É absurdamente complicado encontrar esperança no meio do caos. No meio das tragédias arbitrárias que assolam o mundo já tão ferido e magoado. É complicado acreditar que conseguimos encontrar a fé e a alegria quando tudo à nossa volta parece destruído, incerto, caótico e pouco límpido. Não conseguimos manter-nos à tona. Mais uma vez, avizinha-se uma crise económica. Os nós que nos unem apertam-se cada vez mais e deixam-nos sem ar para respirar. Muita gente vai olhando para o espelho sem saber, já, que pessoa mora ali.
No entanto, e ainda que nos seja profundamente difícil arrancar linhas de luz à cara da escuridão, ainda é possível. Ainda não está tudo perdido, nem estará nunca. Perdidos estão, sim, os que perderam a vida ou os que estão na iminência de a ver desvanecer-se. A nós, ainda nos resta a luz prometida de dias melhores. Prometida por quem? Pela nossa própria alma. Pelo nosso próprio coração que não se cansa de lutar, mesmo confuso ou atribulado.
Ainda estamos a tempo de encontrar caminhos bonitos, mais simples e menos cinzentos. Pode não ser já. Pode não parecer viável. Mas acreditamos que mais à frente poderá ser melhor do que hoje. Poderemos, até, ser melhor do que somos. Saber mais do que sabemos. Compreender mais do que, atualmente, compreendemos.
É possível encontrar esperança no meio do caos. Para cada um de nós terá um nome distinto. Uma cara diferente. Um sol diferente. Mas haverá, sempre, uma luz para cada um de nós. Para cada tragédia que se assoma. Para cada injustiça que se pratica. Para cada maldade humana que tenha a ilusão de vingar.
Vamos por caminhos destruídos. Prédios e vidas espezinhados. Gritos de horror e de incredulidade. Avançamos como quem não sabe onde deve colocar os pés. Ou o propósito. Mas vamos juntos.
Vamos juntos. E esse consolo tem de bastar-nos quando não tivermos muito mais.
Mas… a possibilidade de ir juntos não será o tanto que nos falta quando não nos resta nada?
Marta Arrais
In: imissio.net 08.02.23