Há um trecho, na obra clássica de Antoine Saint-Exupéry – “O Pequeno Príncipe”, - que descreve a incapacidade dos adultos de dar atenção à essência das pessoas.


(...) “Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: “Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?”Mas perguntam: “Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?”Somente então é que elas julgam conhecê-lo.”


Inspirados nesse trecho lancemos um olhar atento sobre a ACOLHIDA na catequese. Comumente é confundida com o ato de receber nossos catequizandos com uma frase amável, uma mensagem, um sorriso. De modo assim, bem rápido, como uma das etapas a serem cumpridas no roteiro daquele dia. Mas é só isso acolhida?


Pense nas pessoas com as quais você convive. Qual é o som da sua voz? Elas colecionam “borboletas”? O que possuem em sua essência, que é fonte única de revelação de Deus? Transfira pensamentos semelhantes para seus catequizandos: Quem são? De onde vieram? Do que gostam? Quem são seus familiares?


Após este exercício, responda: Você realmente conhece aqueles com os quais convive? Aproximou-se? Deixou-se cativar por eles? Acolher é deixar transparecer, receber a essência reveladora de Deus de cada uma destas vidas que acompanhamos no caminho de amadurecimento da fé.


Ao recebermos crianças, jovens, adultos e pais na catequese, e com eles trilhar um processo de aprofundamento da experiência de Deus em suas vidas, o mais importante não é saber quantos sacramentos já receberam, quantas faltas podem ter durante o percurso... O indispensável, nesta ciranda gostosa, é conhecer e dar-se a conhecer: a si, uns aos outros, estabelecer relações, prestar atenção no mais íntimo de cada um. Mais que saber o nome é conhecer a história. Acolher é tornar a história da Salvação, revelada em Jesus Cristo, presente na dinâmica de nossas falas, de nossos olhares, de nossos afetos, em todos os momentos nos quais pudermos nos fazer presentes na vida do outro.


Em outro trecho de “O Pequeno Príncipe”, a raposa ensina:

“Cativar é algo quase esquecido. Significa “criar laços”...

- Criar laços?

- Exatamente. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... Minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Por favor... cativa-me! – disse ela”.

 

“E chegou o momento da separação.

Adeus – disse a raposa. – Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos... Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que a fez tão importante... Os homens esqueceram essa verdade - mas tu não a deves esquecer: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...”

(adaptação de trechos do diálogo entre o Pequeno Príncipe e a raposa no livro “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry)


Acolher é aceitar o outro como ele é, na sua fragilidade, seus dons e sua abertura para a relação conosco e com o Sagrado. Quem acolhe reserva um espaço de si, chega cada vez mais perto, usa a paciência, respeita o tempo do outro, e mais, vê com o coração. Pouco a pouco se achega, aconchega. Este movimento cria algo essencial: a confiança! A partir dela, abrem-se oportunidades para que a mensagem de fé floresça no coração dos catequizandos. Sem confiança a mensagem de Jesus é como semente em terra seca. A acolhida prepara o terreno, a confiança o aduba e o amor o irriga e faz crescer a fé. Se acolher é cativar, então amar é cultivar. Amar é abrir em nós um espaço para o outro, como Jesus fez. A consequência disso é que nos tornamos importantes um para o outro e então podemos afirmar: ACOLHEMOS!


Acolhida não se faz apenas nos primeiros momentos dos encontros de catequese, mas é um processo no qual aprendemos a enxergar com os olhos do coração. O catequizando precisa saber-se querido, esperado, amado pelo Pai e por nós, seus catequistas: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz”.


Não podemos esquecer que Jesus sempre via a pessoa em sua totalidade, não em suas inferioridades e aparências. Porque, o “essencial é invisível aos olhos”. O tesouro que cada catequizando é, nós só conheceremos se nos aproximarmos deles e deixarmos que eles sejam eles mesmos.  Se os encontrarmos e os trouxermos para nosso meio. Quantas pessoas estão como a raposa, desejosas de serem cativadas?


Uma catequese permanente é esse longo e processual caminho de amadurecimento humano e amadurecimento da fé na comunidade que cativa e cresce, cada vez mais, na acolhida e na fraternidade até o Reino definitivo, onde plenamente viveremos a acolhida do Pai. É assim que deveria ser, acolher com os olhos e os braços do coração, a exemplo d’Aquele que recebe a todos, inteiros, indistintamente, criando laços com o Reino!

 


Carla Regina de Miranda

Ricardo Diniz de Oliveira

Equipe do "Catequese hoje"

01.07.2012