Vivemos tempos novos para a Igreja Católica por toda parte do mundo. Na Europa há muito tempo deixou de ser referência e mantém um caminho arrefecido. Na África continua a recolher vocações no meio da pobreza. Dentro da Ásia vive situação minoritária, perseguida muitas vezes e dando belo testemunho evangélico em muitos momentos. Em território americano, no norte e no sul, constata até grande nominalismo católico, mas amarga a falta de pertença dos católicos às comunidades. No Brasil, as últimas pesquisas revelam o decréscimo do catolicismo em meio à multiplicação de novas comunidades cristãs e crescimento dos sem religião. A nova situação pede das lideranças católicas e de todos os membros profunda reflexão.

 

Como as coisas não andam a passos largos ao modo das primeiras comunidades cristãs, nas quais as conversões e crescimento eram notórios (At 2,41.47) e o contrário sucede, movimentos para estancar a sangria começam a surgir. Estratégias são elaboradas para a nova fase da Igreja. Este ano de 2012 passa a ser emblemático. No dia 11 de outubro teve início o Ano da Fé, as comemorações do cinquentenário do Concílio Vaticano II, dos vinte anos do Catecismo da Igreja Católica e a abertura do Sínodo dos Bispos para a Nova Evangelização. O Papa Bento XVI espera da comunidade católica no mundo a confissão pública da fé, do Credo, e o crescimento do testemunho de cada cristão católico (Porta Fidei, n° 8-9). É evidente a importância do desejo do Papa. Todavia, tal iniciativa pode ser tanto um caminho novo e saudável para Igreja como um tortuoso recrudescimento de autoritarismos e busca por uma religião do sucesso e da aparência.

 

O testemunho incentivado pelo Papa, desde o abraçar da fé, não pode ser confundido com a lógica da aparência. Tampouco é a busca mesquinha por sucesso. É antes a compreensão do sentido maior da vivência da fé, quando esta é acolhida na sua totalidade cristã. Por isso, mais importante do que nos perguntarmos como mostrar a Igreja ao mundo é nos perguntarmos como sermos Igreja no mundo. O ser deve preceder sempre a aparência. É o ser cristão o nosso testemunho e não o marketing sobre nós mesmos. Para o cristão a propaganda não é a alma do negócio. A alma do cristão é o seu genuíno seguimento a Jesus Cristo dentro do contexto de sua vida. A “propaganda” cristã é a vida amante de Deus e da humanidade, já em si mesma pregação do Evangelho pela vida e pela palavra. Onde houverem comunidades comprometidas com esse programa de vida haverá visibilidade da Igreja e do centro de sua vida: Jesus Cristo.

 

Tentações sempre rondam essa via. A busca pelas multidões é uma delas. Esquecemos que as palavras de Jesus para muita gente são consideradas duras demais e que por isso muitos o abandonam (Jo 6,59-66). A fome de visibilidade e de multidões turva a consciência cristã. Em nome das massas, a Palavra do Evangelho é escamoteada, tornada autoajuda e relativizada na busca de barganhar privilégios. O serviço da Igreja ao mundo passa pelo canal da fidelidade à autenticidade do Evangelho. Neste, a verdade resplandece como liberdade (Jo 8,32), só compreendida na permanência com Cristo Jesus. Nele, a estrada é estreita.

 

A religião do sucesso não é o caminho de Jesus. O sinal maior da experiência cristã é a cruz. Nela existe a vitória que não se confunde com as vitórias do mundo. A Igreja, se quer mesmo ser a comunidade de Jesus, tem como requisito supremo abraçar a cruz e com Ele ir pelos caminhos da história. As urgências atuais sentidas pela Igreja não podem empurrá-la pelo caminho fácil contrário ao Evangelho. O Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6,33) anunciado por Jesus precisa ser seu critério máximo de ação, na solidariedade com os mais sofridos do mundo contra as várias formas sofisticadas de opressão que hoje se faz sentir. Por isso, o caminho de Jesus será muitas vezes o do Servo Sofredor. Na América Latina esse caminho levou ao martírio.

 

Mesmo querendo bastante pessoas no caminho da fé, muitos adeptos, vale pensar sobre os meios a utilizar, as concessões dadas e a fé propagada. A fé em Jesus é a exigente mudança de vida que transforma o mundo e não um sossego de paz morta e multidões domesticadas.

 

Pe. Magno Marciete do Nascimento Oliveira

Comissão Bíblico-catequética de Belo Horizonte

15.10.2012