“Nesta era de tanta interatividade, cada rosto feliz

esconde um deserto no recôndito da alma”

(Francisco Galvão, do livro “O Cultivo Espiritual em tempos de conectividade”, Paulus, 2018)

 

Vivemos em uma sociedade cada vez mais midiatizada e conectada. Além da agitação e da pressa, o nosso cotidiano é atravessado por inúmeras conexões. O espaço para o silêncio e a pausa está cada vez mais escasso. Aliás, nunca estivemos tão conectados uns com os outros, mas, ao mesmo tempo, tão distantes de nossa interioridade como nos dias atuais.

De alguma forma, estamos sempre sendo expulsos pela pressa, embora nem sempre saibamos, ao certo, para onde estamos indo. Vivemos sempre ocupados e atarefados, embora nem sempre encontremos sentido naquilo que realizamos. Como dizia Henri Nouwen, um dos meus autores espirituais preferidos, “é raro um momento em que não tenhamos o que fazer; movemo-nos pela vida de um modo tão aturdido, que nem ao menos temos calma e sossego para imaginar se vale a pena pensar, dizer ou fazer as coisas que pensamos, dizemos ou fazemos”.

Catequistas, professores, padres, freiras... ateus ou agnósticos. Todos, de um modo ou de outro, carecem de transcendência e disciplina espiritual para encontrar sentido e plenitude. O cultivo espiritual é o que nos possibilita ser inteiros em nossos sonhos e em nossas relações. Quanto mais distantes de nosso eu verdadeiro, mais fragmentados serão nossos encontros e experiências. Precisamos reencontrar o caminho de volta à nossa morada interior. Caso contrário, continuaremos reféns de nossos apegos, angústias e das falsas expectativas em relação a Deus e as pessoas.

Sem um pouco de silêncio e recolhimento, a nossa própria existência continuará vazia de significado. Podemos até ser competentes naquilo que fazemos e, inclusive, ser reconhecidos pelo nosso trabalho, mas, se não fizermos as pazes com a nossa solidão mais profundo, nenhum elogio ou afeto será capaz de saciar a nossa sede de infinito.

O catequista é chamado a uma criatividade fecunda e contínua. Para isto, ele deve está sempre ligado à Videira, através da oração e da intimidade. Caso contrário, o seu “ser criativo” não passará de um sino vazio, que poderá fazer muito barulho, porém incapaz de tocar os corações e direcioná-los à morada do verdadeiro Amor.

Estar conectado é importante e, em certas circunstâncias, até inevitável, mas, não podemos jamais esquecer-nos de cuidar de nosso espírito. É ele quem dita as regras de nossa vida e nos conecta àquela Voz interior que, silenciosamente, nos aponta o caminho da verdadeira felicidade.

FRANCISCO GALVÃO, religioso Paulino, mestrando em comunicação social pela PUC Minas e autor do livro “O Cultivo Espiritual em tempos de conectividade”, lançamento Editora Paulus.