Conhecer a narrativa bíblica e a sua expressiva influência na vida, nos faz perceber a importância da Bíblia na catequese. Com vários textos bíblicos que prestigiam a interação Fé e Vida exposta na relação de amor entre Deus e o Povo (no Antigo e no Novo Testamento), a Palavra de Deus é indispensável nos encontros. Portanto, pensar a Bíblia como fonte dos encontros implica, para o catequista, conhecer os temas básicos que permeiam a Palavra de Deus.
É importante salientar que ninguém precisa ser perito em Bíblia. Basta ter a compreensão das suas principais dimensões: o contexto e a experiência do povo. Conhecer a realidade dos catequizandos e valorizar a Palavra de Deus nos encontros produzirá fruto saboroso: compreender Deus agindo na história.
O uso da Palavra de Deus não se limitará a “falar” da Bíblia; Tornar-se-á importante se realmente proporcionar uma verdadeira experiência de Deus. Por isso, é indispensável considerar a idade dos catequizando e sua psicologia para que a mensagem bíblica seja percebida e compreendida por eles.
As crianças de 7 e 8 anos são, por natureza, abertas e interessadas. Gostam de brincar, admiram-se com muitas coisas e apreciam símbolos e expressão corporal. Esta idade traz o valor das descobertas, e a catequese poderá despertar o gosto pela Bíblia. Há, porém, um cuidado a ser considerado: algumas narrativas não contribuem para o amadurecimento na fé e podem causar percepções obscuras, como histórias onde as pessoas desrespeitam outras, ou, para alcançar seus interesses, são capazes de matar e mentir. Temos exemplos claros na Bíblia: o caso de Caim e Abel, a Paixão de Jesus e textos do livro Juízes. Nesta idade é interessante usar textos que falem de Jesus como amigo, alguém que acolhe e ama os pobres e pequenos.
Aos 9 e 10 anos as crianças estão mais socializadas e interessadas em aventuras, viagens e jogos. Querem conhecer algo mais concreto e logo percebemos uma interação maior com grupos e os adultos. Os encontros podem aproveitar esta fase para dar informações sobre a Bíblia: quando foi escrita, por quem, em que língua e para que. Outra questão é aproveitar a facilidade das crianças com os jogos para introduzir os lugares, o povo, os costumes e os mapas bíblicos. Tem que se tomar outro cuidado: evitar falar de cronologia e classificar eventos bíblicos. Isto embanana o encontro e torna tudo difícil. É hora de adentrar na vida de Jesus e conhecê-lo mais de perto.
Na idade entre 11 e 12 anos, que é a fase da pré-adolescência, o jovenzinho tem melhor capacidade para generalizações e consegue acompanhar um raciocínio lógico. Consegue expressar o que sente do mundo e mostra uma maturidade progressiva. Este é o momento para trabalhar a Eucaristia como memória do Mistério Pascal bem como a presença do Ressuscitado no meio de nós. Mas, na catequese se deve evitar falar do demônio e de anjos, lendas e milagres. Ainda está presente a mentalidade mágica. É oportunidade excelente para falar de profetas e para as questões sociais que enfrentaram com muita coragem. Os textos bíblicos ajudam a conhecer quem foi Jesus, seu grupo de amigos, os valores do Reino. Com o desenvolver da idade, os encontros podem falar sobre a vocação e trabalhar os textos em que Jesus chama os discípulos e outros personagens do Evangelho, como André e Mateus. Após os 12 anos, apresentar personagens bíblicos que agiram com sabedoria e bom senso. É a fase em que o jovem aprecia um “herói”.
Com os jovens, podemos explorar algumas narrativas que já apresentam cenas montadas, como é o caso do Evangelho de João, basta escolher bem a cena e distribuir as tarefas para uma encenação. Para os jovens de 18 e 19 anos, o diálogo de Jesus com Nicodemos é muito bacana. Pode-se trabalhar com perguntas que direcionem uma reflexão existencial e possa trazer a tona alguns desafios que os jovens enfrentam hoje, principalmente os conflitos internos em relação a própria identidade e os apelos da imagem que a mídia tanto explora.
Na Bíblia, há variedade de narrativas, porque o povo compreendeu o amor de Deus em sua própria história, nas lutas e dificuldades do cotidiano. A história traz consigo nossa identidade, nosso modo de ver as coisas. Quem não sabe contar uma história, não sabe contar sua própria vida, se perde em narrativas vazias e descentradas. Resgatar as narrativas bíblicas na catequese é torná-las alicerce de verdadeiros cristãos.
Helia Carla de Paula Santos
Equipe do Instituto Regional de Pastoral Catequética
01.07.2012