“Quando o Deus da história vier, olhará nossas mãos” (Menapece)
22º Dom. Tempo Comum
O relato do evangelho deste domingo se abre com a apresentação dos personagens. Jesus aparece como ponto de referencia frente a dois grupos de indivíduos (“os fariseus e alguns letrados”) representantes do poder religioso oficial, ou seja, grupos de piedosos que exercem uma pressão religiosa sobre o povo em sua pretensão de submetê-lo a uma existência marcada pelo rigorismo religioso.
Aqui, no embate com Jesus, eles não fazem nenhuma referência ao anterior evento da “multiplicação dos pães” e nada dizem sobre a refeição de Jesus com a multidão; eles não se preocupam com aqueles que não comem, mas observam a compostura daqueles que comem. Sua visão míope foge do essencial para permanecer no periférico. Desviam a atenção para o terreno de seus domínios, uma moral superficial, descompromissada. Assim, pois, centram sua atenção em alguns dos discípulos para captar uma irregularidade em sua forma de comer, pois eles comem com “mãos impuras”.
Os líderes religiosos tem “mãos limpas” porque não as usam para o serviço aos outros; são “mãos assépticas” porque não se “contaminam” no contato com as pessoas. Eles se mostram incapazes de ver as mãos como mediação para uma nova humanização, reduzindo-as e atrofiando-as devido a seus esquemas religiosos e morais. Suas mãos carregam censuras, traficam destruição, encarnam a falsidade... Suas mãos são temidas porque fecham o futuro, excluem e espalham o medo, pesam porque julgam...
O coração é o lugar onde o ser humano se revela. As mãos são expressão daquilo que está presente no coração; um coração cheio de ternura, bondade, compaixão... se expressa através das mãos ternas, bondosas, compassivas, que praticam a partilha... Um coração cheio de violência, arrogância, ambições, malícias... se expressa através de mãos violentas, maliciosas, fechadas... As mãos... o espelho da alma. O ser humano vale pelo que vale seu coração, isto é, por aquilo que deseja, busca e ama desde o mais profundo de si mesmo. É no coração – no mais íntimo de seu ser – que o ser humano acolhe ou rejeita Deus e os outros. É o coração transformado que dirige a mão santificada, delicada. É o coração agradecido que transforma as mãos em instrumentos de graça.
Podemos fazer e dizer muitas coisas com nossas mãos. Admiramos as mãos dos artistas, as mãos curativas dos médicos, as mãos terapêuticas de quem transmite energia libertadora, as mãos de uma mãe que amassam o pão e acariciam, as mãos eloquentes dos mudos, as mãos calejadas do trabalhador, as mãos daqueles que abençoam, servem, partem e repartem...
As mãos estão sempre associadas à ação, como a cabeça à razão e o coração aos sentimentos. As mãos, portanto, adquirem uma infinidade de formas: mãos que levantam para abençoar, mãos que baixam para levantar o caído, mãos que se estendem para amparar o cansado. São como as mãos de Deus que criam, que guiam, que salvam... Quando estendemos os braços e as mãos e tocamos o outro espontaneamente descobrimos a compaixão e a riqueza que existe em todos nós.
As mãos são o instrumento mais universal de que o ser humano dispõe. Além de instrumento, as mãos são ainda meio de comunicação entre pessoas de línguas diferentes. Através das mãos comunicamos energia, nosso coração, nossos sentimentos... Benditas são as mãos que se abrem, que quebram resistências e preconceitos; benditas são as mãos carregadas de entusiasmo e que apontam para um horizonte. Somente uma mão aberta está em condições de fazer-se encontro, de apertar, de acolher, de cuidar; somente uma mão aberta se transforma em promessa de novo encontro.
