Chega a ser ridícula a forma como nos dispomos a viver a nossa vida. Estamos nos inícios de novembro e já as lojas se encheram de decorações de Natal, de saldos, de oportunidades “únicas” para não desperdiçar uma época que, claramente, tem tudo que ver com consumos e promoções. 

No entanto, quase arrisco dizer que o problema nem são as montras, as black Friday, as falsas promoções e os “imbatíveis” descontos. O problema é o “timing”. O momento em que tudo isto sucede e acontece. Será viável, ou apenas ridículo, viver o Natal em novembro? Que mensagem passa, para a dimensão mais interior do que somos, quando somos obrigados a pré-celebrar? A viver uma data antes de tempo? 

A verdade é que esta necessidade social de viver tudo antes de tempo nos coloca perante um cenário de ansiedade praticamente invisível. Se eu não me alegrar com as canções natalícias em novembro, se não gostar de ver tudo decorado para o Natal quando ainda agora comprei o material escolar, é porque estou a perder alguma coisa. É porque estou a ser deixado para trás. 

Não consigo compreender esta necessidade que temos de viver tudo antes de tempo. De viver para o futuro. Para o que ainda não aconteceu. Também me incluo no grupo de pessoas que o faz, mas gostava de deixar de o fazer. Gostava que o fizéssemos. Que pudéssemos ignorar essas decorações por um momento ( e essa imposição de viver o Natal mais cedo) e que nos pudéssemos focar naquilo que nos está a acontecer agora. Na pessoa de quem nos temos de despedir. Na pessoa a quem precisamos de apoiar. Na pessoa em quem nos apoiamos. No dia que nos deu aprendizagens, luzes ou desânimos. No momento que nos é dado a viver agora. 

Não estamos à frente do nosso tempo se quisermos viver tudo antecipadamente. Não somos melhores nem mais evoluídos. Somos, isso sim, menos conscientes do que realmente nos ocupa e nos acontece. 

Ocupa-te das tuas raízes e da tua árvore de dentro antes de te preocupares com a de Natal. Vê que folhas precisas de limpar, que áreas precisas de regar e concentra-te no tanto que há a fazer do lado de dentro.

Marta Arrais

09.11.22

In: imissio.net