Catequese sobre os Atos dos Apóstolos - 20
Amados irmãos e irmãs!
Hoje concluímos a nossa catequese sobre os Atos dos Apóstolos com a última etapa missionária de São Paulo: Roma (cf. At 28, 14).
A viagem de Paulo, que foi uma com a do Evangelho, é a prova de que os caminhos dos homens, se vividos na fé, podem tornar-se um espaço de trânsito para a salvação de Deus, através da Palavra de fé que é um fermento ativo na história, capaz de transformar situações e abrir caminhos sempre novos.
Com a chegada de Paulo ao coração do Império acaba a narração dos Atos dos Apóstolos, que não termina com o martírio de Paulo, mas com a semeadura abundante da Palavra. O fim da narração de Lucas, centrada na viagem do Evangelho no mundo, contém e recapitula todo o dinamismo da Palavra de Deus, uma Palavra imparável que quer correr para comunicar a salvação a todos.
Em Roma, Paulo encontra antes de tudo os seus irmãos em Cristo, que o acolhem e lhe infundem coragem (cf. At 28, 15) e cuja calorosa hospitalidade faz pensar em quanto a sua chegada era esperada e desejada. Depois foi-lhe permitido viver sozinho sob custodia militaris, ou seja, com um soldado a guardá-lo, ele estava na prisão domiciliária. Apesar da sua condição de prisioneiro, Paulo pode encontrar-se com os chefes dos judeus para explicar porque foi forçado a apelar para César e para falar com eles sobre o reino de Deus. Ele procura convencê-los sobre Jesus, a partir das Escrituras e mostrando a continuidade entre a novidade de Cristo e a «esperança de Israel» (At 28, 20). Paulo reconhece-se profundamente judeu e vê no Evangelho que prega, ou seja, no anúncio de Cristo morto e ressuscitado, o cumprimento das promessas feitas ao povo eleito.
Depois deste primeiro encontro informal no qual os judeus estavam bem dispostos, seguiu-se outro mais oficial durante o qual, por todo o dia, Paulo anunciou o Reino de Deus e procurou abrir os seus interlocutores à fé em Jesus, partindo «da lei de Moisés e dos Profetas» (At 28, 23). Visto que nem todos estavam convencidos, ele denuncia o endurecimento do coração do povo de Deus, causa da sua condenação (cf. Is 6, 9-10), e celebra com paixão a salvação das nações que se mostram sensíveis a Deus e capazes de escutar a Palavra evangélica da vida (cf. At 28, 28).
Neste ponto da narração, Lucas conclui a sua obra mostrando-nos não a morte de Paulo, mas o dinamismo do seu sermão, de uma Palavra que «não está acorrentada» (2 Tm 2, 9) — Paulo não tem liberdade de movimento, mas é livre para falar porque a Palavra não está acorrentada — é uma Palavra pronta para ser semeada a mãos-cheias pelo Apóstolo. Paulo faz isto «com o maior desassombro e sem impedimento» (At 28, 31), numa casa onde acolhe aqueles que querem receber o anúncio do Reino de Deus e conhecer Cristo. Esta casa aberta a todos os corações em busca é a imagem da Igreja que, embora perseguida, incompreendida e acorrentada, não se cansa de acolher cada homem e cada mulher com um coração materno para lhes anunciar o amor do Pai que se fez visível em Jesus.
Queridos irmãos e irmãs, no final deste caminho, vivido juntos seguindo a corrida evangélica no mundo, que o Espírito reavive em cada um de nós o chamado a ser evangelizadores corajosos e jubilosos. Também nós, como Paulo, sejamos capazes de impregnar as nossas casas com o Evangelho e fazer com que elas se tornem cenáculos de fraternidade, onde possamos acolher Cristo vivo, que «vem ao nosso encontro em cada homem e em cada época» (cf. II Prefácio do Advento).
Papa Francisco
Catequese na audiência Geral 15.01.2020