Mas também, através das nossas mãos, podemos comunicar algo maior que nós e que não nos pertence. “Temos uma Mão na nossa mão”. Encontramos esta expressão em diferentes tradições religiosas: “a Mão de Deus”. Algumas vezes podemos nos sentir guiados, como se tivéssemos uma Mão pousada em nosso ombro, em nossa cabeça, nas nossas costas, para nos fazer avançar, para nos manter de pé. Na nossa mão há a Mão da Vida; podemos trabalhar e cooperar com esta Mão. Nossas mãos são o prolongamento da Mão providente e cuidadosa de Deus.
"Mãos abertas, estendidas, oferecidas
Olha tuas mãos. Toca-as com carinho: os dedos, a palma, o reverso. Quantas coisas podes fazer com as mãos.!!!
Mãos que compartilham, que acariciam, mãos unidas no trabalho solidário, esforço generoso.
Também mãos abertas, necessitadas, que expressam confiança ao dirigir-se a Deus na oração.
Ao orar elevamos nossas mãos ou as unimos. Estende tuas mãos ao Pai com confiança.
Tu... chamado a ser “a mão amiga de Deus”.
Nossas mãos... uma maravilhosa linguagem. Expressão de nosso calor de felicidade, alegria, amor, ajuda,
Temos mãos que saúdam ou aplaudem e felicitam o que é bom nos outros; mãos que perdoam ou se abrem para compartilhar.
Expressamos um gesto de perdão e reconciliação com o irmão mediante um aperto de mãos.
Mãos estendidas: Tua vida... para dar a mão, levantar o caído, sustentar o fraco, curar o enfermo, guiar o cego, compartilhar com o pobre, libertar o prisioneiro. Onde há um necessitado... uma mão estendida. Dar a mão... uma mão amiga. Sem paternalismo que alimenta o ego de quem dá e humilha a quem recebe.
Pensa em pessoas com quem tu podes ser mão estendida.
Mão unidas: Darás sentido à tua vida se constróis pontes de solidariedade e formas o círculo da fraternidade. A comunidade cristã... um conjunto de mãos unidas. Os cristãos curam feridas, enxugam lágrimas, repartem carícias, prestam serviços. Vives tu com as mãos unidas?
Mãos abertas: Chamado a oferecer tua mão aberta, amistosa, desarmada, pacífica. Não os punhos fechados. Mãos para acariciar. Mãos para proteger e cuidar, não para submeter. Mãos abertas para compartilhar. Mãos que não retém o que o irmão necessita. Abrir a mão, abrir o coração, abrir as entranhas de misericórdia. Caminhas tu pela vida com tuas mãos abertas?
Tuas mãos... sacramento de Deus. Fazem presentes e visíveis as mãos de Deus.
Tens no coração o Amor de Deus. A força que te leva a amar o pobre como Deus o ama.
Serás a mão amiga de Deus, sua mão boa e carinhosa, sua mão forte e libertadora, sua mão criadora de vida, sua mão generosa que protege e cuida a vida.
Mãos para unir-se, criar, curar, compartilhar... como as de Jesus.
Quando apresentas tuas mãos para bendizer o Senhor, ou abençoar os irmãos, não te preocupes se estão vazias ou cheias; apresenta-as desgastadas".
(cf. Revista Testimonio,n. 213)
Texto bíblico: Mc. 7,1-8.14-15.21-23
Dá-me, Senhor, mãos como as tuas:
Mãos ternas para acariciar epidermes e corações.
Mãos fortes para sustentar os que já vergam.
Mãos enérgicas para levantar os caídos e colocar de pé os paralíticos.
Mãos suaves para abrir os olhos dos cegos e dar luz aos que caminham tateando.
Mãos misericordiosas para curar toda dor e toda doença.
Mãos corajosas para desvelar a injustiça dos homens.
Mãos atrevidas para descobrir o que os corações ocultam.
Mãos acariciadoras para despertar fibras adormecidas na vida dos homens.
Mãos trabalhadoras para empregá-las onde faltam.
Mãos artesãs para modelar a tua imagem e semelhança. (Antonio González Paz)
Pe. Adroaldo Palaoro sj
Coordenador do Centro de Espiritualidade Inaciana
28.08.2012