“João é o seu nome” (Lc. 1,63)
Esta frase é uma mensagem da gratuidade e bondade de Deus. João é um nome muito especial. Nele são guardadas muitas e importantes lembranças. De fato, o nome “Yohanan” significa “Deus se mostrou misericordioso”. João é um dom gratuito de Deus, pois está além dos cálculos humanos; por isso, pertence plenamente a Deus. Nem sempre Deus elege o tradicional, o velho costume, o caminho trilhado. Agora nasce um tempo novo: o Espírito vai por caminhos novos, que nem sempre são fáceis de conhecer.
É Deus quem toma a iniciativa e chama pelo nome. O “nome” encerra toda a verdade da pessoa e, ao mesmo tempo, todo o mistério da sua relação direta com Deus.
Na Bíblia, o nome é algo dinâmico, é um programa de vida. A troca de nome implica uma missão que deve ser realizada pela pessoa (Gen, 17,5; Jo. 1,42).
Um nome novo: uma aventura que começa; uma história a ser construída.
O nome é ponto de partida e de chegada na relação com Deus.
Quando Deus nos chama à vida, Ele não revela logo tudo o que quer: apenas pronuncia o nome. A Palavra de Deus pronunciada sobre cada um de nós revela a nossa verdadeira e plena identidade. É preciso crescer na consciência de que o próprio nome tem uma história e manifesta uma identidade única, irrepetível, original. O nome próprio está relacionado com nossa realidade pessoal, responsável, criativa e livre. Essa identidade vai sendo elaborada ao longo de nossa história pessoal com os avanços e recuos, vitórias e fracassos, as alegrias e os sofrimentos... que vão pontilhando nossa existência e formando esse ser único que somos nós.
Cada um de nós descobre ser chamado em nossa vida. O fato de sentir, em nossos desejos, que estamos insatisfeitos, cultivar aspirações sempre novas, procurar entender quem somos, o que devemos fazer, o que nos torna realmente felizes..., no fundo é um contínuo chamado pelo nome.
Deus pede a cada mergulhar no “fluxo da vida”, evitando deixar que uma só das Suas palavras, do Seu chamado, possa cair no vazio. A dinâmica da relação com Deus passa através da minha história, das minhas alegrias, dos meus sofri-mentos, e das minhas perguntas: “Quem sou eu?”, “O que quereis de mim?”. Não posso permanecer indiferente. É preciso ter coragem de perguntar: “Quem me chama?” e “a quê me chama?”; pedir ajuda para conseguir entender, reconhecer, descobrir o próprio nome. Deus, no momento em que me chama pelo nome, me revela a mim mesmo. Assim, meu nome se torna a minha própria vida, o meu patrimônio existencial, a minha realidade.
A palavra “nome”, na linguagem bíblica, significa aquilo que torna a pessoa única. O nome é um símbolo que exprime a individualidade de cada um. No nome está toda a pessoa. O nome é a pessoa. Interessar-se por conhecer o nome é interessar-se pela pessoa; é o primeiro passo para o encontro pessoal; é pelo nome que nos identificamos. Os orientais, por exemplo, não dizem o seu nome a qualquer um. Só aos amigos, aos seus mais íntimos. Conhecer o nome de alguém, para eles, é conhecer a pessoa toda. Fazer saber o seu nome é prova de amizade.
Cada um de nós tem um nome, que é próprio, não comum. É de uma pessoa. Ele expressa o nosso ser, indica alguma coisa a realizar, uma vocação, um apêlo a responder.. Somos chamados. É isso que significa ter um nome. Nós realizaremos nossa vocação, sendo nós mesmos, com nosso modo de ser, nossas possibilidades, nossa originalidade. Ninguém a realizará por nós. Ser fiel ao nome é ser fiel à própria vocação.
Um nome, quando ouvido pela primeira vez, é apenas um “nome”. Mas, na medida em que se convive com a pessoa, o nome se torna a essência da pessoa, revela algo de essencial. No nome se espelha a experiência de uma força e de uma vontade. Pronunciado o nome, evoca-se a profundidade, o ser.
O nome é referência reveladora da verdade da pessoa. É a porta de entrada de cada história particular. Nos nossos encontros, no primeiro dia, carregamos todos um crachá com o nome. Nós chegamos e procuramos a pessoa pelo nome escrito no crachá, até encontrá-la. Na hora em que a encontramos, nós não olhamos mais o crachá, mas levantamos a cabeça e olhamos o rosto. E o nome que, antes, era só um nome, torna-se agora a janela de um rosto, a revelação de uma pessoa. Na medida em que se aprofunda a convivência com a pessoa, maiores serão o significado e a densidade do nome dela.
Quando um nome é pronunciado, ou invocado, a “energia potencial” existente é transformada em “energia vital”. Basta dizer o nome e uma realidade pessoal se coloca diante de todos. Há nomes que geram recordações, saudades, reavivam sentimentos, atualizam propósitos, despertam compromissos. Esta é a razão quando se diz que alguém “tem nome”, ou seja, uma pessoa “de nome”. Por outro lado, “sujar o nome” significa prejudicar o caminho de alguém, com maledicências e mentiras. Zelar pelo próprio nome é abrir caminhos para encontros que efetivem a experiência de pertença e de sólida referência a Deus. Honrar o próprio nome é tornar-se servidor, pela conduta, da experiência da fé.
É preciso cair na conta de que tenho um nome, sou pessoa única e com características muito particulares. Eu tenho uma dignidade imensa: sou imagem e semelhança de Deus. Com essas características eu devo me colocar a serviço dos outros. Meu nome secreto, Deus o conhece!... “Eu darei... um nome novo, que ninguém conhece senão aquele que o recebe” (Apc. 2,17).
Deus sabe o meu nome: “Eu te gravei na palma de minha mão” (Is. 49,16).
Deus nunca pode olhar Sua mão sem ver o meu nome. E o meu nome quer dizer: “EU mesmo”.
Deus garante a minha identidade: posso ser eu mesmo.
Deus investiu-se a Si mesmo em cada um de nós. Colocou-se no coração de cada um de nós.
Ter recebido um nome de Deus significa tomar um lugar na história, uma missão a cumprir.
Texto bíblico: Lc. 1,57-66
Retorna ao preciso momento em que Deus-Pai te criou e escuta, o nome que Ele pronunciou sobre ti. Como te chamou neste momento?
Agora, sabendo o que Deus-Pai pensa de ti, poderias descobrir o teu nome? A tua identidade? Quais os teus “sinais digitais divinos”?
Que resposta darias de ti mesmo, agora, se um repórter te entrevistasse e te perguntasse: “Quem és tu?”
O que colocarias na tua carteira de identidade que te diferenciasse de todas as outras pessoas?
Quais seriam os teus sinais digitais mais originais?
Ser “João” é ser graça amorosa de Deus na vida e na história de tantas pessoas.
Pe. Adroaldo Palaoro sj
Centro de Espiritualidade Inaciana
19.06.2012