Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Estamos a refletir nestas semanas sobre a oração do «Pai-Nosso». Agora, na vigília do Tríduo pascal, detenhamo-nos sobre algumas palavras com as quais Jesus, durante a Paixão, rezou ao Pai.
A primeira invocação acontece depois da Última Ceia, quando o Senhor, «levantando os olhos ao céu, exclamou: “Pai, chegou a hora! Manifesta a glória do teu Filho — e depois — manifesta a minha glória junto de ti, aquela glória que Eu tinha junto de ti, antes de o mundo existir”» (Jo 17, 1.5). Jesus pede a glória, um pedido que parece paradoxal quando a Paixão está para acontecer. De qual glória se trata? A glória na Bíblia, indica o revelar-se de Deus, é o sinal distintivo da sua presença salvífica entre os homens. Pois bem, Jesus é Aquele que manifesta de modo definitivo a presença e a salvação de Deus. E fá-lo na Páscoa: erguido na cruz, é glorificado (cf. Jo 12, 23-33). Nela Deus finalmente revela a sua glória: tira o último véu e surpreende-nos como nunca. Com efeito, descobrimos que a glória de Deus é toda amor: amor puro, louco e impensável, além de qualquer limite e medida.
Irmãos e irmãs, façamos nossa a oração de Jesus: peçamos ao Pai para que tire os véus dos nossos olhos a fim de que nestes dias, olhando para o Crucificado, possamos aceitar que Deus é amor. Quantas vezes o imaginamos dono e não Pai, quantas vezes o consideramos juiz severo em vez de Salvador misericordioso! Mas na Páscoa Deus elimina as distâncias, mostrando-se na humildade de um amor que pede o nosso amor. Por conseguinte, nós o glorificamos quando vivemos tudo o que fazemos com amor, quando fazemos tudo de coração, como se fosse por Ele (cf. Cl 3, 17). A verdadeira glória é a glória do amor, pois é a única que dá a vida ao mundo. Claro, esta glória é o contrário da glória mundana, que chega quando somos admirados, louvados, aclamados: quando estamos no centro da atenção. A glória de Deus, ao contrário, é paradoxal: nenhum aplauso, nenhuma audiência. No centro não está o eu, mas o outro: com efeito, na Páscoa vemos que o Pai glorifica o Filho enquanto o Filho glorifica o Pai. Ninguém se glorifica a si mesmo. Nós hoje podemos questionar-nos: “Qual é a glória para a qual vivo? A minha ou a de Deus? Desejo unicamente receber dos outros ou também doar aos demais?».
Depois da Última Ceia Jesus entrou no jardim do Getsemani; também aqui reza ao Pai. Enquanto os discípulos não conseguem permanecer acordados e Judas está para chegar com os soldados, Jesus começa a sentir «medo e angústia». Sente toda a angústia por aquilo que o espera: traição, desprezo, sofrimento, fracasso. Sente-se «triste» e ali, no abismo, naquela desolação, dirige ao Pai a palavra mais terna e meiga: «Abbà», ou seja papá (cf. Mc 14, 33-36). Na provação Jesus ensina-nos a abraçar o Pai, porque na oração a Ele encontra-se a força para ir em frente no sofrimento. Na fadiga a oração é alívio, recomendação, conforto. No abandono de todos, na desolação interior Jesus não está sozinho, está com o Pai. Nós, ao contrário, nos nossos Getsemanis escolhemos com frequência permanecer sozinhos, em vez de dizer «Pai» e confiar-nos a Ele, como Jesus, recomendar-nos à sua vontade, que é o nosso verdadeiro bem. Mas quando na provação permanecemos fechados em nós mesmos escavamos um túnel dentro de nós, um doloroso percurso introverso que tem uma só direção: cada mais no fundo de nós mesmos. O maior problema não é a dor, mas a maneira como a enfrentamos. A solidão não tem saída; a oração sim, porque é relação, é recomendar-se. Jesus recomenda tudo e entrega-se ao Pai, levando-lhe aquilo que sente, apoiando-se n’Ele na luta. Quando entramos nos nossos Getsemanis — cada um de nós tem os próprios Getsemanis ou os teve ou os terá — recordemo-nos disto: quando entramos, quando entraremos no nosso Getsemani, recordemo-nos de rezar assim: “Pai”.
Por fim, Jesus dirige ao Pai uma terceira oração por nós: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34). Jesus reza por quem foi maléfico com Ele, pelos seus algozes. O Evangelho especifica que esta oração acontece no momento da crucificação. Provavelmente era o momento da dor mais aguda, quando cravaram os pregos nos pulsos e nos pés de Jesus. Aqui, no momento mais doloroso, o amor atinge o ápice: chega o perdão, ou seja, o dom extremo, que interrompe o círculo do mal.
Rezando nestes dias o “Pai-Nosso”, que possamos pedir uma destas graças: viver os nossos dias para glória de Deus, ou seja, viver com amor; saber confiar-nos ao Pai nas provações e dizer “papá” ao Pai e obter no encontro com o Pai o perdão e a coragem para perdoar. Estas duas coisas caminham juntas. O Pai perdoa-nos e infunde-nos a coragem para poder perdoar.
Papa Francisco
Audiência Geral 17.04.2019