Catequese no mundo atual: desafios e possibilidades

1. A diversidade religiosa no mundo atual 

O Diretório para a Catequese de 2020 apresenta uma leitura da realidade em seu Capítulo X, A catequese diante dos cenários culturais contemporâneos, com os números 319 a 393. Apresentamos uma visão geral desse capítulo, no sentido e ajudar em sua leitura, para a formação de nossos(as) catequistas. 

Ler a realidade é tarefa da Igreja, porque está inserida na comunidade humana. Os “sinais dos tempos”, metáfora usada por Jesus, descrita em Lucas 21. Mas, como podemos descrever o tempo atual? O magistério da Igreja tem ensinado que estamos vivendo um tempo de viragem epocal, ou seja, de mudanças profundas na forma como vivemos, sentimos e pensamos. Esse tempo é marcado por contradições, entre coisas boas e ruins, e carregado de anseios de paz e justiça, de encontro e solidariedade. 

Nessa realidade, a Igreja tem um desafio, que é viver a dimensão profética da evangelização. Ou seja, de opor-se a processos centrados na injustiça, na exclusão dos pobres e que colocam no centro, como principal, o dinheiro, para anunciar que Jesus veio para que todos tenham vida e a tenham em plenitude. Ao conhecer melhor a realidade emque se vive, e buscar ser profética, a catequese se coloca plenamente ao serviço da inculturação da fé. 

O Diretório de 2020 apresenta duas palavras para compreendermos os tempos atuais: pluralismo e complexidade. As duas rementem à ideia de que há uma diversidademuito grande e uma mistura de coisas, o que pede que sejamos observadores atentos e que não deixemos de ver as “costuras” que existem entre as dimensões, fenômenos, fatos e situações que envolvem a vida das pessoas, nossas comunidades e o mundo em geral. Esses fatos estão, de alguma forma, entrelaçados. 

Isso se explica pelo processo de globalização, seja das comunicações, da economia e da política, bem como da cultura ou culturas. Temos o uso massivo dos meios de comunicação que aumentaram as conexões e as interdependências entre questões e setores. Isso trouxe coisas positivas e outras nem tanto. É preciso discernir. 

O modelo de observação para um bom discernimento, apresentado pelo papa Francisco, é o do poliedro, figura geométrica com muitos lados. Mas, todos os lados pertencem à mesma figura. Ou seja, os vários acontecimentos e setores da vida, ainda que sejam contraditórios, às vezes, inclusive, divergentes, estão relacionados entre si e formam o mesmo chão no qual pisamos.

Por isso, o conselho que nos dá o Diretório é de que possamos ler os fenômenos de pontos de vista diferentes, mas colocando-os em relação entre si. Amadurecer um olhar mais profundo e sábio em relação à realidade, assumindo a perspectiva sinodal, com presenças e papéis diversos, para que a evangelização se realize de modo mais participativo.

Do ponto de vista religioso, o Diretório apresenta o ambiente ecumênico ou multirreligioso, com a presença de diversas igrejas, religiões e formas de vivência da espiritualidade. Se isso demonstra que as pessoas sentem necessidade da vida religiosa e a procuram, de outro, encontramos também aquelas que, mesmo dentro das nossas igrejas, são  indiferentes e insensíveis à busca pela transcendência, pela espiritualidade, ou ainda a vivem de forma relativa (conforme lhes convém) ou sincrética (misturando concepções e manifestações de diferentes expressões religiosas). Há, ainda, os que se colocam contra as formas de transcendência, contra as religiões, sejam elas quais forem. Nesse mundo com tantas vozes diferentes e, muitas vezes, divergentes, muitos se sentem confusos e desorientados.

Então, qual o papel da catequese, diante dessa pluralidade e complexidade da vida religiosa de hoje? São apresentadas, de forma geral, duas posturas que se intercalam e devem estar presentes na ação catequética. A primeira, é a de conhecer melhor e mais profundamente a própria fé, neste caso, a fé católica. Convida-nos a nos formarmos melhor, a conhecermos melhor o pensamento da Igreja por meio de seus documentos, para amadurecermos em nossa própria fé (dar “razão à nossa fé”). E ajudarmos outros cristãos católicos a fazerem também isso, o que é papel mesmo da catequese, propondo o encontro que leve a conhecer, amar e seguir Jesus Cristo.

O segundo ponto é, amadurecendo na caminhada de fé cristã católica, estarmos em diálogo respeitoso com as outras religiões e igrejas cristãs, para darmos testemunho do amor de Cristo por todas as pessoas, para que o “mundo creia”, não apenas por meio do anúncio da Palavra de Deus, mas também pela vivência do amor cristão, fonte e meta desse anúncio.

Nesse sentido, o Diretório nos convida a entender a multiplicidade de possibilidades religiosas como uma oportunidade, visto que, a partir da liberdade que as pessoas têm de escolher como viverão sua fé, ao conhecer Jesus e sua proposta, façam uma adesão ao Senhor como um ato profundamente pessoal e gratuito, maduro e consciente.

Daí também nos mostra o vínculo profundo que a catequese deve ter com a evangelização: é que ela forma nos cristãos uma identidade clara e segura, serenamente capaz de, em diálogo com o mundo, dar razão da esperança cristã com mansidão, respeito e consciência reta (cf. 1Pd 3,15a16).

Suzana Costa Coutinho

Mestra em Educação, jornalista, professora da Especialização em Catequética do Regional Leste 2

18.01.23

imagem: pexels.com