Um dos maiores problemas dos catequistas é o uso da linguagem para fazer a sua catequese. Muitos ainda apenas usam os livros (manuais) e preparam uma “aula” no estilo antigo de metodologia escolar. Para os que ainda adotam esse tipo de modelo, saibam que isso só vai prejudicar a transmissão da fé.
Em primeiro lugar, porque a fé não é uma MATÉRIA a ser ensinada, mas um TESTEMUNHO a ser dado. E isso exige mais do que metodologia escolar, exige também PARTILHA DE VIDA CRISTÃ e EXPERIÊNCIA DE ORAÇÃO do catequista. Um catequista não é um professor, mas um mistagogo, um padrinho, um acompanhador, uma testemunha que introduz o catequizando na vida da comunidade de fé cristã. Sem isso, começamos errado.
O CRISMA é dado às pessoas que precisam CONFIRMAR o seu batismo, receber o Espírito Santo de forma plena, completa, perfeita (como diriam os Padres do século VI e V). Santo Agostinho nos ensina que é preciso conhecer os gostos e a cultura do catequizando para evangeliza-lo (AGOSTINHO – A Instrução dos catecúmenos: teoria e prática da catequese. Petrópolis: Vozes, 2a ed., 2005.) Portanto, além de uma visão cristã sobre os ritos e práticas da Igreja, vistas à luz da fé, é preciso conhecer a cultura e a linguagem de quem se está evangelizando. Conhecer e usar a linguagem dos adolescentes não é opcional, mas necessário no trabalho evangelizador da crisma.
Estamos na cultura da imagem e do espetáculo (Guy Debord – A sociedade do espetáculo) se não usarmos a linguagem da imagem e do som, ficaremos com uma dificuldade muito grande. A catequese de hoje está entrando para a época da mistagogia (linguagem ritual e simbólica), usando a liturgia e a ritualidade para dizer coisas que não conseguimos expressar a não ser pela fé. Os rituais e símbolos da Igreja nos ajudam a dizer as coisas de Deus, que não podem ser ditas pela linguagem racional. E essa linguagem é muito mais acessível aos adolescentes, visto que não é aquela linguagem racional e linear das aulas do colégio. É preciso valorizar os gestos, os rituais, as imagens, a oração e a visão de fé numa sociedade que valoriza a hipocrisia e a pasteurização de uma linguagem religiosa que nem é cristã.
Não creio que a linguagem das aulas teóricas e escolares, que muitos adotam, sirva para evangelizar os jovens crismandos. Aposto com toda a minha alma em RETIROS E ENCONTROS DE VÁRIOS DIAS (com direito a pouso no local), onde se possa ter espaço para rezar, brincar, ter palestras, haver convivência entre adolescentes e catequistas, onde se faça uma experiência de fé e de comunidade. Sem isso, é jogar pérolas aos porcos. Não haverá nenhuma continuidade, porque não haverá nenhum amor, nem a Cristo, nem à sua Igreja. E para os adolescentes que já amam Cristo e a Igreja será um período de pouco valor.
Vamos mudar isso? Mudar a linguagem causa uma revolução na pedagogia e na evangelização, por isso muitos a temem. Mas garanto que dá resultados muito mais que satisfatórios.
Para perceber os desafios do catequista de hoje, recomendo a leitura do meu livrinho Atualização Para Catequistas de Crisma da Paulus. Lá falo melhor sobre essa questão de linguagem da fé e sugiro filmes. Ou então a leitura de A Pessoa do Catequista, da Ed. A Partilha, para a leitura em grupo com catequistas. Para um pequeno resumo da questão prática esse link pode ajudar: (click aqui)
Paulo F. Dalla-Déa
Padre e doutor em Teologia, membro da Sociedade Brasileira de Catequetas e da SOTER – Sociedade de Teologia e Ciências da Religião.
15.08.2013
(obs: o Catequese hoje na seção Veredas já possui um bom arquivo com indicação de filmes, músicas, pequenos vídeos, poemas, com os respectivos comentários)