Descobrir um tempo favorável à oração.
 
Entramos nestes 40 dias de travessia passo a passo, vamos colocar as nossas vidas em obras, em trabalhos, em arranjos, limpezas, sacudindo o pó, abrindo janelas e rasgando horizontes de forma a deixar entrar o ar novo do Espírito.
A igreja apresenta-nos três ferramentas muito úteis e que nos vão servir estrada fora. A primeira ferramenta é a oração. No nosso dia a dia que espaço damos à oração? Ás vezes são cinco, dez minutos muito negociados, muito regateados e, mesmo assim, a achar que estamos a perder tempo.
 
A verdadeira oração cristã é gratuita: é deixar que o Espírito venha em nós. É dizer: «Senhor eu estou aqui, à espera de nada», «estou à espera do que Tu me dês; à espera de Ti.»
 
Qual é a oração boa? Qual a melhor oração? Creio que nos ajuda pensar que a oração se define sobretudo pela quantidade. Oração boa é aquela oração longa, rezar bem é rezar muito. Lembro-me há uns anos de uma conversa com um jovem, ele estava numa etapa forte da sua vida e confessava-me numa linguagem um bocado áspera, por isso
não se choquem. Ele dizia-me: «Padre Tolentino eu rezo como um porco». Queria com isso dizer: «eu rezo tudo, eu não separo, eu não escolho nada; como um porco não escolhe o que vai comer; o que lhe põem à frente ele come». Os verdadeiros orantes são assim! Não podemos achar que quando acontecer-nos uma coisa especial então rezamos.
 
Não, faz precisamente o contrário: reza desde que acordas até que te deitas, reza tudo, reza o que está à tua frente, reza o que Deus te dá para rezar. Que estes 40 dias sejam assim tempos em que nos treinamos na oração frequente, na gratuidade, no encontro, no silêncio. A semente floresce em silêncio, as sementes que neste momento estão a florescer ninguém as escuta, assim é a semente do nosso coração.
 
Boa quaresma.
 
— Cardeal D. José Tolentino Mendonça