Catequese sobre os Atos dos Apóstolos - 8
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Continuamos a nossa catequese sobre os Atos dos Apóstolos. Diante da proibição dos judeus de ensinar em nome de Cristo, Pedro e os Apóstolos respondem com coragem que não podem obedecer àqueles que querem interromper o caminho do Evangelho no mundo.
Os Doze mostram assim que possuem aquela «obediência da fé» que depois quererão suscitar em todos os homens (cf. Rm 1, 5). Com efeito, a partir do Pentecostes já não são homens “sozinhos”. Eles experimentam aquela sinergia especial que os faz descentralizar de si mesmos e os leva a dizer: “nós e o Espírito Santo” (At 5, 32) ou “o Espírito Santo e nós”. (At 15, 28). Eles sentem que não podem dizer só “eu”, são homens descentralizados de si mesmos. Fortalecidos por esta aliança, os Apóstolos não se deixam intimidar por ninguém. Tiveram uma coragem impressionante! Pensamos que eram cobardes: todos fugiram, fugiram quando Jesus foi preso. Mas, de cobardes, tornaram-se tão corajosos. Porquê? Porque o Espírito Santo estava com eles. O mesmo acontece connosco: se tivermos o Espírito Santo em nós, teremos a coragem de ir em frente, a coragem de superar tantas lutas, não por nós mesmos, mas pelo Espírito que está em nós. Não retrocedem na sua marcha de intrépidas testemunhas de Jesus ressuscitado, como os mártires de todos os tempos, incluindo o nosso. Os mártires dão a sua vida, não escondem que são cristãos. Pensemos, há alguns anos — ainda hoje há muitos — mas pensemos, há quatro anos, naqueles cristãos coptas ortodoxos, verdadeiros trabalhadores, na praia da Líbia: todos foram degolados. Mas a última palavra que disseram foi “Jesus, Jesus”. Eles não desbarataram a fé, porque o Espírito Santo estava com eles. Estes são os mártires de hoje! Os Apóstolos são os “megafones” do Espírito Santo, enviados pelo Ressuscitado para difundir prontamente e sem hesitação a Palavra que dá a salvação.
E, de facto, esta determinação faz tremer o “sistema religioso” judaico, que se sente ameaçado e responde com violência e sentenças de morte. A perseguição dos cristãos é sempre a mesma: as pessoas que não querem o cristianismo sentem-se ameaçadas e por isso matam os cristãos. Mas, no meio do sinédrio, a voz diferente de um fariseu que opta por conter a reação dos seus: chamava-se Gamaliel, um homem prudente, «doutor da Lei, estimado por todo o povo». Na sua escola, São Paulo aprendeu a observar «a Lei dos Pais» (cf. At 22, 3). Gamaliel toma a palavra e mostra aos seus irmãos como praticar a arte do discernimento diante de situações que vão além dos esquemas usuais.
Ele prova, citando alguns personagens que se fizeram passar pelo Messias, que qualquer projeto humano pode inicialmente ser aprovado mas depois pode naufragar, enquanto tudo o que vem do alto e tem a “marca” de Deus está destinado a durar. Os projetos humanos falham sempre; têm um tempo, como nós. Pensai em tantos projetos políticos, e em como eles mudam de um lado para o outro, em todos os países. Pensai nos grandes impérios, pensai nas ditaduras do século passado: sentiam-se muito poderosas, pensavam que dominavam o mundo. E depois todas elas caíram. Pensai também hoje nos impérios atuais: eles desmoronarão, se Deus não estiver com eles, porque a força que os homens têm em si mesmos não é duradoura. Só a força de Deus dura. Pensai na história dos cristãos, também na história da Igreja, com tantos pecados, com tantos escândalos, com tantas coisas más nestes dois milénios. E por que não colapsou? Porque Deus está nela. Somos pecadores, e muitas vezes também damos escândalo. Mas Deus está connosco. E Deus salva primeiro a nós, e depois a eles; mas o Senhor salva sempre. A força é “Deus connosco”. Gamaliel demonstra, citando algumas personagens que se fizeram passar pelo Messias, que cada projeto humano pode primeiro ser aprovado e depois naufragar. Por isso Gamaliel conclui que, se os discípulos de Jesus de Nazaré acreditam num impostor, estão destinados a desaparecer; mas se eles seguem alguém que vem de Deus, é melhor desistir de lutar contra eles; e adverte: correreis “o risco de entrardes em guerra contra Deus!” (At 5, 39). Ele ensina-nos a fazer este discernimento.
São palavras serenas e clarividentes, que nos permitem ver o acontecimento cristão com uma nova luz e oferecem critérios que “sabem a Evangelho”, porque nos convidam a reconhecer a árvore pelos seus frutos (cf. Mt 7, 16). Elas tocam os corações e alcançam o efeito desejado: os outros membros do Sinédrio seguem o seu conselho e renunciam aos propósitos de morte, isto é, de matar os Apóstolos.
Peçamos ao Espírito Santo que aja em nós para que, pessoalmente e em comunidade, possamos adquirir o habitus do discernimento. Peçamos-lhe que seja sempre capaz de ver a unidade da história da salvação através dos sinais da passagem de Deus no nosso tempo e nos rostos dos que nos rodeiam, para que aprendamos que o tempo e os rostos humanos são mensageiros do Deus vivo.
Papa Francisco
Catequese na Audiência Geral 18.09.2019