Continuando nossas reflexões sobre a Bíblia, queremos acentuar a continuidade entre o Antigo (Primeiro) e o Novo (Segundo) Testamento. Tomemos o tempo necessário para ler e meditar os textos e saborear, em seguida, a beleza de expressão e a profundidade da mensagem.

 

O benefício da Lei


Talvez estranhemos o título deste texto. Como a Lei pode ser motivo de alegria? Lendo, na Bíblia, a promulgação da Lei e seus severos mandamentos, talvez sintamos um certo medo. “Não se pode fazer nada; tudo é pecado.” Muita gente acha melhor pegar logo o Novo Testamento, porque aí a Lei é o AMOR. O Decálogo parece ferir nossa liberdade, como se nós mesmos fôssemos os donos da nossa vida. Não é tanto assim!


Não existe nenhuma instituição, nenhum grupo ou associação sem que haja certas determinações. A convivência se tornaria um caos. Existem determinações numa família bem constituída, nas escolas, na sociedade, na Nação. As leis existem para garantir a todos seus direitos (e, em conseqüência, seus deveres). Elas nos protegem e criam um clima de segurança e bem-estar.


Nós pagamos altos salários aos nossos governantes para que eles formulem e corrijam as leis da nossa Nação. Nós mesmos reclamamos pedimos certas leis. Basta lembrar a “Lei da Ficha Limpa”. Lutamos para que fosse aceita e colocadaem prática. Exigimosmedidas sérias, caso não fosse cumprida. Queixamo-nos da impunidade quando notamos que certas infrações não são punidas. Quanta necessidade, por exemplo, da “Lei Seca” que grita para ser cumprida. E que faríamos sem a Lei do Trânsito? Quantos desastres por falta de responsabilidade nas estradas.


Não é difícil dizer que A LEI é um bem, um benefício para nós.

 

A LEI (TORÁ) no Antigo Testamento



O Povo da Bíblia também precisava de uma boa orientação na caminhada através da sua história. Eles chamavam essas orientações de TORÁ, que foi traduzida por LEI. Mas, esta não é bem a tradução certa. TORÁ quer dizer: orientação, ensinamento. Eles resumiam a Torá em 10 mandamentos, que eles chamavam de “As Dez Palavras de Deus”. E essas palavras foram anunciadas ao povo por Deus assim: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirou do Egito, da casa da escravidão” (Ex 20,1 e Dt 5,6). Depois, seguiam as orientações do Senhor.


Quando crianças, aprendíamos os “Dez Mandamentos”, mas não nos ensinaram estas palavras de Deus como introdução aos Mandamentos. Que pena! Pois, estas palavras tinham justamente um sentido muito profundo. Deus libertou seu Povo da escravidão do Egito para que se tornasse um povo livre. Mas, para continuar realmente livre, Deus fez suas orientações através de “dez palavras”. Nós as conhecemos.


Aqui aparece a idéia da Aliança. Deus fez uma Aliança com seu povo (cf Ex 19, 1-8). Deus e o Povo se tornaram parceiros para juntos criarem as condições para que o povo pudesse viver feliz.  (A Torá faz parte insubstituível da Aliança).


 


Vamos tomar a Bíblia na mão


Há duas versões das “Dez Palavras” na Bíblia: Ex 20,1-17 e Dt 5,6-21 (Lv 19 tem também uma boa versão).


Vamos ler Dt 5,1-22. Tomemos cada mandamento e reflitamos o que este mandamento nos diz HOJE. O que são, hoje, os ídolos que adoramos? Qual o sentido do descanso? O cuidado pelos pais idosos? O que mata, hoje, as crianças, os jovens, os pobres? Que significa respeitar os laços do matrimônio? Como entender o direito à propriedade, hoje? Como entender o “falso testemunho”, a falta de honestidade tanto na vida comum como na política...?

(Esta reflexão deve ocupar um bom tempo para mostrar como os dez mandamentos são atualíssimos em nossos dias)

 

As Nações Unidas publicaram, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Há alguma semelhança com os Dez Mandamentos, como fundamento para se andar na justiça e no direito, hoje?

 

Algumas observações


A Torá foi considerada escrita por Moisés. Falava-se da Lei de Moisés. Na realidade, não foi bem assim. Os Dez Mandamentos são como uma Lei Magna, mas ao redor dela foram feitas muitas determinações que são bem posteriores a Moisés. A Torá se desenvolveu com o passar dos tempos. Foi sempre adaptada e completada nas minúcias. Houve muitas prescrições a respeito do culto, de purificações cultuais, de alimentos puros e impuros, como celebrar as festas religiosas... Um mandamento muito forte era a circuncisão que tornava os homens membros do povo eleito, marcados no próprio corpo. Entrou muito legalismo e a lei, às vezes, escravizava as pessoas. Mais tarde, Jesus vai criticar certas leis, mas a Lei Magna das Dez Palavras sempre será mantida, ATÉ NOSSOS DIAS.

 

Saborear, interiorizar, rezar


O Povo da Bíblia canta os louvores à Lei. Em Dt 4,8, Moisés exclama: “Qual a grande nação que tem leis e decretos tão justos quanto toda esta Lei que hoje vos proponho?”


Um grande Salmo de 176 versículos, todos dedicados aos mandamentos, preceitos e estatutos da Torá, é o 119. Porém, vamos dar maior atenção ao Salmo 19. Este Salmo se divide em duas partes: 

A primeira parte vai dos vv.1 a 7. Deus ilumina o mundo com os astros e sustenta o firmamento com segurança. Observemos a linguagem poética. Vejamos a beleza dos vv. 5b-7. Leiamos o texto algumas vezes. Expressemos o nosso próprio louvor a Deus pela sua criação. 

(Podemos cantar: “Senhor meu Deus, quando eu maravilhado fico pensando nas obras de tuas mãos...)

 

Depois, reflitamos sobre a firmeza que a Lei de Deus nos dá (vv 8-11).Observemos a linguagem simbólica. Qual o versículo que nos fala mais?


Há muitos outros textos bonitos sobre a Palavra de Deus. Meditemos Dt 6,4-6; Ez 2,8b-3,4; Is 55,10-11. Conversemos com Deus sobre isto. Podemos terminar com o mantra “Tua Palavra é lâmpada para os meus pés, Senhor...”



Inês Broshuis

Comissão para Animação Bíblico-Catequética do Leste II

01.06.2012