Hesita-se, por vezes, em falar da cruz às crianças, por receio de as impressionar e de lhes dar uma imagem dolorista da fé cristã.

A cruz não tem nada de simpático
Ela é o instrumento de um suplício particularmente cruel, e compreende-se a revolta daqueles que a veem sem saber o que significa. Se Jesus fosse um supliciado entre outros, se não fosse mais do que um homem condenado à morte injustamente, seria efetivamente fazer prova de um masoquismo sem sentido colocar crucifixos nas paredes das nossas casas e das nossas igrejas, para já não falar em espaços públicos.
Mas Jesus não é um homem como os outros, e se sofreu a crucificação foi porque não podia ser de outra maneira.

A cruz impressiona
Crianças muito emotivas podem ficar profundamente marcadas pelo realismo de certos crucifixos ou por imagens que mostram Jesus coberto de sangue, exaurido e doloroso. Não utilizemos este gênero de representações para explicar até que ponto Deus nos amou: as crianças podem ficar marcadas unicamente pelo horror dos tormentos infligidos a Jesus e ficar aterrorizadas.

A cruz não é um aspeto acessório da fé
Trata-se de um mistério central. «Nós proclamamos um Messias crucificado», lembra S. Paulo. Dito de outra maneira: nós anunciamos Jesus que veio para nos revelar a infinita misericórdia de Deus. Falar da cruz não é fixar-se em detalhes macabros, mas anunciar o amor de Deus por cada um de nós. Ela é o sinal tangível desse amor.

Ajudar as crianças a compreender
Não nos apoiemos na descrição detalhada dos suplícios de Jesus, mas na Palavra de Deus. É ela que vai fazer entrar as crianças no mistério da cruz, é o próprio Espírito Santo que o fará, através daquilo que lhes dissermos.
Deus precisa de nós para se fazer conhecer às nossas crianças, mas somos chamados a proclamar o Evangelho «sem recorrer à sabedoria da linguagem, para não esvaziar da sua eficácia a cruz de Cristo» (1 Coríntios 1,17).

Comecemos pelo Evangelho
Por exemplo, em cada noite desta semana, no momento de rezar em família, releiamos uma passagem da Paixão. Os mais jovens não vão escutar tudo, talvez, nem compreender tudo (nós também não!). Mas a Palavra de Deus vai fazer caminho nelas. Aquilo que está oculto aos sábios e conhecedores, revela-se aos mais pequenos, não o esqueçamos.
Podemos mostrar um crucifixo às crianças, que colocaremos em lugar de destaque na Sexta-feira Santa. O importante é viver esse momento num ambiente de paz, de amor e de contemplação, não só quando da oração, mas durante toda a Semana Santa.

A cruz é inseparável da Ressurreição
Ainda que insistamos na cruz na Sexta-feira e na ressurreição a partir da Páscoa, cada um destes acontecimentos é indissociável do outro. É por isso que é bom, sobretudo para as crianças mais novas, para quem três dias representam uma eternidade, terminar o caminho da cruz (quando se faz um), ou a oração familiar de Sexta-feira Santa, com o anúncio da ressurreição e das festas pascais que se aproximam.
Reciprocamente, se passamos em silêncio pela Paixão de Jesus, que poderemos dizer da Ressurreição? Arriscamos reduzi-la a uma renovação da vida, como a da primavera após o inverno. Ao querer tornar as coisas acessíveis às crianças, vamos traí-las. 

Christine Ponsard 
In: SNPC 15.04.2019