo da nova Evangelização.

Neuza Silveira de Souza

Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético - BH