Porque é que divinizamos artistas, desportistas, músicos, políticos, atores de cinema? Não sei bem explicar porquê. Teria que estudar alguma psicologia. Suponho que é uma questão de segurança: precisamos de nos agarrar a imagens de sucesso, precisamos de ter em quem depositar as nossas esperanças, alguém em quem projetar a nossa felicidade.
O problema é que colocamos as nossas esperanças em “cavalos errados“, ou seja: depositamos as nossas delicadas vidas em “cavalos” que não são os que verdadeiramente influenciam o nosso caminho. A divinização que façamos do Benfica, dos U2, do Obama ou do Brad Pitt, é como um balão de ar pronto a rebentar. Pior: divinizamos esses que nada têm a ver connosco e ignoramos outros que, esses sim, têm as nossas vidas nas suas mãos sem que nós o saibamos.
Um exemplo muito prosaico: nunca deixo de me impressionar quando olho para o meu Nokia 2630 de 66 gramas de peso. Fico a pensar: como é possível que esta caixinha me ponha em comunicação com outro aparelhozinho que está a não-sei-quantos quilômetros de distância? É um milagre da tecnologia! E a quem agradeço isso? Não sei. Um grupo de anônimos trabalhou centenas de horas para eu ter esta tecnologia à minha disposição. Apetecia mandar um cartãozinho a agradecer o trabalho que tiveram.
Mas o que é que isto tem a ver com o dia de Todos os Santos?
Tem tudo a ver. De todos os dias santos que celebramos ao longo do ano, o de Todos os Santos é o meu preferido. A razão é simples. Neste dia celebramos Todos os Santos. Não celebramos este ou aquele. Não celebramos um ou outro aspecto da vida da Igreja. Celebramos todas as pedras da Igreja. Celebramos os Benficas, os U2’s, os Obamas e os Brad Pitt’s da Igreja, mas celebramos sobretudo aqueles que ninguém conhece. Celebramos aqueles que ficaram na penumbra.
Neste dia celebramos os nossos santos pais, os nossos santos irmãos. Celebramos os nossos santos avós, os nossos santos amigos. Os nossos santos professores e colegas. Todos quantos tiveram uma santa paciência para nos aturar. Todos os que passaram por um santo sofrimento por causa de nós. Todos os que nos deram santas ferramentas para crescer. Todos os que nos ensinaram qualquer coisa sobre o santo caminho da felicidade.
Fazendo uns cálculos rápidos de cabeça, imagino que 99,99% dos santos morrem no anonimato mais silencioso. E, dos santos que tiveram influência direta nas nossas vidas é provável que 99,99% nunca tenham sido e nunca virão a ser canonizados. Por isso é tão bom celebrar a santidade no anonimato! Vivam Todos os Santos!
João Delicado
in: verparaalemdoolhar.blogspot.pt